A homenagem feita por Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ao coronel Brilhante Ustra durante votação sobre o impeachment de Dilma Rousseff na Câmara rendeu notas de repúdio e pedidos de cassação ao deputado, mas também popularidade ao primeiro militar reconhecido pela Justiça brasileira como torturador.
No Facebook, a principal página relacionada ao chefe do DOI-Codi, órgão responsável pela repressão a opositores da ditadura, ganhou quase 3 mil curtidas nas últimas 72 horas – um crescimento de 3.323,2% no ritmo médio de novos seguidores, segundo a rede social.
Já o total de curtidas da página cresceu, até o fechamento da reportagem, ao redor de 20%.
A página reunia, até o fechamento desta reportagem, 17 mil fãs. Antes do discurso de Jair Bolsonaro, o número de seguidores se mantinha estável. Pelo menos quatro páginas na rede social foram criadas para homenagear o torturador.
Entre 1970 e 1974, sob o comando do coronel no DOI-Codi, ao menos 50 pessoas foram assassinadas ou desapareceram. Outras 500 foram torturadas, segundo a Comissão Nacional da Verdade.
Bolsonaro reincidente
Não é a primeira vez que Jair Bolsonaro usa os microfones da Câmara dos Deputados para homenagear Brilhante Ustra.
Em 15 de outubro do ano passado, data da morte de Ustra, o deputado carioca foi à tribuna para homenageá-lo como “herói”.
“Um herói que desde jovem esteve na linha de frente do combate à guerrilha em nosso país. Enfrentou maus brasileiros, verdadeiros doentes mentais, que treinados por Fidel Castro e financiados pela União Soviética, tentaram aqui implantar a ditadura do proletariado.”
“Foi também um símbolo de resistência para nossa juventude. Que seu espírito e seus valores encarnem os brasileiros neste momento em que os inimigos de ontem estão no poder”, prosseguiu o parlamentar.
Em 2008, Bolsonaro foi além. “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, disse a manifestantes.
Na última terça-feira, a OAB/RJ anunciou que irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a cassação do mandato de Bolsonaro. A entidade informou que também pode recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para pedir que o deputado deixe o cargo.
Elogios ao ditador
Em seu voto pela admissibilidade do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, Bolsonaro se referiu a Ustra como “o pavor” da presidente.
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim.”
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A própria presidente está na lista dos torturados sob a batuta do torturador e comentou, na terça-feira, as declarações.
“Fui presa nos anos 1970. De fato, eu conheci bem esse senhor a que ele se referiu. Foi um dos maiores torturadores do Brasil, contra ele recai não só a acusação de tortura, mas também de mortes”, disse. “É terrível ver alguém votando em homenagem ao maior torturador que o Brasil conheceu.”
Os novos fãs de Ustra no Facebook, entretanto, desfiam elogios.
“Militar exemplar. Quando a História Brasileira for escrita com honestidade o valor ético e moral do Coronel Ultra (sic) será reconhecido! E as mentiras e os mentirosos desmascarados!”, disse um.
Na contagem atual (dia 23 de abril) a página já tem 52.481 curtidas
Fonte: BBC Brasil
Créditos: BBC Brasil