A influenciadora Ygona Moura morreu na noite de ontem, aos 23 anos, após passar dias internada por complicações causadas pela covid-19. Seu corpo foi sepultado hoje, às 11h da manhã, no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo.
Ygona viralizou nas redes sociais por compartilhar vídeos engraçados e também debochando sobre as aglomerações de que participava durante a pandemia, mas sua história é muito mais trágica do que parece.
Desafios da pandemia
Se assumindo gay ainda aos 16 anos, Ygona relatava que tinha dificuldade em encontrar emprego por ser negra e gorda. Além disso, vivia em pé de guerra com a mãe, que não a aceitava.
“Em casa, minha mãe diz que aceita minha opção sexual, mas já me negou até prato de comida só porque eu estava sem trabalho”, relembrou Ygona, em entrevista ao National Geographic, em dezembro.
Aos 20, se descobriu trans e acabou buscando a prostituição. “Ganhei minha primeira peruca, me montei e não parei mais. Foi um meio de aprender e me valorizar também, nunca acreditei que chamaria a atenção dos homens”, conta, na mesma entrevista.
Pouco antes do início da pandemia, tinha conseguido um emprego formal, e reestabeleceu o vínculo com a família. Mas, com o avanço do vírus, foi demitida e dizia que voltou a sofrer nas mãos de parentes. Até que uma situação a fez ser expulsa de casa, em novembro do ano passado.
Expulsão e tentativa de assassinato
Sem emprego ou perspectiva, Ygona foi se tornando conhecida por vídeos engraçados que compartilhava no Instagram. Em novembro do ano passado, porém, a crise atingiu seu pico quando ela foi expulsa de casa, após uma discussão com o irmão que, segundo ela, tentou matá-la por não a aceitar como trans.
Vocês quase me perderam. Quase eu morri, ia ser assassinada pelo meu irmão que não me aceita, tem inveja de mim. Minha mãe chamou a polícia e me obrigou a sair de casa, eu que era a vítima. Não sei o que fazer, se jogo tudo pro alto, se me jogo da ponte. Dá vontade de eu mesma me matar. Se eu tivesse uma arma agora, eu mesma atirava contra mim. Não precisava passar por essa humilhação. Queria ter a coragem que meu pai teve. Ele se matou enforcado.
Ygona, em depoimento nos Stories
Fama no Instagram
Graças ao desabafo, Ygona conseguiu chamar atenção nas redes sociais, onde foi organizada uma vaquinha para arrecadar dinheiro para ajudá-la fora de casa. Ela se mudou, então, para uma casa de acolhimento para mulheres trans e travestis, onde ainda vivia, antes de ser internada.
“Todas as mensagens que recebi me motivavam a seguir. Senti que tenho um futuro com a internet e isso me motivou muito a não desistir da minha vida. Quero ser influencer”, contou, em entrevista ao National Geographic.
Com o reconhecimento na internet, Ygona ultrapassou a marca de 100 mil seguidores e passou a ser chamada para eventos e viagens, além de divulgar alguns produtos e marcas no Instagram. Foi neste período, sempre frequentando diversas festas, que os vídeos debochando sobre as aglomerações surgiram e se espalharam.
Gente, que noite foi essa? Noite de aglomeração com sucesso! Saí da festa quase 8 horas da manhã. Aglomerei mesmo! E recebi bem para isso. Beijos para as más-línguas!
Muito antes de ser contaminada e acabar morrendo, Ygona sempre desmentia supostas notícias sobre sua morte. Em live com o ator Igor Cosso em novembro, ela contou justamente sobre quando inventaram que ela tinha contraído a covid-19 e morrido.
Sem nem mesmo saber, as notícias de sua internação viajaram o mundo, sendo exibidas em jornais da Europa e da América Latina. O fim trágico marca uma história que tinha acabado de começar.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba