Talvez você não saiba fazer crochê. Eu também não sei. Cheguei até fazer um cursinho na igreja perto de casa quando criança, mas nunca saí dos primeiros pontos, os mais básicos. Não havia meninos lá, todos estavam na rua jogando futebol, bolinha de gude ou brincando de carrinho de rolimã. Minhas colegas eram apenas senhorinhas do bairro, donas de casa e adolescentes que seguiam os conselhos das mães e iam aproveitar as aulas grátis para aprender coisas que as mulheres “tinham que saber” se quisessem casar. Muitas dessas mulheres também frequentavam as aulas de pintura e passavam as tardes desenhando florzinhas em panos de prato, que depois eram vendidos nos bazares beneficentes da igreja ou levados para casa para integrar o enxoval. Nenhum menino era convidado ou estimulado a colocar os pés nessas aulas, claro, elas eram “coisa de mulher”.
Rodrigo Hilbert é fruto desse mundo onde eu, você e muitos de nós estamos inseridos desde a infância. Deve ter ouvido muito sobre “coisas de menina” e “coisas de menino” mas, em algum momento, deixou esses estereótipos entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, arregaçou as mangas e decidiu que iria fazer crochê sim, iria cozinhar sim, arrumar a própria casa, a própria cama e, por que não? Iria cuidar dos próprios filhos. Talvez ele venha de uma família que venha desconstruindo esses clichês de que a casa e a família são de responsabilidade exclusiva da mulher, que “nasceu para isso” – como se existisse um gene exclusivamente feminino que capacitasse as mulheres para tarefas dificílimas como trocar fralda, tirar a toalha molhada de cima da cama ou fazer uma panela arroz.
As redes sociais logo elegeram Hilbert como o meme da vez. As mulheres o veem como “sonho de consumo” e “homão da porra”. Os homens, como algo a ser combatido, mesmo que de brincadeira. O cearense Rodrigo P.H Santos fez um post hilário, que logo viralizou, pedindo que Hilbert “pare” de ser isso tudo. “Seja menos. Porque a gente é feio, mas estamos tentando vencer pelos lados”, brincou.
Brincadeiras à parte, a questão é: Por que tanto alarde quando um homem cuida da própria casa e dos próprios filhos? Por que é visto como um super-homem, com poderes especiais, quando faz aquilo que as mulheres fazem todos os dias, sem contar com a cobertura dos sites de celebridades ou a visibilidade do Twitter, Facebook e Instagram? Será que o Rodrigo Hilbert teria de “ser menos” ou vocês, homens, teriam de ser mais e assumir com a gente todas as tarefas do dia a dia?
Claro que sabemos que Rodrigo Hilbert é um homem branco, loiro, bonito, rico, privilegiado que conta com todas as facilidades que o dinheiro e a fama podem conceder. Claro que também sabemos que, muitas vezes, as coisas não são exatamente aquilo o que parecem e que as fotos são posadas, editadas e photoshopadas para nosso consumo. Mas, mesmo assim, acho o exemplo dele muito válido e proveitoso porque destrói um dos maiores mitos da contemporaneidade: o de que homens que cuidam da casa e dos filhos são “menos homens” ou pior, “não são homens”. Ele é casado com a Fernanda Lima, uma das mulheres mais lindas, inteligentes e desejadas do país e isso, segundo a régua de masculinidade que vocês, homens, inventaram, mostra que ele é muito macho. Super macho. Opa, meus caros, perderam mais um argumento. A partir de agora, se não levantarem a bunda da cadeira para cuidar da própria vida e dos próprios filhos vão ter de admitir que é por preguiça mesmo. Puro comodismo.
As redes seguem debatendo o assunto desde Rodrigo postou, em seu Facebook, a foto da casinha de madeira que construiu, com ajuda de funcionários do sítio, para os filhos gêmeos. Assim foi quando postou a imagem fazendo crochê, que ilustra este post, quando matou um novilho com as próprias mãos, depois cozinhou e serviu, no melhor estilo homem das cavernas (enquanto você tem de brigar com seu marido para dar um “pulinho” no açougue para comprar meio quilo de filet mignon, hein?). A cada foto, as redes vêm abaixo e é engraçado de ver. Gostem ou não, Rodrigo Hilbert abriu um novo nicho, elevou os padrões, não adianta chorar, homens do meu Brasil. Merecemos isso, queremos isso e agora esse produto está disponível no mercado. Vocês têm que se adequar, ou perderão espaço. Não entenderam? A querida redatora publicitária, Raquel Novaes, explica para vocês, diretamente do Twitter.
Chorem menos e cozinhem mais. Fica a dica.
Fonte: Estadão