Participante do “The Voice” 2018, Flavia Gabê, 21, chamou atenção de Ivete Sangalo, Lulu Santos, Carlinhos Brown e Michel Teló assim que começou a entoar os versos de “Quando fui chuva”, de Maria Gadú. A trajetória da curitibana também chamou bastante atenção dos jurados. Cantora desde os cinco anos, ela parou de cantar durante um período por conta do ciúme do ex-namorado.
Ali no palco, o tema do relacionamento abusivo não foi aprofundado, apesar da chamada de Ivete ao dar às boas vindas a pupila. “Só vou te fazer um pedido, não pare mais de cantar por nenhuma razão. Quando a gente canta os males espantam, e quando a gente para de cantar o mal permanece do lado da gente. Para bom entendedor meia palavra basta”, disse a baiana.
Em conversa com à Universa, Flávia relatou as agressões psicológicas, física e o medo que teve de se tornar uma vítima do feminicídio durante o segundo ano de relacionamento – eles ficaram juntos por dois anos.
“Toda vez que falava de música ou show tinha briga, crise de ciúme. Não podia cantar, falar ou cumprimentar alguém que acontecia algo. Havia implicância com os contratantes, com fãs. No início, achava normal, mas aí as crises foram aumentando. Quando vi não podia mais ir em estúdio porque ele achava que todo mundo dava em cima de mim”, conta a cantora, que temeu pela sua vida. “Às vezes ele ficava muito nervoso, geralmente quando bebia, e senti medo de morrer sim.”
Até conseguir se dar conta de que estava em uma relação tóxica – o que só aconteceu no início de 2018 –, Flávia foi vendo sua autoestima baixar e a música, que lhe acompanhava desde a infância, foi esquecida. “Parei de cantar por conta da pressão psicológica, cancelei contratos que tinha e não percebi o que estava fazendo.”
“Ele dizia: ‘esses empresários não vão fazer nada por você’; ‘seu trabalho não vale.’ Quando comentava de uma apresentação sempre vinha uma conversinha: ‘Vamos ficar juntos hoje’; ‘Se você for a gente vai brigar novamente, estamos tão bem.’ E eu fui cedendo. Ele queria que eu ficasse na casa dele de sexta a segunda”, relembra ela, que se afastou dos amigos e familiares sem se dar conta.
Estar no reality show então era algo inimaginável. “Sempre quis me inscrever, mas ele não deixava. Dizia que o programa não me levaria a lugar nenhum. Quando terminei foi a primeira coisa que fiz, e olha onde estou. Já passei por várias fases e continuo na disputa, conquistei vários corações”, diz aliviada.
O fato de Flávia ser filha de pastores — o pai é técnico de informática e a mãe dona de casa, além de cantar na igreja – também era motivo para o ex humilhá-la.
“Venho de uma família humilde, comecei a vender coxinha na rua com a minha mãe quando tinha 10 anos, também já fui chapeira… E isso era um problema para ele, que é bem-sucedido. Ele dizia que não chegaria a lugar nenhum, que ninguém me aceitaria depois que visse onde moro”, conta ela, que chegou a acreditar nisso.
“Criava uma ilusão achando que ele voltaria a ser o cara romântico por quem me apaixonei. Mas isso não acontece, né?”
Flávia só conseguiu despertar que estava em uma relação tóxica quando o ex a agarrou pelo braço e deixou hematomas. Ele, no entanto, negou que seu ato fosse uma agressão. “Só aí consegui terminar o namoro e entender que a família que sonhava ter não seria com ele.”
Como de costume em relações assim, o término não foi simples. O agressor fazia questão de humilhar a cantora em público e ela chegou a fazer um Boletim de Ocorrência para relatar a agressão que sofreu. “Frequentávamos os mesmos locais e toda vez que ele me via com alguns amigos, chegava e dizia: ‘Já está aqui sua puta, com esse monte de cara?'”
Os pais de Flávia só souberam dos abusos após o fim, já que o ex começou a aparecer frequentemente em sua casa pedindo que ela retirasse a queixa — o que aconteceu. “Tinha vergonha e não comentava com ninguém o que acontecia comigo. Sabia que meus pais não apoiariam, e na época não sabia se conseguiria terminar. Tinha esperança que ele mudasse”, justifica a curitibana.
Atualmente, a cantora está namorando Kayan Cantu — que tem trabalhado como seu assessor de imprensa –, voltou a acreditar no amor, e mais importante, em si mesma e no seu potencial. “Ele me apoia, acompanha, acredita em mim. O plano de construir uma família continua de pé, assim como minha carreira.”
“Me machuca saber que me permiti passar por isso, que passei por cima do meu sonho por conta de uma pessoa que dizia me amar, mas na verdade era egoísta e abusiva. Por isso digo: não podemos nos enganar com flores, jantares em lugares bacanas e promessas. A gente alimenta algo que na verdade nunca acontecerá [mudança de caráter]. A melhor coisa é olhar para dentro de si, se amar e ter a consciência que nada vale mais que a nossa paz.”
Passado o período de vergonha e penitência (apesar da vítima nunca ter culpa), Flávia hoje incentiva mulheres que estejam passando pela mesma situação a compartilharem o sofrimento com pessoas próximas. “Sua família sempre irá te abraçar e nunca abrirá mão de você”, afirma a curitibana, que contou com o apoio e as lágrimas do pai na estreia.
Fonte: UOL
Créditos: Universa UOL