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O PROCESSO: 'Pior de tudo é saber que quando o filme acaba, o pesadelo continua' - Por Nirvana Rafael de Sá

"As pessoas saíram do cinema caladas, como num velório, alguns se abraçaram sem dizer nada..."

Domingo eu vi ‘O Processo’ no Cine Banguê.

Sala cheia, lotação máxima… muita gente do lado de fora esperando as próximas sessões…
Chegamos cedo, vimos muita gente querida e conhecida, parecia uma festa de reencontro de velhos amigos…

Muita expectativa pelo filme…

Vimos. Foi difícil. Me emocionei, tive raiva, chorei, chorei, chorei.

Foi difícil relembrar aquilo tudo; principalmente por saber das consequências (que estamos enfrentando) para nós; saber que aquilo tudo fez (faz/está fazendo) parte de um projeto “num grande acordo nacional”…

Pior de tudo é saber que quando o filme acaba, o pesadelo continua. As pessoas (eu também) saíram do cinema caladas, como num velório, alguns se abraçaram sem dizer nada… Silêncio total. Silêncio por medo do futuro…

Silêncio por saber que o golpista continua lá desmanchando, vendendo, retirando nossos direitos.
A cada dia temos um notícia de um direito (conquistado com muita luta) que se esvai. Todo dia. Todo dia… Eles devem ter uma planilha com o que ainda temos e o que nos falta tirar, e vão “dando check”.

PEC do Fim do Mundo (check!); Reforma Trabalhista (check!); Redução do Salário Mínimo (check!); Vão marcando essa lista e sorrindo sadicamente, enquanto, por outro lado, uma lista de projetos neoliberais avançam.

Nós fomos às ruas e sofremos com gás; balas de borracha; spray de pimenta; alguns respondem processo até hoje: “formação de quadrilha”; Rafael Braga continua preso, por ser preto e pobre e carregar um desinfetante na mochila. Muitos amigos foram encurralados… em consequência: nós baixamos a cabeça. Ou será que estamos cansados? Eu não sei. Talvez seja uma grande descrença.

Por outro lado, alguns dizem: “Nossa bandeira nunca será vermelha”, em alusão a um comunismo que a maioria nem sabe do que se trata…

Mas mal percebem que a tal bandeira está sim sendo pintada de vermelho, mas não é pelo “comunismo”, nem tampouco por políticas sociais de redistribuição de renda…

Ela está vermelha de sangue!

Sangue dos indígenas; líderes e/ou representante de movimentos sociais que lutam por demarcação de terras e que estão sendo categoricamente assassinados pelo “bancada do boi”…

Sangue de mulheres pobres que tentam desesperadamente abortar por não ter condições de criar mais um filho e morrem vítimas da máfia dos abortos clandestinos, que envolve alta classe de médicos, indústria farmacêutica e polícia, os que se dizem “cidadão de bem”, a “bancada da Bíblia”; sangue de mendigos que morrem de frio nas ruas de SP enquanto os carros estão cobertos e protegidos dentro dos grandes condomínios fechados; sangue de trabalhadores sem terra, sem teto, sem nada; do povo que ocupa prédio histórico no centro de uma grande cidade em busca de moradia e de algum trabalho na zona comercial; sangue do menino que foi agredido pelos seguranças do Habibs; sangue de Marielle e de Anderson; de Amarildo (quanto mais?), vítimas da “bancada da bala”; do “aparelho repressor do Estado”, vítimas dos que se dizem adeptos da “ordem e do progresso”.

Era sobre este vermelho que se referiam?

As cores da bandeira não significam mais nada.

Aquele hino da “pátria amada gentil” não ecoa. Eu, pelo menos, nem consigo pronunciar.

O verde que aclamava as matas brasileiras está sendo leiloado (Lembram do Decreto sobre a Renca?); o amarelo simbolizava o ouro? Este já se foi há séculos….O azul? Vejamos as notícias sobre o Aquífero Guarani pra analisar se esse azul faz algum sentido… Branco é de quê mesmo? Nem lembro mais…

Fonte: Nirvana Rafael de Sá
Créditos: Nirvana Rafael de Sá