Nenhum juiz bateu o martelo sobre a motivação para uma série de assassinatos na Serra dos Órgãos (RJ) nos anos 1990. Mas violência sexual, racismo e fanatismo religioso são peças-chave na história dos “irmãos necrófilos”, acusados de matar e estuprar pelo menos oito mulheres, um homem e uma criança.
A história desses crimes estreia nesta terça (28) em cinemas drive-in no Brasil contada pelo filme “Macabro”, dirigido por Marcos Prado (“Paraísos artificiais”) e protagonizado por Renato Góes.
O longa foi eleito melhor filme pelo júri popular no Brooklyn Film Festival e na categoria “Dark Matters” do Festival de Austin, no Texas, dedicada ao cinema “não convencional”.
A história chocou o país após ser esmiuçada pela imprensa. Mas o que levou Prado a escolher contá-la foi uma experiência pessoal.
“Viajei para uma cidadezinha que estava naquele perímetro durante as buscas pelos irmãos. Fiquei cabreiro, peguei a faca da cozinha e botei ao lado da cama para conseguir dormir”, conta o diretor ao G1.
Anos depois, em um encontro com Rodrigo Pimentel, o ex-policial do Bope e um dos roteiristas de “Tropa de Elite” contou a Prado detalhes da busca de oito meses feita pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais na serra de Friburgo.
“Ele conheceu vários policiais que participaram ativamente. O Bope foi feito para subir favela, não para entrar em floresta e isso moldou o caso.”
Para contar essa história, o diretor optou por um suspense com ares sobrenaturais. Segundo Prado, os habitantes da região acreditavam que os irmãos, Ibrahim e Henrique, tinham poderes sobre-humanos.
“Tinham avistamentos dos garotos em lugares bem distantes em 24 horas, até a polícia achava estranho que alguém pudesse percorrer 40 km em um dia na mata fechada.”
Ele pensou em criar um terror, mas mudou de ideia quando foi procurado pelo advogado de Henrique, que se declarava inocente. O mais novo dos irmãos foi condenado a 49 anos de prisão baseado no depoimento de uma vítima, que mudou a versão inicial, quando disse que apenas Ibrahim a tinha estuprado.
“Agora temos um filme sobre justiça, sobre todas essas raízes que formaram aquela comunidade e formam o Brasil até hoje: racismo, fanatismo religioso e violência sexual.”
“Macabro” não é uma reconstrução fiel do caso. O policial Téo, vivido por Renato Góes, é inspirado em um policial do Bope que “confundiu furadeira com pistola” em 2010 e matou um inocente no Morro do Andaraí, no Rio, mas também nos policiais que conduziram as investigações dos irmãos.
Estreia em drive-in e prejuízo
O filme foi gravado em 2018 e estava previsto para estrear nos cinemas em setembro de 2020. Depois dos prêmios internacionais e do crescimento das obras sobre crimes reais no Brasil e no mundo, a equipe esperava uma bilheteria com lucro.
Agora, eles torcem para que o filme pelo menos se pague. A escolha de adiantar a estreia foi uma consequência do aumento das mortes e casos da pandemia no Brasil – e a falta de perspectiva de melhora.
O filme vai estrear no Belas Artes Drive-in, em São Paulo, e pode também ser exibido em outros seis cinemas drive-in pelo Brasil.
Fonte: G1
Créditos: G1