Depois de Anitta criar uma versão de seu show para crianças e adolescentes, o Bailinho das Poderosinhas, Pabllo Vittar decidiu trilhar o mesmo caminho.
Os empresários da cantora drag queen (expressão artística que envolve a construção de um personagem, geralmente do sexo oposto) de 23 anos estão terminando de formatar uma turnê, ainda sem nome, voltada ao público menor de 18 anos, para o segundo semestre deste ano.
“A Pabllo tem um público adolescente grande, tem até crianças, que acompanham ela e não podem ir ao show. É um público sedento, engajado e que forma a base de fãs. Serão poucos shows e não ficaremos no eixo Rio-SP, queremos fazer em várias regiões do Brasil”, adianta à BBC Brasil o empresário da cantora, Yan Hayashi.
As apresentações acontecerão à tarde ou no máximo com término às 20h, para atender às demandas da classificação indicativa para menores de idade. E nenhuma música precisará ser cortada, afirma ele, porque não há letras inapropriadas para esse público.
“A ideia é fazer um show diferente, especial, com novo cenário, novas danças. E faremos essa turnê ao mesmo tempo em que ela estiver com a do disco novo.”
Ataques
Hayashi diz que a cantora e toda a equipe estão preparados para eventuais ataques por parte de conservadores ou até para possíveis tentativas de impedir as apresentações de Pabllo. E que isso não os fará desistir do projeto.
“Não temos medo de ataques. Nessa sociedade em que vivemos não tem como fugir disso. O conservadorismo está crescendo e as pessoas com as redes sociais acabam ampliando essa voz, esse discurso conservador. Mas antes de tudo a Pabllo e nós pensamos muito nos fãs. Tem garotos que estão crescendo e começando a entender a identidade de gênero e se espelham na Pabllo. Então, a mensagem que queremos passar para eles é: podemos ser o que quisermos”, diz.
“E temos que mostrar que é preciso aceitar as diferença, o caráter, os valores não mudam por causa do gênero, opção sexual. Independentemente do que venha de ataques, vamos segurar a barra como seguramos o tempo todo.”
A ascensão de uma cantora drag no momento em que o país vive uma onda de conservadorismo, com exposições com nudez canceladas ou com público restringido, já fez com que Pabllo fosse vítima de alguns ataques, principalmente nas redes sociais.
Em agosto, hackers invadiram o canal da cantora no YouTube e apagaram o vídeo dela para a música “K.O”, que até então contabilizava mais de 100 milhões de visualizações. No lugar da gravação, exibiram uma foto do deputado conservador Jair Bolsonaro (PSC-SC), pré-candidato a presidente.
Esses episódios, afirma a cantora por telefone à BBC Brasil, a fortaleceram. “Tô vacinado contra ataques, tenho meus fãs me apoiando, meus amigos, minha família. Podem falar o que quiser, mas não vamos nos calar, não. Vou continuar fazendo meu trabalho.”
A cantora espera, no entanto, que o preconceito diminua no Brasil. “Tenho esperança que um dia a gente possa trabalhar muito e sair na rua como a gente é, sem medo de sofrer preconceito, de um ataque de homofobia, sendo a gente onde a gente quiser ser.”
Cultura drag
Pabllo, que nasceu Phabullo Rodrigues da Silva, em São Luís, no Maranhão, e vive em Uberlândia (MG), muitas vezes usa o pronome masculino quando fala de si mesma, apesar de ser uma drag mulher. E diz que as pessoas podem chamá-la de ela ou ele, como queiram.
“Contanto que seja com respeito”, diz ela, que é gay e se define como sendo de gênero fluído, se identificando tanto com o masculino quanto com o feminino.
O fato de ser drag, diz Pabllo, não é o que a fez se tornar um sucesso. “Minha carreira se sobressai a isso. Não é só por ser drag, é porque a música é boa. E quando é boa, meu amor, todo mundo gosta. ”
A cantora diz que hoje muita gente no país conhece o termo drag queen por sua causa. “É bom porque elas podem ver que somos pessoas como qualquer outra, que trabalhamos, temos caráter e que só queremos fazer a nossa arte e ser respeitado.”
Apresentadora de TV e cachê em alta
O projeto de um show para menores de idade é apenas um dos que a cantora, que ganhou uma proporção enorme no Brasil em 2017, têm para este ano.
De artista underground, que lançou um disco por gravadora independente e depois assinou contrato com a gigante Sony, ela se tornou uma das cantoras mais tocadas e conhecidas do ano passado. Ganhou um coro de milhares de pessoas no Rock in Rio, cantando ao lado da americana Fergie, gravou com o grupo internacional Major Lazer, estrelou campanhas de marcas tradicionais e até ganhou um programa de TV no Multishow.
Ela também apareceu na lista de 50 artistas mais influentes das redes sociais da revista americana “Billboard”, ficando em 44º lugar, e seu nome foi um dos mais buscados no Google no Brasil.
De 2016 para 2017 Pabllo teve um crescimento de 53,7% no Spotify, plataforma mundial de streaming que tem 140 milhões de usuários. Seu número de seguidores nesse serviço também cresceu 13,8%, chegando a 3,9 milhões (Caetano Veloso, por exemplo, tem 1,8 milhão; Gilberto Gil, 1,3 milhão; e Chico Buarque, 921,7 mil).
Em fevereiro, logo após o Carnaval (ela será um dos destaques da escola de samba Beija-Flor), Pabllo embarca para Los Angeles para gravar seu novo álbum. Ela garante, no entanto, que não almeja a carreira internacional – pelo menos não agora, “pois está com o pé no chão”.
Também nos próximos meses ela começa a formatar sua atração, ao vivo, para o canal pago Multishow. O nome provisório do programa é “Muito Prazer, Pabllo Vittar”.
Segundo Guilherme Zattar, diretor do canal, a ideia é que o programa apresente a artista da maneira mais natural possível para o espectador, mesclando, claro, músicas. “O momento dela é forte, e não porque ela é drag ou não. Tem uma coisa legal de afirmação da sexualidade, sem entrar no debate de gênero”, afirma ele.
O sucesso de Pabllo pode ser medido também pelo seu apelo no mercado publicitário. Marcas grandes e tradicionais que decidiram apoiar a bandeira da diversidade contrataram a drag para estrelar campanhas.
A BBC Brasil apurou que o cachê dela para um comercial, hoje em dia, chega a R$ 350 mil. E o de shows, que começou em R$ 3 mil, quando ela cantava em bares de Uberlândia, praticamente se multiplicou por 30, podendo chegar a R$ 90 mil.
O número de shows mais do que dobrou em 2017, com uma média de 15 a 20 por mês.
Pabllo resume o último ano: “Vários sonhos se concretizaram, ganhei uma gravadora, fui capa de revista… O Pabllo de hoje não é o mesmo de seis meses atrás. Estou mais centrado, mais profissional”.
Fonte: G1
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