Chrys Rezende sofreu bullying por 30 anos, chegou a 187 kg e não conseguiu emagrecer após fazer bariátrica por causa de uma gravidez não planejada. A seguir, ela conta como eliminou os excessos na dieta, resgatou a autoestima, tornar-se mais ativa e perdeu peso com a ajuda das aulas de dança:
“Sou de uma família grande. Minha casa vivia cheia e sempre em festa —e nossos encontros giravam em torno da boa comida. Ninguém se preocupava com alimentação equilibrada, tampouco com exercícios. Desde que me conheço por gente fui gordinha.
Na escola, os colegas não perdoavam. Recebi todos os apelidos relacionados ao excesso de peso que você possa imaginar. Dos melhores amigos até quem eu mal conhecia, absolutamente todos se dirigiam a mim com uma palavra desagradável mesmo que na base da ‘brincadeira’. Apesar de tudo, não deixava o peso limitar minhas atitudes. Na adolescência cheguei a me aventurar no esporte: joguei vôlei e participei de algumas modalidades do atletismo. Mas, com uma dieta totalmente errada, meu corpo não mudou em nada
Casei com 18 anos, quando a balança já marcava 120 kg. Foi nessa época que comecei a me importar mais com os comentários sobre meu corpo, vindos principalmente do meu então marido. A união durou pouco. Aos 23 anos, estava em meu segundo relacionamento.
Aos 25, fiquei grávida e cheguei a quase 200 kg. Passei toda a gestação tendo de me pesar em uma balança industrial (usada para pesar sacos de arroz) porque a comum não suportava meu peso. Foi muita humilhação. Nessa época minha saúde também dava os primeiros sinais de problemas: passei a tomar remédio para o coração e, como tinha muita dor, consumia uma caixa de relaxante muscular a cada dois dias.
Depois do nascimento da minha filha, apesar de todas as dietas possíveis e imagináveis a que recorri, meu peso ainda girava em torno de 180 kg. Em busca de sobrevivência e na esperança de deixar de sofrer bullying, decidi pela cirurgia bariátrica. Foi um longo processo —quase um ano — até o procedimento acontecer de fato: além de exames e toda preparação médica e nutricional, passei por acompanhamento psicológico. Eu precisava mudar minha cabeça para ter um novo corpo.
Com a cirurgia, eliminei 54 kg. Aos 27 anos, uma nova fase começava para mim. Mas oito meses depois da operação, sem planejar, fiquei grávida novamente. Meu mundo caiu. Fui muito questionada e julgada. Os profissionais envolvidos no processo da bariátrica lamentaram, pois todo o trabalho feito até ali seria perdido. Entre continuar emagrecendo e ter minha segunda filha, optei por ela, claro. Foi uma gestação de altíssimo risco.
O caldo estava entornado! Perdi a bariátrica e a vontade de viver. Comia de tudo. Consumia um pacote de macarrão inteiro e passava mal em seguida. Aumentei ainda mais a ingestão de refrigerante —que tomava como se fosse água. Entrei em depressão e pensei em dar fim à minha vida.
Com 29 anos, após ter recuperado todo o peso que perdi com a cirurgia e ganhado mais alguns, descobri que estava grávida pela terceira vez. Foi outra gestação de risco. Novamente, fui muito julgada: tinha problemas de saúde, familiares, financeiros e ainda engravidei!
Procurei ajuda e comecei a tomar remédios fortes para depressão, mas não me adaptei e abandonei o tratamento. Foram anos de muito sofrimento. Não conseguia perder peso. Compulsiva, comia cada vez mais. No café da manhã, tomava três litros de refrigerante e comia muito pão. Sofria e me afundava na depressão, com tentativas de suicídio se tornando cada vez mais comuns. Cheguei ao fundo do poço.
Passei a ser chamada com frequência na escola do meu filho porque ele demonstrava um comportamento muito agressivo, batendo nos colegas. Até que descobri que fazia isso porque não aguentava ser chamado de ‘filho da gorda’.
Enquanto o bullying era comigo, segurei. Quando vi que estava atingindo meu filho, desmoronei. Precisava fazer alguma coisa
Pensava em procurar uma atividade física, mas não ia atrás. Minhas amigas viviam me convidando para uma aula de dança e nunca aceitava. De tanto insistirem, cedi. Fui reclamando e levei meu refrigerante de dois litros e meu maço de cigarros para a academia. Fiquei sentada na porta, apenas assistindo. De repente, tocou a música ‘Bailando’, de Enrique Iglesias. O ritmo mexeu comigo. Quando vi, estava lá dançando e rebolando no meio da aula. Todos riram, mas me apoiaram.
Elas passaram a me arrastar para outras aulas. Eu me senti acolhida e nunca mais parei. Naturalmente, fui melhorando a alimentação e deixei de fumar. Com a zumba e apenas mudanças básicas na dieta, como cortar o refrigerante, já notei em pouco tempo minhas roupas mais largas.
Meu foco inicial na dança era ter bem-estar e me livrar da depressão. Mesmo sem a pressão para perder peso, consegui emagrecer 40 kg
Motivada com o resultado, coloquei em prática as orientações das nutricionistas que recebi ao longo da vida: controlei o consumo de doces, carboidratos refinados e gordura, além de aumentar a ingestão de verduras e frutas.
Era tão aplicada nas aulas que muitas vezes o professor me colocava como sua auxiliar e pedia que puxasse o aquecimento. Algumas pessoas diziam que eu deveria começar a dar aulas também —mas isso nem me passava pela cabeça.
Um ano depois que comecei a dançar, meu marido sofreu um acidente e precisou ser afastado do trabalho. E ele era o único provedor de casa. Cheguei a falar para o professor da academia que não poderia mais frequentar as aulas, pois não tinha condições de pagar. O instrutor não só me motivou a continuar, como disse que conseguiria uma turma de alunas para mim. Fiz o curso para me tornar instrutora oficial de zumba, consegui um galpão em uma chácara e comecei a dar aulas.
Hoje, tenho três turmas. Cada aluna chega com uma história —são problemas com o marido, com os filhos, falta de confiança, autoestima baixa. Acolho e digo que aquela hora de aula vai além de cuidar do corpo; é um momento para pensar em si e colocar um sorriso no rosto.
Foram muitos anos de sofrimento para conseguir dar a volta por cima. Sai de 187 kg e inúmeros problemas de saúde física e mental para 81 kg de muita energia e vontade de viver. Eu me sentia com a morte decretada e a zumba me resgatou. Hoje, meus filhos se orgulham de mim. Meu caçula de 11 anos, inclusive, me acompanha nas aulas e apresentações. Tenho como meta agora falar da dança para pelo menos 10 pessoas por dia. Quero compartilhar minha alegria, minha transformação e ajudar cada vez mais gente com minha história.
Fonte: UOL
Créditos: UOL