O papa Francisco reforçou nesta sexta-feira (8), por meio da divulgação da exortação apostólica “Amoris laetitia” (“A alegria do amor”), seu discurso de que os sacerdotes devem ter uma abordagem mais compreensiva em relação a fiéis divorciados e homossexuais, porém sem romper com as posições doutrinárias da Igreja Católica.
No documento, apresentado após quase dois anos de trabalho e da realização de dois Sínodos de Bispos para discutir temas ligados ao amor e à família, Francisco afirma que “em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais” (a tradução em português foi extraída do site do Vaticano).
Alberto Pizzoli-27-mar.16/AFP | ||
Papa Francisco cumprimenta pessoas na Basílica de São Pedro |
Sobre divorciados que se casam pela segunda vez – que, pelas regras da Igreja, não têm direito a comungar –, o pontífice escreve que eles “podem encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou encerradas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado discernimento pessoal e pastoral”.
No entanto, o papa diz que “o divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do número de divórcios”. “Por isso, sem dúvida, a nossa tarefa pastoral mais importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo.”
Em uma mensagem que deve agradar aos defensores dos direitos dos gays, Francisco afirma que “qualquer pessoa, independentemente de sua orientação sexual, deve ser respeitada em sua dignidade e tratada com consideração”. Para as pessoas com “orientação homossexual”, diz o documento, é preciso que a igreja dê a “assistência que eles precisam para entender e levar plenamente com elas a vontade de Deus em suas vidas”.
Francisco, no entanto, faz uma ressalva clara em relação ao reconhecimento da união gay. “Temos de admitir a grande variedade de situações familiares que oferecem certa estabilidade, mas uniões ‘de facto’ ou do mesmo sexo não podem ser simplesmente equiparadas ao matrimônio. Nenhuma união que é temporária ou fechada à transmissão da vida pode garantir o futuro da sociedade.”
No capítulo 4 do documento, “O amor no matrimônio”, o pontífice aborda a “dimensão erótica do amor”, que para ele não pode ser vista como um “mal permissivo ou um ônus a ser tolerado pelo bem da família”. Em vez disso, afirma, “tem de ser visto como um presente de Deus que enriquece a relação dos cônjuges”.
ABORTO
Francisco reitera a posição contra o aborto, sem dar espaço a circunstâncias em que poderia ser tolerado. “Tão grande é o valor da vida humana, e tão inalienável o direito à vida de uma inocente criança crescendo no útero da mãe, que nenhum alegado direito ao próprio corpo pode justificar a decisão de encerrar essa vida, que é um fim em si mesmo e nunca pode ser considerada ‘propriedade’ de outro ser humano”.
O papa não expõe uma proibição expressa a métodos contraceptivos, mas deixa isso implícito no capítulo em que fala da educação sexual para crianças, especialmente sobre o uso do termo “sexo seguro”: “Tais expressões conduzem a uma atitude negativa a respeito da finalidade procriadora natural da sexualidade, como se um possível filho fosse um inimigo de que é preciso se proteger”. “Desse modo”, diz o texto, “promove-se a agressividade narcisista, em vez do acolhimento”.
SANDERS NO VATICANO
O candidato democrata à presidência dos EUA Bernie Sanders anunciou nesta sexta que aceitou o convite da Igreja para visitar o Vaticano. Após a divulgação da exortação apostólica “Amoris laetitia”, Sanders disse que ele e o papa tinham visões semelhantes quanto à luta por igualdade de renda.
“Eu sou um grande fã do papa”, disse ele em entrevista ao canal de televisão norte-americano MSNBC. “Ele está tentando introduzir um senso de moralidade sobre como nós gerenciamos a economia, e precisamos disso desesperadamente”.
A equipe da campanha de Sanders declarou que ele irá a uma conferência sobre questões sociais, econômicas e ambientais na visita do dia 15 de abril ao Vaticano. O candidato, que tornou a luta contra a pobreza um assunto central em sua campanha, disse que discutirá como criar uma economia moral durante o encontro. Não foi informado se o candidato e o papa se encontrarão.
A visita ocorrerá quatro dias antes das primárias no Estado de Nova York. No dia 16, o papa viajará para a ilha grega de Lesbos em apoio à situação dos refugiados e migrantes.
Sanders disse admirar o papa por tocar em assuntos como “a devoção pelo dinheiro e a ganância que está presente no mundo”.
“Há pessoas que pensam que Bernie Sanders é radical. Leiam o que o papa está escrevendo”, disse o democrata à MSNBC.
Fonte: Folha