rotina nos primeiros 20 dias

'O Brasil estava carente de ídolos', diz Juliette, maior fenômeno de todas as edições do 'BBB'

Maior fenômeno de todas as edições do "BBB", Juliette Freire está aprendendo a lidar com a fama arrebatadora e a agenda cheia de compromissos que têm tirado seu o sono. A rotina nos primeiros 20 dias de milionária está mais puxada que prova de resistência do “BBB”, ela confessa.

Maior fenômeno de todas as edições do “BBB”, Juliette Freire está aprendendo a lidar com a fama arrebatadora e a agenda cheia de compromissos que têm tirado seu o sono. A rotina nos primeiros 20 dias de milionária está mais puxada que prova de resistência do “BBB”, ela confessa.

— Eu tenho dormido pouquíssimo. No dia em que consegui descansar melhor, foram cinco horas de sono. Nos outros, duas ou três, ou não dormi. Também não tenho conseguido me alimentar direito, por causa da ansiedade — detalha Ju, de 31 anos, que tem circulado na companhia de um segurança acostumado a proteger artistas: — Esta fase está sendo a mais crítica da minha carreira. Chique eu, né, falando em carreira ? As decisões grandiosas e mais urgentes precisam ser tomadas agora. Além disso, o meu psicológico não está 100%. Ainda tenho memórias perturbadoras (do programa). Comecei a ter problema de ansiedade no início da pandemia, mas não era algo patológico, a se tratar. Agora, está muito intenso, chego a me tremer toda. Tenho medo de tudo. Quando tem muita gente junta, temo que as pessoas se machuquem. Quando falo, temo machucar alguém. Tenho receio de usar uma palavra errada. Eu me assusto com o poder da minha opinião e as consequências dela.

Por tudo isso, Juliette tem contado com acompanhamento psicológico duas vezes por semana. E uma de suas primeiras urgências foi ir ao encontro de um padre, para tentar acalmar os ânimos:

— Tive uma conversa muito boa com ele sobre a questão do endeusamento, que me deixa angustiada. Sei que eu sou uma pessoa que vai falhar. Falho todos os dias. Do mesmo jeito que a repercussão tem sido muito positiva, pode vir a ter efeito contrário. Espero que os “cactos”, que me conheceram e gostaram de mim com todos os meus erros, tenham empatia comigo.

“Cactos” é como a advogada e maquiadora denomina seu imenso fã-clube, com 29,4 milhões (até o fechamento desta edição) de seguidores no Instagram, seu perfil em rede social que mais obteve engajamento ao longo do “BBB 21”: dos pouco mais de três mil interessados em suas postagens antes do programa, ela agora está prestes a bater o recorde de Sabrina Sato (29,7 milhões) como a participante mais badalada na web de todas as edições brasileiras da atração. Em conversa com seus admiradores na rede, a ex-“BBB 3” disse que seria “questão de dias, de semanas” perder o primeiro lugar no pódio para Ju, porque “está todo mudo apaixonado por ela e eu também”. E ainda sugeriu: “Será que a gente pode passar o bastão pessoalmente?”.

— Eu falei com ela pelo Instagram. Também troquei áudios com Grazi (Massafera), Padre Fábio de Melo… Todo dia eu mando para um ou dois famosos, para conseguir falar com todos. Porque são muitos os que torceram por mim — orgulha-se a campeã, ainda assustada com o enorme número de seguidores: — Primeiro, eu achei que tinha me tornado um grande meme, mas depois fui juntando as peças dos acontecimentos e entendi. Acho que as pessoas se encantaram comigo porque sou simples. E acredito que o Brasil estava carente de ídolos, de admirar gente do bem. Depositaram em mim as expectativas, o amor, por tudo o que passei lá dentro.

