O espetáculo de teatro “O Crime da Bambu – Quem matou o taxista?” – de José Caitano já pode ter uma data a ser anunciada. A informação nos chega através do próprio Caitano que espera ver o seu trabalho encenado, no mais tardar, até o final do ano. Só para nos situarmos do que trata o espetáculo, o crime, que ocorreu a quase 50 anos, na Lagoa, centro de João Pessoa, chocou a sociedade da época por ter passado envolto em muito mistério e por suscitar, até os dias de hoje, dúvidas de quem e porquês. Um jovem taxista Francisco Delfino Sobrinho, que na madrugada do dia 21 de novembro de 1971, aguardava passageiros frequentadores da então badalada Churrascaria Bambu, localizada no anel da Lagoa e ponto de encontro da vida boêmia e cultural, foi assassinado por cinco jovens da sociedade pessoense, por motivo fútil. O caso nunca foi, de fato, desvendado, por que não teve um autor e, por tanto, ninguém foi condenado ou preso. Diante do seu ineditismo, na prática de um crime sem autoria em que a população procura respostas até os dias atuais, o advogado e escritor (e agora autor de teatro) José Caitano, resolveu contar essa história, fazendo da arte da encenação o seu principal veículo.
Com as possibilidades reais de montagem e estreia, procuramos José Caitano que nos informa dos avanços com a escolha do seu diretor e possível escolha de elenco. O texto foi entregue ao diretor Roberto Cartaxo, que também é de Cajazeiras e que já está buscando agendar uma data no Teatro Santa Roza, provavelmente deverá estrear entre o final de novembro e início de dezembro, próximos.
Ao se saber que um assunto tão rumoroso volta à tona cinquenta anos depois e de uma forma tão destacada – um espetáculo de teatro, – indagamos ao autor se isso provocou alguma reação de envolvidos? Se alguém demonstrou estar incomodado com essa possibilidade, Caitano admitiu que de fato tomou ciência, através de terceiros, que uma das partes andou especulando, mostrando-se reacionário ao texto ao resgatar um episódio que aconteceu a cinquenta anos! Ele admitiu que há essa preocupação da parte de uns dois dos envolvidos à época.
Indagamos, também, sobre o que pensam as autoridades da época – polícia, justiça, advogados, sobre a retomada de todo o episódio e ele disse que “a verdade é que o crime não foi de natureza política, mas nós estávamos numa época em que o regime ditatorial estava no auge. O governo da Paraíba era de Ernani Sátiro. E como os envolvidos eram filhos da burguesia, que por sinal dava guarida, dava proteção, seguia a ditadura militar, então os acusados foram todos protegidos. Não é que o crime tivesse conotação política, mas eles foram protegidos pelo poder político. E isso está muito claro no texto, o que conforma a minha tese: negativa de autoria. Ninguém matou o taxista. Um poder tão forte e fechado, que conseguiu imunizar os acusados”. Para se ter uma ideia, prossegue Caitano, “para participar do júri, teve que vir um promotor da comarca de Bayeux, cidade metropolitana da capital, por que nenhum promotor por aqui aceitou fazer a acusação”.
Por fim, com a expectativa de ver a sua obra nos palcos paraibanos, o autor disse não querer se envolver muito na montagem do espetáculo. “Isso é como no futebol, a gente entrega o material e o técnico monta a sua maneira. Eu já entreguei o texto ao Roberto, ele é muito competente e eu concedi a ele a licença artística para que monte a fantasia, a ritualística do teatro, mas sem fugir ao que está escrito”. Concluiu. Tentamos ouvir o diretor Roberto Cartaxo, mas esse preferiu ainda não se pronunciar. Disse que no momento está se inteirando do assunto, escolhendo elenco e só depois irá conversar com a imprensa! Com expectativa aguardamos.
Fonte: Por Francisco Aírton
Créditos: Por Francisco Aírton