Em 1º de janeiro de 2019, sai de cena a bela, recatada e do lar Marcela Temer para dar lugar à amável, solícita e agradável Michelle Bolsonaro. É uma espécie de atualização do termo cunhado há dois anos, quando Marcela se tornou primeira-dama do país ao lado do marido Michel Temer. A tríade de adjetivos atribuídos a Michelle, mulher do presidente eleito, Jair Bolsonaro — dada pelo articulador político de campanha dele, Alberto Fraga, numa entrevista —, inaugura uma nova república, calcada no slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Mas poderia ser também uma reedição de “Tudo pelo social”, usado na era Sarney, no final dos anos 1980.
Afinal, a nova primeira-dama já avisou, nas raríssimas entrevistas que deu, que pretende fazer todos os trabalhos sociais que puder na gestão de seu marido. Para quem convive com ela, não é promessa de campanha. Apesar de ter transitado pelos corredores do Congresso Nacional, onde, inclusive, conheceu e se apaixonou por Bolsonaro, Michelle não quer saber de política.
Sua rotina pouco mudou na primeira semana após o resultado das eleições. Na última quarta-feira, 31, por exemplo, Michelle deu expediente na sede da Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, na Zona oeste do Rio. Durante o culto, ela orou baixinho, ficou de joelhos e quando uma banda se apresentou, Michelle se levantou e interpretou em Libras, a linguagem dos sinais, o que estava sendo apresentado para os frequentadores surdos. Quando o encontro terminou, ela saiu pelos fundos da igreja, cercada de seguranças. Não sem antes posar para fotos com fiéis. E eleitores de Jair, claro.
Blindada em nome do Senhor
Poucas pessoas na igreja falam sobre ela. Existe quase um código de proteção à próxima primeira-dama do Brasil. A blindagem começa na própria família. Procurado pela reportagem, o pai de Michelle, Vicente de Paulo Reinaldo, disse por meio da mulher, madrasta de Michelle, que eles não falavam nada sobre ela ou de seu trabalho voluntário.
Para o pastor Claudir Machado, um dos religiosos mais próximos a Michelle no Mincluir, o ministério que existe na Atitude para a inclusão social dos surdos, a futura primeira-dama será uma realizadora no próximo governo. “Com certeza ela irá fazer o mesmo que já faz em sua comunidade local, ou seja, servir ao próximo”, acredita ele, que descreve a colega: “Posso defini-la desta forma: uma pessoa simples, apaixonada por Deus e pela sua família, alegre e altruísta”.
Foi Michelle que aproximou Jair Bolsonaro dos evangélicos mesmo ele sendo católico. Os dois se casaram em 2013 sob as bênçãos do pastor Silas Malafaia. Foi um pedido dela, que congregava na Assembleia de Deus. Depois, Jair e Malafaia tiveram seus entreveros, e Michelle se encontrou em outra célula religiosa.
Quem manda é ela
Em casa, segundo os muitos assessores que cercam Bolsonaro, quem manda é ela. Mesmo com o entra e sai de articuladores e aliados, Michelle conseguiu embarreirar muitos deles sem que passassem da sala. “Ela é muito doce, mas sabe se impor. Se disser não, o Jair baixa a cabeça”, diz um amigo do casal.
Enquanto não sobe a rampa do Planalto com o marido, Michelle mantém seu uniforme em dia. Calça jeans, camiseta, sapatos baixos, bolsa de grife e uma bíblia guardada numa pasta de couro sempre à mão.
Discreta, comprando lingerie
Na última quinta-feira, 1, ela se aventurou a ir ao Barrashopping, no mesmo bairro em que mora. Entrou numa loja de lingerie, comprou algumas peças e logo foi reconhecida pelas vendedoras. “Ela foi muito simpática, entrou como uma cliente normal, não vi seguranças. A gente logo a reconheceu e pediu uma foto. Ela foi muito gentil”, conta uma atendente, sem detalhar a compra da futura primeira-dama. E ela segue, distribuindo sorrisos, enquanto é blindada até por desconhecidos.
Fonte: Extra
Créditos: Extra