“Raça desgraçada”. Essa foi uma das expressões usadas pelo apresentador Sikêra Jr na semana passada para atacar a comunidade LGBTQIA+. Em um discurso de ódio exibido em rede nacional na última sexta-feira (25), no programa Alerta Nacional, na Redetv, o apresentador disse, também, que homossexuais “promovem safadeza e querem acabar com a família” entre outros absurdos.
Discurso de ódio a um grupo não pode passar impune. E não passa, não hoje em dia. No mundo que, para pessoas como Sikêra ficou chato demais (eu acredito que ficou melhor) existe uma sociedade organizada que não aceita mais esse tipo de coisa impunemente. Pois bem, em quatro dias, Sikêra perdeu grande parte dos seus patrocínios por pressão. O dinheiro pesa, né? Sim, e por isso, em seu programa de ontem, ele “se desculpou”.
“Eu preciso reconhecer que me excedi, no calor do comentário, defendendo a inocência de crianças que eu sempre defendi. Posso ter usado palavras que me arrependo, sou humano. Errei, erro e vou errar”. Essa foi a “desculpa” proferida por ele ontem no meio aos contratos quebrados.
É óbvio que ele só pediu desculpas porque começou a perder dinheiro e viu sua carreira em risco, além da possibilidade de processos. E, mesmo assim, ninguém (nem as marcas que ainda o apoiam) deve pensar que essas desculpas resolvem alguma coisa.
Homofobia não é “excesso”, é crime. Sim, desde 2019, homofobia é crime equiparado ao racismo. Isso significa que quem pratica homofobia pode ficar preso por até cinco anos. Falar em “excesso” pelo uso de algumas palavras seria o mesmo que alguém dizer que roubou “em excesso”.
E, claro, ele não parece nem um pouco arrependido. Tanto que continua insistindo que quer proteger as crianças. Como assim?
O ataque de ódio do apresentador aconteceu após ele se revoltar com uma propaganda da rede Burger King, que tinha como tema “Como ensinar LGBTQIA + para crianças”. Na propaganda, fofa e nada pesada, crianças falam mensagens de afeto como “para mim todo mundo pode amar todo mundo” ou “quando eu vejo dois homens de mão dada, eu penso ‘menino gosta de menino'”.
A propaganda, feita com filhos de famílias diversas, não faz mal nenhum às crianças. O que deve assustar crianças é discurso de ódio onde seres humanos são chamados de “raça desgraçada”.
No caso das marcas que rompem contratos com o apresentador, a opção é óbvia. Ser associado a discurso de ódio em um mundo onde a pluralidade conta cada vez mais, definitivamente, não é um bom negócio. Os “Sikêras” da vida não vão mudar, mas podem pelo menos pensar de novo antes de fazer discurso de ódio na TV. É pouco, mas já é alguma coisa.
Fonte: Uol
Créditos: Uol