Domingo eu vi ‘O Processo’ no Cine Banguê.
Sala cheia, lotação máxima… muita gente do lado de fora esperando as próximas sessões…
Chegamos cedo, vimos muita gente querida e conhecida, parecia uma festa de reencontro de velhos amigos…
Muita expectativa pelo filme…
Vimos. Foi difícil. Me emocionei, tive raiva, chorei, chorei, chorei.
Foi difícil relembrar aquilo tudo; principalmente por saber das consequências (que estamos enfrentando) para nós; saber que aquilo tudo fez (faz/está fazendo) parte de um projeto “num grande acordo nacional”…
Pior de tudo é saber que quando o filme acaba, o pesadelo continua. As pessoas (eu também) saíram do cinema caladas, como num velório, alguns se abraçaram sem dizer nada… Silêncio total. Silêncio por medo do futuro…
Silêncio por saber que o golpista continua lá desmanchando, vendendo, retirando nossos direitos.
A cada dia temos um notícia de um direito (conquistado com muita luta) que se esvai. Todo dia. Todo dia… Eles devem ter uma planilha com o que ainda temos e o que nos falta tirar, e vão “dando check”.
PEC do Fim do Mundo (check!); Reforma Trabalhista (check!); Redução do Salário Mínimo (check!); Vão marcando essa lista e sorrindo sadicamente, enquanto, por outro lado, uma lista de projetos neoliberais avançam.
Nós fomos às ruas e sofremos com gás; balas de borracha; spray de pimenta; alguns respondem processo até hoje: “formação de quadrilha”; Rafael Braga continua preso, por ser preto e pobre e carregar um desinfetante na mochila. Muitos amigos foram encurralados… em consequência: nós baixamos a cabeça. Ou será que estamos cansados? Eu não sei. Talvez seja uma grande descrença.
Por outro lado, alguns dizem: “Nossa bandeira nunca será vermelha”, em alusão a um comunismo que a maioria nem sabe do que se trata…
Mas mal percebem que a tal bandeira está sim sendo pintada de vermelho, mas não é pelo “comunismo”, nem tampouco por políticas sociais de redistribuição de renda…
Ela está vermelha de sangue!
Sangue dos indígenas; líderes e/ou representante de movimentos sociais que lutam por demarcação de terras e que estão sendo categoricamente assassinados pelo “bancada do boi”…
Sangue de mulheres pobres que tentam desesperadamente abortar por não ter condições de criar mais um filho e morrem vítimas da máfia dos abortos clandestinos, que envolve alta classe de médicos, indústria farmacêutica e polícia, os que se dizem “cidadão de bem”, a “bancada da Bíblia”; sangue de mendigos que morrem de frio nas ruas de SP enquanto os carros estão cobertos e protegidos dentro dos grandes condomínios fechados; sangue de trabalhadores sem terra, sem teto, sem nada; do povo que ocupa prédio histórico no centro de uma grande cidade em busca de moradia e de algum trabalho na zona comercial; sangue do menino que foi agredido pelos seguranças do Habibs; sangue de Marielle e de Anderson; de Amarildo (quanto mais?), vítimas da “bancada da bala”; do “aparelho repressor do Estado”, vítimas dos que se dizem adeptos da “ordem e do progresso”.
Era sobre este vermelho que se referiam?
As cores da bandeira não significam mais nada.
Aquele hino da “pátria amada gentil” não ecoa. Eu, pelo menos, nem consigo pronunciar.
O verde que aclamava as matas brasileiras está sendo leiloado (Lembram do Decreto sobre a Renca?); o amarelo simbolizava o ouro? Este já se foi há séculos….O azul? Vejamos as notícias sobre o Aquífero Guarani pra analisar se esse azul faz algum sentido… Branco é de quê mesmo? Nem lembro mais…
Fonte: Nirvana Rafael de Sá
Créditos: Nirvana Rafael de Sá