Os Jogos do Rio se transformaram em uma bem-vinda manifestação de amor. Nunca uma edição teve a participação de tantos atletas assumidamente gays
DIGO SIM O atleta britânico Tom Bosworth pede a mão do noivo, Harry Dineley, na praia de Copacabana
O ideal olímpico de harmonia entre povos ganhou um companheiro de peso nos Jogos do Rio de Janeiro: a tolerância com a orientação sexual. Nunca uma edição das Olimpíadas viu tanta participação de esportistas assumidamente gays. Ao menos 51 atletas que competiram na capital carioca se declaram homossexuais (confira quadro). Nas áreas comuns da Vila Olímpica, nas redes sociais, nos sites noticiosos, na tevê, nos jornais, nas quadras, nas pistas e nos campos de competição, as manifestações de amor ocorriam abertamente. Em uma das cidades preferidas pelo público LGBT na América do Sul, essas declarações e aparições públicas chamaram a atenção pela razão certa: o entendimento de que o preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais e transexuais não pode mais ser aceito.
REPRESENTADOS
Olimpíada do Rio é a mais tolerante de todos os tempos
> Ao menos 51 atletas que competiram no Rio de Janeiro se declararam publicamente homossexuais
> Em Londres-2012, apenas 23 esportistas eram assumidamente gays
> Grã-Bretanha, Estados Unidos e Holanda são as delegações com maior número de atletas LGBT no Rio: 8 cada
> O Brasil tem 6 atletas que dizem publicamente ser gays
> Em relação ao total de atletas que participam dos Jogos (11.551), a proporção de homossexuais assumidos é de 0,44%
Fonte: Tony Scupham-Bilton, historiador olímpico
Na delegação brasileira, o caso mais icônico é o da judoca de ouro Rafaela Silva, que há três anos namora a estudante de educação física Thamara Cezar. “Ela foi fundamental durante toda a minha preparação”, afirmou a atleta após a conquista. Mayssa Pessoa, goleira da seleção brasileira de handebol, também namora uma mulher, a modelo canadense Nikki Shumaker, que em várias ocasiões manifestou apoio à parceira nas redes sociais e esteve pessoalmente ao lado da atleta no Parque Olímpico.
ROMANCES Da esq. para a dir., o esportista chinês Qin Kai pede a namorada He Ze em casamento; o britânico Tom Daley e o namorado Dustin Lance Black; a goleira de handebol Mayssa Pessoa com a companheira, a modelo canadense Nikki Shumaker; e Marjorie Enya abraça a jogadora de rúgbi brasileira Isadora Cerullo após pedido oficial
DEMONSTRAÇÕES DE AFETO
A organização dos Jogos aderiu à campanha. Na cerimônia de abertura, a modelo transexual Lea T liderou o desfile da delegação brasileira. O Comitê Olímpico Internacional publicou reportagens no site oficial exaltando o caráter tolerante do evento e abriu espaço para um pedido de casamento em plena premiação do rúgbi feminino. A proposta, aceita, foi feita pela voluntária Marjorie Enya à jogadora de rúgbi brasileira Isadora Cerullo. Poucos dias depois, foi a vez do atleta britânico Tom Bosworth pedir a mão do noivo, Harry Dineley, na praia de Copacabana. “Demonstrações de carinho e pedidos de casamento entre pessoas do mesmo sexo em um evento que envolve o mundo inteiro mostram que existe maior perspectiva de aceitação”, afirma Rubens Beçak, coordenador do Núcleo dos Direitos da Universidade de São Paulo. Para a causa gay, não poderia haver melhor oportunidade do que uma Olimpíada, o evento mais global do planeta. Nesse aspecto, os Jogos do Rio ganharam a medalha de ouro.
Fonte: ISTOÉ