Microcefalia

Pesquisa identifica 574 casos de microcefalia severa no país

Número é 66% dos registros em que a malformação foi confirmada

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Em pelo menos 66% dos 863 casos confirmados de microcefalia no país, a malformação cerebral foi classificada como severa, o que compromete gravemente o desenvolvimento da criança. Para nascidos no tempo regular, a partir da 37ª semana de gravidez, o critério corresponde a uma circunferência cefálica igual ou menor que 30,3 centímetros para meninas e 30,7 para meninos. Nos casos graves identificados, a média foi de 29 centímetros.

A informação inédita de que 574 casos, entre os monitorados pelo governo desde que a epidemia foi declarada no ano passado, são de microcefalia severa faz parte de um estudo do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil. A pesquisa foi divulgada na publicação científica “Relatório semanal de morbidade e mortalidade” (MMWR, na sigla em inglês) do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Entre outros objetivos, os pesquisadores queriam checar a real dimensão da explosão de casos nos últimos meses. Contestações sobre o tamanho da epidemia surgiram nos meios científicos e acadêmicos. A suspeita é que o aumento exagerado de casos poderia ser reflexo de uma eventual subnotificação histórica, uma vez que a malformação só passou a ser de registro obrigatório no país no fim do ano passado.

Até então, a notificação de casos de microcefalia, embora não fosse compulsória, era feita no Sistema Nacional de Nascidos Vivos (Sisnac). Só que o banco de dados usa parâmetros mais rigorosos para caracterizar a microcefalia: 30,3cm para meninas e 30,7cm para meninos. As medidas adotadas pelo governo, após a declaração da epidemia, são mais abrangentes. O primeiro critério foi de 33cm, ajustado para 32cm e, por último, estabelecido em 31,9cm para meninos e 31,5cm para meninas.

Diante da diferença de parâmetros, os pesquisadores passaram a reavaliar os casos notificados no âmbito da epidemia e, portanto dentro dos critérios mais largos, para ver quantos se encaixavam nas regras mais restritas do Sisnac. Foi dessa forma que chegaram aos 574 casos da malformação severa. O número, entretanto, pode ser maior, porque a amostra analisada no estudo refere-se às notificações feitas de 2015 a 7 de janeiro de 2016. No entanto, a cada boletim semanal divulgado pelo governo, os registros de casos suspeitos não param de crescer.

Na avaliação dos pesquisadores, os resultados mostraram que há, de fato, um aumento expressivo de casos de microcefalia no país, considerando-se que 574 registros em 2015 são quase cinco vezes mais que a média anual verificada no Sisnac entre 2000 e 2014 (157 notificações da malformação congênita). Para Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, o estudo acaba com qualquer dúvida sobre a explosão de casos:

— Certamente tínhamos uma certa subnotificação, mas esse trabalho mostra que houve um aumento enorme de casos de microcefalia, mesmo quando usamos os mesmo critérios de classificação (de antes e depois da epidemia).

Dos 574 casos, 58,5% eram de meninas. Essa prevalência da doença entre os bebês do sexo feminino tem sido informada pelos estados, Os casos de malformação congênita grave ocorreram em 19 unidades da federação.

Em todo o país, de 22 de outubro do ano passado até 12 de março, foram registrados 4.268 casos suspeitos de microcefalia e 863 confirmados da malformação, segundo o Ministério da Saúde. No Estado do Rio, há 296 casos de microcefalia sendo investigados para identificar suas causas. As notificações foram feitas de 1º de janeiro de 2015 a 12 de março de 2016. Nesse período, segundo a Secretaria estadual de Saúde, foi confirmado que sete bebês com microcefalia nasceram de mães que tiveram zika. Até a semana anterior, havia apenas dois casos confirmados da malformação associada ao vírus.

 

Fonte: O Globo
Créditos: RENATA MARIZ