Que o paraibano Chico César é talentoso, famoso e é – sem dúvidas – um dos grandes nomes da música brasileira não é novidade nenhuma! Mas, também, é inegável a “pedrada” que o seu último trabalho atira no fascismo que eclodiu nos últimos 03 (três) anos no país.
O novo CD – O Amor É Um Ato Revolucionário – traça uma linha reta e, como bala de atiradeira, fere de morte um monstro raivoso que vem crescendo assustadoramente, com tentáculos e garras saindo de todos os lados e se multiplicando em criaturas funestas, regurgitadas dos lixões que estavam adormecidos e, agora, catapultados pela ascensão da direita violenta, espalhada pelo mundo! Os versos são propositadamente poderosos e açoitam como chicote no lombo da Besta como na faixa, “Pedrada” em que assevera, “babam e arreganham os dentes”! Chico levanta uma bandeira, mesmo sem ter a intensão, talvez… mas nos impulsiona e chama pra sairmos as ruas e dizer não aos que tentam matar a democracia e instalar de vez um regime de opressão, de cala boca e de terror!
Como resposta a essas ações e tentativas de puro domínio, cada faixa chega a nos lavar a alma, assim como, cada palavra dita parece querer ampliar a nossa voz num coro de “Já era, basta, chega, pra mim deu” e “tira nossa ira do papel”, em Eu quero quebrar! E, assim como nós, ele “espera que acabe agora a espera”. E explode num grito que estava sufocado na garganta e que já não há como segurar!
Mas, “O Amor É Um Ato Revolucionário”, não surpreende apenas pela poesia de confronto e os arranjos poderosos. O disco, também, invoca as nossas raízes, ligadas a África, coração do mundo, em “As Negras”, ou vai bem mais fundo ao falar da primeira mulher “Luzia Negra”, crânio que registra a existência do homem na terra, há milhões de anos, ao mesmo tempo em que passeia tranquilamente pelo presente usando a linguagem do homem, agora e torna-se mais atual com “LIKE”, (Selfie, pratos, prateleiras, nudes de costa …)
E passa pelos amores, pela exposição desenfreada nas redes sociais e tudo com excelentes arranjos que vão do simples ao rebuscado, mas que não se prende a ser seletivo a determinado ritmo, nos fazendo viajar num leque de estilos e arranjos que nos levam a ouvir ou dançar! “É like lá e cá, é like lá e cá, é like”!
Enfim, um disco que agrada aos mais diversos gostos e estilos. Do bolero ao Charleston dos anos 20, em Cruviana, em que não dispensa a crítica debochada ou ao preconceito latente, na direta “O homem sob o cobertor puído”.
Deixo claro que não faço essa resenha como um crítico de profundo conhecimento, mas analiso tudo do ponto de vista de um ouvinte comum, apreciador de boa música e que não se cala diante de um bom trabalho!
Mas é a capa enigmática que nos ajuda a tentar entender melhor todas as mensagens escondidas ou escancaradas nesse novo trabalho do Chico César. A máscara africana parece mirar o ávido ouvinte e chega a confundir a muitos com uma imagem que quase nos obriga a decifra-la sob pena de sermos devorados! E se me permitem o entusiasmo, estou extasiado com tudo que vi e ouvi em um disco, quando já não acreditava que alguma coisa ainda pudesse me surpreender!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Aírton