Um homem britânico de 41 anos calcula ter tido cerca de 800 filhos ao vender seu sêmen a mulheres que querem engravidar sozinhas.
Simon Watson diz que vem vendendo seu esperma nos últimos 16 anos por conta própria, uma vez por semana.
“Normalmente um bebê nasce a cada semana. Acredito que tenha 800 filhos até agora. Em quatro anos, chegarei à barreira dos 1 mil”, brinca ele em entrevista ao programa Victoria Derbyshire, veiculado pela BBC.
“Tenho filhos da Espanha a Taiwan, em vários países. Gostaria de obter o título mundial e ter certeza de que ninguém vai tirá-lo de mim. Isso significa continuar tendo filhos até quando puder”.
A história de Simon Watson lembra o filme americano De Repente Pai, protagonizado pelo ator Vince Vaughn. No longa, Vaughn vive um homem de meia-idade que, 20 anos depois de doar sêmen a um banco de fertilização, descobre ser pai de 533 filhos e, em seguida, se lança em uma jornada para buscá-los.
No Reino Unido, as regras para a doação de sêmen são extremamente rígidas. Poucas mulheres são elegíveis à inseminação artificial no NHS (o SUS britânico).
Já as clínicas privadas autorizadas cobram entre 500 a 1 mil libras (R$ 3 mil a R$ 6 mil) por cada ciclo de tratamento. Homens que fazem doação de sêmen só podem ser pais de, no máximo, dez filhos.
No entanto, Watson cobra 50 libras (R$ 300) por seus serviços — que chama de “caldeirão de poção mágica”. O primeiro contato é feito em sua própria página pessoal no Facebook.
Ele diz que suas clientes lhe fazem uma bateria de perguntas, entre as quais, se ele tem alguma doença hereditária e quando podem se encontrar, normalmente em um posto de gasolina em uma rodovia. As mulheres reservam, então, um quarto em um hotel ou usam os banheiros públicos.
Watson diz que não há contato sexual entre ele e as clientes. A inseminação é feita pelas próprias mulheres com uso de seringas.
Ele faz testes para verificar a presença de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) a cada três meses, postando o exame do hospital na própria internet. Ele se orgulha de sua taxa de sucesso: segundo ele, 30% das mulheres engravidam na primeira tentativa após receberem seu sêmen.
“Quem vai a uma clínica de fertilização, tem de enfrentar uma série de obstáculos – sessões de aconselhamento, quantidades infindáveis de testes e serviço caro ? mas realisticamente se você conhece um doador privado, pode se encontrar com ele, pegar o que quer e ir embora”, explica.
Riscos
Mas críticos dizem que, embora não seja ilegal, usar um doador de um estabelecimento não-licenciado expõe as mulheres ao risco de doenças sexuais, disfunções hereditárias e homens interessados em sexo não-protegido.
Segundo a especialista britânica Laura Witjens, a doação, quando é feita sem respaldo médico, pode criar problemas para as futuras mães.
“Em outras circunstâncias chamaríamos a maneira como é feito esse tipo de doação de assédio sexual ou estupro”, afirma.
Witjens diz que a linguagem em torno da doação de sêmen tende a ser “extremamente amorosa” e mira pessoas querendo “ajuda”, além de só mostrar casos de gravidezes bem-sucedidas.
“Mas se você analisar friamente, temos um homem que fará tudo o que for necessário para engravidar 500 mulheres e mulheres que sabem que seus filhos terão 500 meio-irmãos. É chocante. As crianças vão fazer perguntas, vão achar tudo muito estranho”, afirma.
A HFEA (Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana do Reino Unido, na sigla em inglês) diz que um em cada dez ciclos de reprodução assistida usou gametas ou embriões doados em 2013 ? o último dado disponível ? e desde então esse número vem crescendo.
Em 2013, 49.636 mulheres realizaram um total de 64.600 ciclos de fertilização in vitro ou microinjeção intracitoplasmática na Grã-Bretanha, dos quais 2.527 envolveram o uso do sêmen do doador. Outras 2.379 mulheres realizaram 4.611 ciclos de inseminação por doador.
Watson, que foi casado duas vezes, tem três filhos. Foi depois do fim de seu primeiro casamento que ele começou a doar sêmen.
“Não queria passar por tudo aquilo de novo, preferia ir a um banco de sêmen, ter meus filhos lá e se eles quisessem me conhecer algum dia, seria legal. Senão, tudo bem”, diz ele.
Watson admite que sua motivação pode estar ligada a um problema de autoestima.
“Só tive a primeira namorada quando tinha 18 anos. Pensei, ‘Nunca vou me casar e ter filhos’. Um psicólogo diria que isso seria o ponto de partida para a minha decisão de doar sêmen, mas não sei, nunca fui a nenhum”, acrescenta.
Meio-irmãos
A Autoridade de Embriologia e Fertilização Humana (HFEA, na sigla em inglês), a agência reguladora britânica, limita a dez o número de filhos nascidos em clínicas por um único doador.
O filho de Watson, Thomas, de 20 anos, o ajuda com sua página no Facebook.
“Quando aparece a foto de um novo bebê eu fico feliz de saber que tenho outro irmão ou irmã por aí”.
Mas Witjens diz que o bem-estar da criança não pode ser ignorado.
“Saber que você tem 500 meio-irmaõs por aí, quando as pessoas têm a necessidade de achar sua família, sabemos que é bastante preocupante para essas pessoas. As mulheres pensam no bebê fofo, mas se esquecem de quando eles crescerem, vão querer procurar os pais”.
Desde 2005, uma lei britânica dá o direito a crianças que nasceram de doações anônimas de sêmen de conhecer a identidade do pai biológico quando fizerem 18 anos. No entanto, ele não tem nenhuma responsabilidade legal sobre o filho e seu nome não aparece na certidão de nascimento.
Mas se o doador for não-licenciado, a mulher pode requerer pensão a qualquer momento – ao passo que o homem pode reivindicar paternidade sobre a criança.
Witjens diz entender que o custo do tratamento pode ser alto, mas acredita que os riscos são maiores para as mulheres que recorrem à prática.
“Se você não pode pagar 1,5 mil libras (R$ 9 mil) para proteger você mesma e seu próprio filho, é preciso rever seus valores sobre a maternidade”, conclui.
BBC