Em entrevista ao programa Pânico no Rádio, Jovem Pan, a atriz Sandra Corveloni e a advogada e ativista, Marina Ganzarolli, falam sobre feminismo, machismo e a condição da mulher na sociedade atual.
Sandra Corveloni já encerrou sua participação em O Outro Lado do Paraíso, mas está longe de sair da boca do povo. Isso porque a atriz esteve em um dos núcleos mais dramáticos da trama global na pele de Lorena, mãe de Laura (Bella Piero), menina que foi estuprada pelo padrasto Vinicius (Flávio Tolezani) durante a infância. No início da história, ela fechou os olhos para a acusação da garota e defendeu o marido, atitude que dividiu a opinião do público. Enquanto alguns espectadores usaram as redes sociais para atacá-la por essa omissão, outros enviaram depoimentos revelando que se identificavam com a situação.
“Quando estava fazendo a construção da personagem, montei ela sendo fútil. Não saía do salão de beleza, ficava fofocava de todo mundo. Por isso fui muito hostilizada no Twitter. Mas nunca a critiquei. Defendo com unhas e dentes. Construí ela bem alienada propositalmente. Ela vivia em um conto de fadas. Me xingaram para caramba de ‘burra’ e ‘cega’. Outras coisas horríveis. Na internet falam qualquer coisa hoje em dia”, disse em entrevista ao Pânico. “Por outro lado, recebi depoimentos de mulheres que a entendiam e que se identificavam, pois estavam passando pela mesma situação. Imagina como deve ser difícil acreditar que o homem com quem você dividiu sua vida seja capaz de cometer uma barbaridade dessa”.
Sandra protagonizou a cena mais comentada da novela, que bateu diversos recordes de audiência. Foi o momento em que sua personagem, antes defensora do marido, percebe que a menina está de fato falando a verdade quando o acusa e presta um depoimento no tribunal decisivo para colocá-lo na prisão. E toda essa representação foi bastante elogiada não só pelo público, mas também por especialistas. Como a advogada, mestra em Sociologia Jurídica pela FDUSP (Faculdade de Direito do Largo São Francisco – USP) e cofundadora da Rede Feminista de Juristas Marina Ganzarolli, outra convidada da bancada.
“Isso é excelente. O cenário real é esse. O cara abusa e a sociedade xinga quem? A mãe. A mulher sempre é culpada. Nunca focam no agressor”, explicou sobre as ofensas recebidas pela atriz. “A novela é ótima porque traz esse debate à esfera pública. Quando falamos de estupro no Brasil falamos de abuso de crianças e adolescentes. Mais de 70% dos casos são com menores de 17 anos. Normalmente dentro do círculo afetivo, familiar e social da vítima. Achamos que o pedófilo tem cara, que é esquisitão. Mas é o parça do futebol, o colega de trabalho, o pai de família do culto. Não tem cara. E 50% são com menores de 13 anos. Por isso falamos que não faz diferença o lugar ou a roupa. O lugar mais perigoso para a mulher no Brasil é dentro do próprio lar”.
Durante a discussão, as duas convidadas entraram mais a fundo na questão e receberam uma série de questionamentos dos apresentadores do programa. Eles perguntaram sobre as diferenças existentes entre a paquera e o assédio e entre machismo e cavalheirismo, por exemplo. E colocaram um contraponto. Mesmo concordando com a ideia de que a sociedade é, sim, patriarcal e preconceituosa, criticaram o suposto “radicalismo” do feminismo.
“Existe radicalismo e ele é péssimo. Cada um faz o que quer da vida. Quer um enxoval rosa? Se joga. É sua família, sua escolha. A luta do movimento é para isso. Para a mulher escolher o que quer ser. Mas temos que entender de onde o radicalismo vem. Essa voz está silenciada há tanto tempo que vem com essa raiva”, disse Marina. “É muito simples. Você pode ser bela, recatada e do lar se quiser. Se não quiser não precisa. Pode rebolar a bunda no chão se quiser. Se não quiser não precisa. Pode ficar em casa cuidar dos filhos se quiser. Se não quiser não precisa. Não temos que ser o que a sociedade determina, mas o que a gente quer”, resumiu Sandra.
https://youtu.be/8QNVvMxI9Uw
Fonte: Jovem Pan
Créditos: Jovem Pan