Juliette foi perseguida por colegas de confinamento por seu jeito de falar e se portar nas situações do jogo, mas abraçada pelos telespectadores, desde o início. Seus gostos viraram tendências; suas indicações, palavras de ordem. Para muito além do R$ 1,5 milhão que embolsou, tudo o que a nordestina come, veste, fala e toca vira ouro. O ovo de chocolate mencionado por ela numa Prova do Anjo esgotou durante a Páscoa; seu biscoitinho de queijo predileto virou ingrediente de pizza na Paraíba; as músicas que cantou repetidas vezes na casa ficaram entre as mais ouvidas nas plataformas de streaming; o macacão prata que usou na final acabou-se no site da loja, embora custasse mais de R$ 3 mil; o livro que indicou em sua primeira live, no sábado passado, para mais de 800 mil espectadores simultâneos, tornou-se o mais vendido e seu estoque chegou ao fim num e-commerce…

a última segunda-feira, a maquiadora anunciou seu primeiro contrato assinado, como embaixadora da marca de cosméticos patrocinadora do “BBB 21”, cujo batom Power Stay Vermelhaço ficou popularmente conhecido como “o batom da Juliette” e explodiu em vendas depois que a sister passou a usá-lo nas festas do programa.

— A paraibana carrega muitos propósitos da Avon, como o empoderamento feminino e a luta por equidade e diversidade — observa Danielle Bibas, vice-presidente de marketing da empresa.

— Sem falar no show de técnicas de maquiagem que a sister deu dentro da casa. Estamos muito felizes e animados com a parceria.

Apontada como a nova namoradinha do Brasil, a nordestina que ganhou o nome da princesa da novela “Que rei sou eu?” (de 1989, ano de seu nascimento) também é musa inspiradora de, ao menos, duas dezenas de músicas feitas em sua homenagem, do reggae ao funk. Até Carlinhos Brown, que recebeu uma mensagem da fã pelo Instagram, nos tempos de anonimato dela, compôs “Juliette, mon amour” para celebrá-la.

— Eu não esperava toda essa popularidade, de todo o meu coração. O que fui buscar no “BBB” foi o dinheiro para resolver a vida da minha família, e só — assegura ela, que cresceu em comunidades pobres de Campina Grande (PB) e chegou a trabalhar no salão de beleza da mãe, ainda criança, ajudando a lavar e pentear os cabelos das clientes: — Não tinha pretensão artística, não queria fama. Tanto que gosto de música, mas nunca segui carreira.

Agora, se os concursos para delegada ficaram para trás, tornar-se cantora está entre os desejos da nova ricaça, que já provou ao país inteiro ter timbre vocal bonito e ser superafinada.

— Cantar acalma o meu coração. Quando solto a voz, eu me sinto leve. Se eu me sentir capaz, vou abraçar com toda a minha força. Mas tenho que estudar para fazer bonito. Primeiro de tudo, preciso entender o que vai me fazer feliz. Não quero excluir possibilidades, porque eu nunca cantei de verdade, nunca apresentei um programa, nunca fui blogueira… Sou indecisa mesmo. Só sei que tenho vontade de falar para a massa. É uma missão dar voz às pessoas, independentemente de ser por meio de música, televisão ou internet — explica ela, que não renovou imediatamente contrato com a emissora em que foi revelada ao Brasil: — Tenho muita gratidão pela Globo, ainda estamos em negociação. É um lugar de fala que chega à casa de todo mundo, e eu quero continuar me comunicando com pessoas que se sentem representadas por mim. Mas ainda tenho dificuldade de colocar o rosto em frente a uma câmera. Tenho consciência de que tudo o que eu falar vai ser polemizado. Sei da minha responsabilidade social, e isso me bloqueia, confesso.

