A divulgação de cenas de sexo na TV, por diversas vezes acaba influenciando muitos casais. Por isso, as ilustrações do sexo na mídia podem criar a mensagem de que o sexo pleno e ardente tem como característica a espontaneidade.
Em estudos realizados por um grupo de pesquisa do Laboratório de Saúde Sexual e Relacionamentos da Universidade de York, no Canadá, recrutou 303 indivíduos e 102 casais dos Estados Unidos e do Canadá, foi questionado as pessoas que mantêm parceiros sobre suas preferências sexuais, e a maioria delas disse acreditar que o sexo é mais prazeroso quando acontece espontaneamente, do que quando é planejado com antecedência.
Abaixo, trouxemos um artigo com uma análise completa, divulgada pelo site BBC News, publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
O mito da espontaneidade
Mas o sexo “impulsivo” realmente é mais satisfatório? A espontaneidade pode ser sinal de paixão para algumas pessoas, mas valorizá-la pode ter suas desvantagens.
O desejo sexual pode ser intenso na fase inicial do relacionamento, quando o sexo pode ocorrer regularmente sem ser planejado. Mas o desejo e a frequência do sexo costumam diminuir com o passar do tempo.
Casais que estão há muito tempo juntos e esperam que os dois parceiros tenham um surto simultâneo de desejo podem acabar fazendo sexo raramente.
O planejamento pode ser essencial para o sexo, considerando as outras pressões sobre o nosso tempo – mesmo se programar um encontro sexual for considerado menos sexy.
Saber quando ocorrerá o sexo também pode ajudar as pessoas a se prepararem (com roupas, lubrificação e privacidade), o que pode estimular o ato.
Mesmo com o ideal de espontaneidade que permeia a cultura, a psique e a mídia americana, poucas pesquisas haviam examinado como o sexo planejado se compara com o sexo “ideal”, espontâneo.
Perguntamos aos participantes o quanto eles concordavam com declarações como “O sexo com meu parceiro é mais prazeroso quando acontece espontaneamente” e “Prefiro saber antecipadamente quando faremos sexo novamente”.
Perguntamos então se a sua mais recente experiência sexual havia ou não sido planejada.
Nós perguntamos o grau geral de satisfação sexual nos relacionamentos e durante a experiência sexual mais recente. E também acompanhamos as atividades diárias dos casais por um período de três semanas.
Espontaneidade e satisfação
Nos dois estudos, as pessoas confirmaram a crença de que a espontaneidade é o ideal. Mas, ao contrário dessas convicções, o sexo espontâneo não é necessariamente mais prazeroso.
No nosso primeiro estudo, as pessoas mais fortemente alinhadas com o ideal de espontaneidade, de forma geral, relataram ser sexualmente mais satisfeitas quando sua experiência sexual mais recente era considerada espontânea. Mas elas não a achavam mais prazerosa do que o sexo planejado.
O sexo planejado, às vezes, podia ser considerado menos sexy, mas somente para as pessoas que acreditavam que aquele não é o ideal.
Considerar uma experiência sexual recente como tendo sido planejada trouxe, de forma geral, menos satisfação sexual – mas os resultados entre as pessoas firmemente convencidas de que o sexo planejado é prazeroso foram diferentes.
E um dado interessante foi que cerca de uma em cada cinco pessoas mencionou que seu último encontro sexual foi planejado.
No segundo estudo, nós acompanhamos as experiências sexuais dos casais ao longo de 21 dias.
E não encontramos diferenças na satisfação sexual quando o sexo foi considerado espontâneo ou planejado, mesmo entre as pessoas que acreditavam no ideal do sexo espontâneo.
Nós também quisemos ter uma ideia de como os participantes achavam que a espontaneidade e o planejamento colaboravam para o seu prazer sexual.
É interessante observar que as pessoas realmente afirmaram que a espontaneidade aumenta sua excitação sexual, paixão, significado e desejo. Mas muitas pessoas também mencionaram que o planejamento pode criar antecipação e desejo pelo sexo.
E, embora algumas pessoas mencionassem que o sexo planejado poderia agregar um elemento de pressão, a espontaneidade nem sempre foi a receita para o sexo ardente.
Alguns participantes responderam que, quando o sexo não era planejado, às vezes elas não tinham tempo suficiente para as preliminares, para deixar de lado as distrações mentais ou para garantir a privacidade.
Percepções apaixonadas
Uma razão que leva as pessoas a valorizar a espontaneidade é a sua relação com a paixão e o desejo mais autênticos, relembrando os primeiros estágios do relacionamento.
Se for este o seu caso, lembre-se de que, mesmo no início do relacionamento, o sexo provavelmente era mais planejado do que você conseguia perceber.
Basta pensar em quanto planejamento foi necessário para criar datas românticas ou divertidas, preparando-se antecipadamente para o sexo com roupas provocantes ou sedução pessoal e nos esforços para encontrar-se naqueles primeiros dias do seu relacionamento.
Por outro lado, o sexo planejado pode ser associado à responsabilidade, dever e obrigação que, como sabemos, vão contra o erotismo e não fazem parte dos grandes romances.
Mas nossas pesquisas demonstram que valorizar o sexo planejado pode ajudar os casais a manter a satisfação sexual, preservando sua predisposição em relação ao sexo.
É especialmente importante ter isso em mente quando os parceiros amorosos atravessam períodos em que a espontaneidade é algo difícil, como períodos atribulados no trabalho e o nascimento de um novo filho.
O sexo intencional
Médicos que atendem casais com dificuldades de conexão sexual vêm tentando, há muito tempo, questionar as noções de espontaneidade sexual, para que seus pacientes sejam mais intencionais nos seus relacionamentos.
A maioria das coisas importantes que fazemos na vida é planejada antecipadamente.
Relembre as suas últimas férias, por exemplo. Provavelmente, você planejou a viagem com antecedência, mas nem por isso ela deve ter deixado de ser bastante agradável.
Se você e o seu parceiro valorizam o sexo, o planejamento pode ajudar a priorizar a sua conexão sexual.
Às vezes, as estrelas podem se alinhar e acender o impulso da paixão, mas ser intencional, planejando o tempo para o sexo, também pode proporcionar encontros sexuais prazerosos.
Planejar não quer dizer que o sexo precisa ser especificado em um cronograma, nem que você deva enviar um convite para o parceiro colocar na agenda.
Pode ser simplesmente comunicar-se com seu parceiro para saber quando é mais provável que surja a motivação, como depois de compartilhar intimidade emocional ou durante períodos menos estressantes no trabalho – e concordar em reservar tempo.
Com muitas pessoas ainda trabalhando em casa ou de forma remota, pode ser algo simples como alterar seu horário de trabalho para poder desfrutar do prazer à tarde.
Ou, em alguns casos, você e o seu parceiro podem estar mais interessados em fazer sexo de manhã ou à tarde, e não à noite, quando vocês estão prontos para dormir depois de um jantar.
Para a maioria dos casais, o sexo é uma forma de manter e fortalecer a conexão. E, ao longo do tempo de relacionamento, é algo que pode precisar de planejamento, como os encontros à noite ou as saídas no fim de semana.
A boa notícia é que o sexo planejado pode ser tão prazeroso quanto o impulsivo.
* Katarina Kovacevic é estudante de PhD em psicologia social e da personalidade da Universidade de York, no Canadá.
Amy Muise é professora de psicologia da Universidade de York, no Canadá.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
Fonte: Polêmica Paraíba com BBC
Créditos: Polêmica Paraíba