A foto de uma menina de 2 anos com os cabelos alisados causou polêmica nas redes sociais nesta semana. Publicada por uma cabeleireira em seu perfil no Facebook, a imagem mostrava a pequena com os cabelos crespos, ao natural, ao lado de outra versão, da mesma criança com os fios alisados. A ideia era promover um novo produto químico. “Em breve, mais um lançamento da Eiffel Cosméticos para crianças que querem soltar os cachos ou até mesmo alisar. A Júlia tem 2 anos e foi nossa modelo”, escreveu.
O post, então, passou a ser compartilhado por vários internautas, muitos deles, pais e mães. As críticas eram sobre a promoção de um padrão estético questionável para uma criança tão nova. Ao alisar os cabelos de uma menina, será que não estamos passando para ela a ideia de que seus fios em forma natural estão fora do que a sociedade aceita como “bonito”? Será que uma química tão potente, capaz de alterar a estrutura dos cabelos não prejudica a saúde, deixando, assim, a estética acima do bem estar de uma criança?
A empresa responde
Diante da discussão, a Eiffel Cosméticos, citada no post como responsável pelo lançamento do produto voltado para o publico infantil pela cabeleireira, resolveu se poscionar. Em uma nota publicada na página da empresa no Facebook, eles explicaram: “Em resposta ao que foi publicado na internet envolvendo a marca Eiffel Cosméticos, gostaríamos de fazer os seguintes esclarecimentos: a Eiffel Cosméticos não comercializa e jamais irá comercializar qualquer tipo de produto que não seja rigorosamente testado e, posteriormente, aprovado pela ANVISA. Todos os nossos produtos são regulamentados e utilizados por profissionais em todo o país. (…) Todos os lançamentos da Eiffel Cosméticos são publicados primeiramente em nossos canais oficiais de comunicação. A publicação realizada pela profissional cabeleireira, sugerindo a utilização de um suposto lançamento Eiffel, foi equivocada. Logo que tomamos conhecimento da publicação, imediatamente solicitamos a retirada do conteúdo do Facebook da cabeleireira. Diversas marcas de cosméticos no Brasil e no exterior possuem produtos para alisamento infantil, com diferentes ingredientes, formulações e métodos de aplicação. Desde que utilizados com responsabilidade, seguindo as devidas recomendações, tais produtos não causam danos à saúde. Caso contrário, esses produtos não seriam aprovados pelos órgãos competentes. (…) Respeitamos todas as manifestações geradas, pedimos desculpas por qualquer inconveniente (totalmente alheio a nossa vontade e fora do nosso controle), entendemos as diferentes opiniões e somos absolutamente contra qualquer tipo de preconceito. Por isso, comercializamos produtos para todos os tipos de cabelo”.
Auto-estima em perigo
A indignação das pessoas faz sentido. Ao alisar o cabelo de uma menina, estamos transmitindo a ela a mensagem de que a maneira como ela nasceu não é bem vista e que ela precisa sofrer essa transformação para ser aceita e enquadrada em um certo padrão. “A partir do momento em que um adulto define aquela condição, ele está dizendo para a criança que seu traço real não é certo e que ‘há um jeito melhor’ de ser”, diz Patrícia Bader, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo (SP).
Algumas mães dizem que as próprias crianças pedem para alisar o cabelo. Porém, mais do que filtrar os desejos dos filhos, os adultos devem encorajá-los a se valorizarem e a amarem seu corpo e as suas características; e não incentivá-los a achar que a maneira como são não está dentro do padrão que é estabelecido pela sociedade, pela indústria ou pela mídia. “Uma criança de dois anos está aprendendo a falar e, logo, não tem reportório verbal para fazer um pedido sofisticado como este”, diz Patrícia. Para ela, o fato de uma criança não gostar do cabelo é mais uma condição imposta do que um descontentamento dela mesma.
Saúde em jogo
O contato de crianças com alisamentos ou com outros tratamentos que tenham produtos químicos em sua composição, traz uma série de riscos à saúde e vai contra as recomendações da Sociedade Brasileira de Medicina. “O cuidado com as crianças deve ser ainda maior, pois seu sistema imunológico ainda não está completo”, diz a dermatologista Marta Aparecida Valentina da Silva, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “A região do couro cabeludo da criança é muito vascularizada e absorve as substâncias nocivas em grande quantidade, o que leva ao risco de intoxicação, dermatite de contato e quadros alérgicos”, explica a médica.
Isso sem falar que os cabelos das crianças, nessa idade, ainda podem sofrer transformações. É mais ou menos aos 2 anos que os fios começam a ser substituídos pelos definitivos. Por isso, os cabelos enrolados podem ficar lisos e vice-versa.
Por Giulia Dahdah e Vanessa Lima para revistacrescer.