Quem observa Juliette frequentemente tagarela e engraçada pode custar a acreditar, mas ela garante: é tímida. O vermelho vivo que chamou atenção em sua maquiagem e em alguns figurinos no programa, por exemplo, lhe eram um tabu:

— Essa cor me causava incômodo desde a infância, acredita? Esmalte vermelho, para mim, era um problema. Querendo ou não, todos nós temos resquícios do machismo com que fomos criados. Eu também tenho, muitos. Quando eu pintava as unhas, escutava críticas. Por ser expansiva, era repreendida por amiga, família, namorado… Mas não era algo direto; quando é, eu corto logo. Era velado. Comecei a não me achar bonita de vermelho, por acreditar que era escandaloso. Aí, adolescente, comecei a usar batom dessa cor e, para compensar, uma roupa branca. Ainda não queria aparecer muito. Tenho os lábios carnudos, recebia elogios, chamava mais atenção ainda. Fui entendendo que o vermelho tem um significado de feminino, de sangue, de paixão, de sensualidade. Minha questão era uma mistura da timidez com a criação mais recatada, que eu já quebrei.

Livre de inseguranças, ela posou com um figurino vermelho e esvoaçante, toda diva, para o EXTRA:

— Aceitei que eu realmente fico bem com essa cor. A produção do “BBB” tanto me contrariou, me forçando a usar roupas vermelhas nas festas, que eu acabei gostando.

Referência fashion para os fanáticos por ela, Juliette diz que, apesar de ter bom gosto para se vestir, não tem a mínima paciência para montar seus looks. As peças estilosas com que desfilou dentro da casa mais vigiada do Brasil foram sugeridas por amigas bem mais consumistas que ela:

— Eu odeio ir ao shopping! Truqueiras, elas me enganavam, chamando para ir ao cinema, só pra comprar blusinhas. Eu ia embora pra casa irada. Passei a dar o dinheiro para comprarem as roupas pra mim, já que conhecem as minhas preferências, sabem que eu não curto estampas e prefiro modelitos mais coladinhos no corpo. Adoro andar piriguete! E conseguiram equilibrar o meu estilo, que era muito básico, tipo calça preta e camisa branca, para uma coisa mais estilosa.

Comprar roupas e acessórios não será preocupação tão cedo para Juliette. Mimada pelos “cactos” e por marcas, ela tem recebido um sem-número de peças, sapatos e joias (“A única que eu tinha até então era o meu anel de formatura”, ela entrega), entre outros tipos de presente, que têm abarrotado o sótão da casa de Anitta, seu ponto de apoio na Cidade Maravilhosa.

— Anitta está fora (a cantora passa uma temporada em Miami, cuidando da carreira internacional), mas disse que eu poderia pegar as roupas dela emprestadas. Eu não mexi em nada. Além de ter vergonha, não precisou. Minha equipe montou um closet pra mim só com o que eu tenho ganhado de presente. Aquele espaço onde ela gravou um programa (o “Anitta dentro da casinha”, do Multishow) está lotado com as minhas coisas — descreve a celebridade, detalhando sua estada no aposento mais excêntrico da mansão: — O Quarto do Sexo é lindo! Tive dor no maxilar de tanto ficar de boca aberta quando fui apresentada ao lugar. Os outros (quartos de hóspedes) são normaizinhos, brancos. Esse não…. Mas eu estou é lascada, minha filha (no quesito vida sexual), numa secura triste. E parece que esse negócio de fama só dificulta a paquera. Não recebi um “oi, sumida” dos pretendentes nem nada.

Dona Fátima Freire, com quem divide a cama, é o maior xodó da filha famosa e vive cercada de cuidados por ela. Ex-ajudante de pedreiro, a também cabeleireira deu à luz duas meninas — além de Juliette, Juliene, que foi vítima fatal de um acidente vascular cerebral (AVC) aos 17 anos — e criou quatro garotos do primeiro casamento de seu marido, o mecânico Lourival Feitosa. Aprendeu a ler com a primogênita e passou pelo mesmo problema de saúde que a caçula, em 2019, por ter uma má-formação congênita no coração. Parte do R$ 1,5 milhão que Juliette ganhou no “BBB 21” será designada para custear a cirurgia da mãe. Apesar das preocupações, a relação entre as duas é muito leve.

