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Sula Miranda lança biografia e dispara: "Sou de outra geração, hoje os artistas são fabricados"

Sula Miranda lança biografia: "De Rainha a Serva de Deus"

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A música sertaneja mudou quando se mostrou na televisão de roupa justa e salto alto. Essa combinação, até então pouco vista, vendeu 1,7 milhões de discos e deu a uma jovem cantora uma vida de sucesso e glamour. Não, não estamos falando de Paula Fernandes.

Há 30 anos, Sula Miranda chegava ao estrelato, ao lado de Roberta Miranda, abrindo de vez as portas para as mulheres no sertanejo (introduzidas anos antes por Inezita Barroso e Nalva Aguiar). Com a alcunha de Rainha dos Caminhoneiros, ela andava de automóvel rosa e chegava a fazer show para cem mil pessoas. Mas até hoje ela se lembra do gosto amargo do sucesso. “As pessoas falam do vazio. Eu não tinha o vazio, eu tinha o cheio. Cheio de vaidade, de arrogância, de prepotência”, relembra.

Esta “Paula Fernandes dos anos 1980” foi também um dos primeiros nomes do chamado “new sertanejo”, que buscava elementos urbanos na música tradicionalmente de raiz. E até por isso ela acompanha e diz gostar dos novos rostos na cena –seja sua “discípula” Paula Fernandes ou os ditos sertanejos de balada, como Henrique e Juliano ou Lucas Lucco.

Sula admira, mas pondera. “Sou de outra geração. Hoje você sabe como funciona um sucesso de um artista, né? Entre aspas, ele é fabricado. Isso tem um custo. Se você não paga para tocar na rádio, pode ser a música mais bonita, não toca. Se amanhã um empresário ou um escritório quiser investir em mim, eu vou tocar tanto quanto nos anos 1980”, garante.

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Embora siga firme com a carreira musical, com um pé no gospel e outro no sertanejo, Sula não toca mais nas rádios. E isso não é mais motivo para preocupação. Sua biografia recém-lançada, “De Rainha a Serva de Deus” (Companhia Editora Nacional) revela uma Sula em busca do equilibro espiritual, mais do que as luzes da ribalta, que lhe brilharam forte em 1986 com o lançamento do primeiro disco, “Caminhoneiro do Amor”.

Ela relembra, na terceira pessoa, do sucesso que alcançou. “No auge da Sula, eu perdi referências. Você não sabe quanto custa um litro de leite. Tudo é normal, tudo você pode. A carreira artística te paparica demais. Todo mundo quer te agradar o tempo inteiro. Você não fica na fila, ganha um monte de coisas. Mas até onde isso é bom?”.

Rica aos 14

Sula Miranda se tornou financeiramente independente aos 14 anos. Ela integrava o grupo pop As Mirandas, ao lado das irmãs Yara e Maria Odete (mais conhecida como Gretchen, de outro reinado: a do Bumbum). Mais tarde, o trio virou o quarteto As Melindrosas, um estouro de vendagem na época: 1 milhões de cópias com o primeiro trabalho, “Disco Baby”.

Para ela, o fardo que a fama traz é um problema do passado. “Esses dias o Lucas Lucco deu uma declaração dizendo que estava assim [angustiado]. Puta cara lindo, jovem, bombando, foi para a Globo, fez e aconteceu, e não está feliz? Quando eu vi a declaração dele, eu me reconheci. É o que todo mundo busca o tempo inteiro, mas quando você alcança, você fala assim: ‘Tá, mas tudo isso é para quê?'”.

Mais do que a música em si, Sula escancara o passado no livro e revela outros dramas pessoais. Em 1990, seu marido, o empresário Luis Flávio Rocha, cometeu suicidou. Dois anos mais tarde, a cantora viu seu nome envolvido em um escândalo com Silvio Santos. Ela tinha acabado de ganhar um programa na emissora e, ao mesmo tempo, foi vendida como amante do apresentador. “Até provar o contrário, eu era a assassina e a pistoleira”, diz.

Na época, se recolheu com depressão. “Por ter essa paz hoje é que eu não tenho mais crises. Ficar mal por não cantar, não se apresentar? Não. É preciso sabedoria e equilíbrio”. Fazendo sucesso ou não, ela garante que não larga o sertanejo, mesmo com uma visão pessimista sobre a indústria musical. “O que eu conquistei foi com minha credibilidade. E se faço um programa de TV hoje, não pago um real”.
Créditos: UOL