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Tico sobre possível ação de Michelle: 'Ela tem que cobrar do Bolsonaro'

O roqueiro acha que essa atitude da primeira-dama é contraproducente, pois chama ainda mais atenção para a música e para o apelido

Irritada com as críticas que recebe desde que veio a público o depósito de R$ 89 mil que o ex-assessor de Flávio BolsonaroFabrício Queiroz e a mulher, Márcia, fizeram em sua conta, a primeira-dama Michelle Bolsonaro quer ir para cima daqueles que considera detratores. Um dos alvos, segundo reportagem da revista Veja, é a banda Detonautas, que lançou a música “Micheque”.

Na letra, os roqueiros cobram esclarecimentos sobre a situação: “Hey, Michelle, conta aqui para nós / A grana que entrou na sua conta é do Queiroz? / Hey, capitão, como isso aconteceu? / Levante a mão pro alto e agradeça muito a Deus”.

Assessores avaliam que cabe ação judicial por calúnia, injúria e difamação e cogitam processar a banda. Líder do grupo e autor da música, Tico Santa Cruz enxerga na ameaça um flerte com a censura. “Ela deveria cobrar do presidente uma explicação, para que deixe de ser o alvo, não cobrar de quem pergunta”, diz ele, nessa entrevista à coluna.

O roqueiro acha que essa atitude da primeira-dama é contraproducente, pois chama ainda mais atenção para a música e para o apelido

‘MICHEQUE’: Michelle Bolsonaro quer censurar música do Detonautas e revolta web; VEJA VÍDEO

UOL – Essa ameaça de processo é um tipo de censura?

Tico Santa Cruz – Uma coisa é pegar um texto que contém calúnia, difamação, injúria, algo reprovável, que de fato gera constrangimento, e entrar com uma ação. Outra coisa é pegar uma manifestação que não tem nenhuma dessas conotações e processar. Soa como intimidação.

Como a gente está num país democrático, você tentar de alguma forma intimidar, mesmo através de uma ação, um artista que fez um questionamento, que fez apenas uma pergunta, que não fez nenhuma afirmação e nem foi desrespeitoso, sinto como um flerte com uma atitude de censura, sim. É como se fosse um aviso.

Num país democrático, as pessoas têm o direito de questionar. Se eu estivesse afirmando que ela cometeu algum crime, tudo bem, eu entenderia. Mas não foi o caso.

As informações são de que a primeira-dama está especialmente incomodada com o apelido “Micheque”, que é o título da música.

Acho que a melhor forma de se desfazer um apelido é esclarecer a questão. Quando você esclarece algo que está te incomodando e dá uma resposta clara, objetiva e honesta, qualquer tipo de apelido ou insinuação perde a validade.

A própria música iria cair em descrédito, ia ter menos interesse das pessoas, se a resposta viesse a público. Pelo que vi na matéria da Veja, o que parece é que ela quer que o assunto dos cheques seja esclarecido, para que não seja mais envolvida nisso. Eu acho que está certa.

Ela tem que exigir que seja resolvida essa situação, para deixar de ser o foco. Mas enquanto não se esclarece a situação, como pessoa pública, de alguma maneira, é alvo de questionamento.

Nem fomos nós que demos esse apelido, foi uma hashtag do Twitter. O apelido é só uma forma que encontraram para chamar atenção para um caso que não está esclarecido. Basta esclarecer e acabou. A música vai ficar datada, ninguém mais vai querer falar sobre esse assunto e acabou.

Você se sente intimidado com essa possibilidade de processo?

A informação é que iriam agir através da Justiça, que é o caminho de um país democrático. Diante dos fatos e da situação, estou muito tranquilo porque fui bastante cuidadoso, minha intenção foi somente levantar a pergunta.

Tanto que não usamos nenhuma imagem da família, porque não é nossa intenção criar mácula para a imagem dela. Quem tem que resolver esse problema é o presidente que, de certa forma, envolveu ela nessa situação. A gente evitou usar imagem no nosso clipe e fazer menção até mesmo ao sobrenome, porque nossa intenção foi perguntar e não caluniar ou injuriar alguém.

Essa pergunta é importante do ponto de vista do interesse público. Nós, artistas, temos como usar a música para gerar o debate. Para a democracia é importante que esse espaço continue existindo.

Estrategicamente, se eu fosse o advogado dela eu repensaria essa ideia de processar um artista, porque isso acaba jogando mais luz na situação. A questão é a seguinte: explica de onde entrou o dinheiro. Se não é algo que seja um problema, explica que entrou por esse ou aquele motivo, e acabou.

Eu não tenho que ser processado porque perguntei.

De uma maneira geral, quanto mais uma pessoa reclama de um apelido, mais ela fica marcada.

Isso a gente aprende na escola. Quando alguém te dá uma zoada e você pega pilha é pior.

Espero que ela consiga esclarecer. Se o problema é do presidente, ele tem a obrigação de proteger a primeira-dama e esclarecer esse problema para evitar que ela seja exposta. Ela deveria cobrar do presidente uma explicação, para que deixe de ser o alvo, e não cobrar de quem pergunta

Fonte: UOL
Créditos: UOL