— Mainha me dá um trabalho danado! É como uma bebezinha, tenho que ficar de olho nela 24 horas por dia. Ela não tem a real dimensão do que eu estou experimentando. É muito sábia, mas inocente. Esse universo da fama pra ela é totalmente estranho, e eu estou tentando protegê-la. Ela só sabe que estou milionária. Aí, me pede: “Minha filha, eu quero uma motoquinha”. Eu digo: “Mainha, a senhora não tem mais idade pra isso, não vou correr o risco”. Celular, ela só quer o que eu ganhei dentro do programa, não quer saber de outro: “Mande trazer o meu, aquele que eu vi na sua mão lá na prova”. A inocência dela me traz leveza. Quando converso sobre trabalho, ela sai de perto. E me “aperreia” para eu mandar um papel com marca de batom pra não sei quem, diz que não gostou de tal pessoa perto de mim, sugere que eu fique amiga de outra… Mainha vive o mundo do sonho, eu fico com a parte chata — analisa.

No Rio, dona Fátima encontrou uma grande conselheira: sua conterrânea Miram Macedo, a mãe de Anitta. Enquanto a Poderosa permanece no exterior, Mamitcha faz as honras da casa.

— Anitta nos ofereceu toda a estrutura. E, como não estaria aqui, a mãe dela veio nos receber. Gostou tanto da minha, que acabou ficando na casa também. Foi bom porque as duas falam a mesma língua, tanto maternal quanto regional. Miriam nasceu em Guarabira (PB). Ela aconselha mainha: “Olha, a única coisa que nós podemos fazer por nossas filhas é rezar, essa vida é difícil”. Mas ela mostra que é possível ter uma vida normal em meio ao caos. Anitta também fala sempre com a gente por telefone. Essa estrutura familiar foi muito importante para eu me acalmar neste momento — conta Juliette.

Carente dos seus, a paraibana se apegou aos parentes e até aos animais de estimação da popstar, a quem diz admirar muito além da fama, pelo respeito que conquistou como mulher forte, talentosa e cheia de opinião.

— Eu parecia uma ET quando os bichinhos dela se aproximaram de mim. Tinha desacostumado com a textura do pêlo, com as brincadeiras… Plínio é o mais enxerido. Aquele cachorro se acha, só porque é famoso (o pet tem 208 mil seguidores no Instagram; na última segunda-feira, ele desembarcou nos EUA, reencontrando a dona). Sobe na cama, deita e pede beijo — acha graça a ex-BBB, que também aproveitou para “tirar uma casquinha” do sobrinho de Anitta (Benício, de 7 meses, filho de Renan Machado, irmão da cantora): — Peguei ele no colo e não queria soltar. A mãe deve ter pensado que eu era a Nazaré Tedesco ( vilã de Renata Sorrah na novela “Senhora do destino”).

Do batalhão de 20 amigos que se uniram para trabalhar por sua vitória, organizando mutirões de votação e produzindo conteúdo digital, Juliette agora mantém uma equipe com meia dúzia deles. Permaneceram os que já eram mais próximos, nos quais ela diz confiar de olhos fechados.

— Antes de entrar no “BBB”, deixei quatro pessoas cuidando de tudo pra mim. O que fizessem, eu assinaria embaixo. Mas a coisa tomou uma proporção tão grande, que quando saí já eram esses todos. Pensei: “Como é que vai pagar todo mundo?”. Tinha muito voluntário — conta a milionária, garantindo não ter nem uma estaleca, ou melhor, nem um real na carteira: — Dia desses, saí tarde de um compromisso e passei numa lanchonete pra comer uma coisa rápida. Quando dei por mim, não tinha com o que pagar. Foi minha amiga que me salvou, tadinha, bancando o hambúrguer.

Amigo é pra essas coisas, Ju…

Fonte: Extra
Créditos: Polêmica Paraíba