Infectologista destacou que Chikungunya deixa um rastro de consequências sociais, comentou expansão da doença e citou cidade onde mais de 80% da população a contraiu
A médica infectologista Ana Campanile, coordenadora da Comissão Estadual de Controle de Infecção em Serviços de Saúde (Ceciss) da Secretaria de Estado da Saúde, está preocupada com o quadro de chikungunya na Paraíba. Em palestra feita nessa sexta-feira (3), ela disse que os números são bastantes elevados, mostrando distinção em relação a outros estados por apresentar quadros graves em grande escala. Sobre as arboviroses (doenças transmitidas por insetos), ela disse que enxerga um futuro assustador devido ao difícil diagnóstico, confusão dos sintomas e doenças com mutações.
Ana Campanile foi uma das palestrantes no treinamento de Manejo Clínico das arboviroses dengue, zika e chikungunya, ocorrido no auditório do Sebrae, no Rodoshopping Patos, no Sertão da Paraíba, a 307 km de João Pessoa. O evento contou com um público formado por médicos, enfermeiros, coordenadores de atenção básica e da Vigilância Epidemiológica da região. Os profissionais se reuniram para discutir prevenção, sintomas e tratamento das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
Para caracterizar o problema, a médica citou como exemplo o município de Monteiro, no Cariri da Paraíba, a 305 km da Capital, onde mais de 80% da população teve chikungunya, muitos apresentando gravidade. “Estou vendo na Paraíba um cenário diferente de outros estados, com gravidade de pacientes, com complicações de chikungunya, exacerbações de doenças crônicas, pacientes em UTI e óbitos já tivemos seis”, disse Ana Campanile, que criticou a falta de um respaldo pelo Ministério da Saúde, que ainda não apresentou o protocolo de chikungunya, como também verbas nessa direção.
Com relação ao cenário atual das pesquisas, quando se buscam antídotos que imunizem para os vírus citados, especialmente o Zika, por estar associado à microcefalia, a infectologista destaca pontos positivos, como a descoberta das alterações neurológicas que o Zika causa, pois não havia referência sobre essa associação.
Um fato que surpreende aos pesquisadores, segundo Campanile, foi a rápida expansão das três doenças com muita rapidez na América Latina. A zika existe desde 1947, a chikungunya desde 1952 e em apenas dois anos há essa explosão de casos. No último dia 2, o Governo Federal anunciou recursos da ordem de R$ 65 milhões para pesquisas do vírus Zika, trazido ao Brasil provavelmente por estrangeiros durante a Copa do Mundo de 2014.
A infectologista também criticou o combate ao Aedes: “parece que as pessoas não se importam com criadouro do mosquito, em todas as classes sociais. A gente passa por esses postos da Polícia Rodoviária e há uma quantidade incrível de veículos, todos com criadouros de mosquito. A gente vê isso em todo lugar. Acho que falta muito apoio da população. Ande na praia na segunda e veja a quantidade de lixo deixado no dia anterior. É preciso muita conscientização”, afirma.
A xhikungunya, conforme destacou Campanile, deixa um rastro de consequências sociais. O tratamento é caro e o paciente precisa ficar afastado do trabalho para se recuperar. “Será que essa empresa, esse patrão entende a necessidade daquele funcionário precisar ficar afastado do trabalho por causa de dor? Acho que esse contexto social é muito importante”, enfatizou a médica.
“Enquanto tivermos o homem agredindo a natureza, entrando onde ele não tem que entrar, a disseminação, a migração para todos os lugares, cada vez mais a gente vai ter a proliferação de todas as doenças. Daqui a pouco teremos malária, febre amarela”, disse em tom de alerta.
Créditos: PORTAL CORREIO