Quando a gente acha que já teve náuseas suficientes nos últimos dias, surge uma reportagem sobre a esposa do Michel Temer, intitulada ‘bela, recatada e do lar’. Antes de tudo, que fique claro, não vejo nenhum problema se uma mulher quiser ser bela, recatada e do lar. Como disse Simone de Beauvoir, ‘que a liberdade seja a nossa própria substância’. Toda mulher é livre para escolher o caminho que torna-a realizada. Isso só se torna um problema quando um dos maiores veículos de informação do país coloca – ainda que de forma velada – essas características como padrão a ser seguido, e coroam a reportagem dizendo que Temer é um homem de sorte.
Precisamos olhar para isso. Pensar sobre isso. Precisamos repensar esse encardido conceito de ‘bela’. A boa e velha mulher objeto que tem seu valor diretamente relacionado ao quão agradável ela é aos olhos alheios. O fato de que a primeira análise de uma mulher sempre será a respeito da sua aparência (mesmo quando ela está apresentando um projeto no trabalho ou esperando o ônibus no ponto) é algo que o feminismo tenta extirpar há décadas. Mas o mundo não está interessado em mostrar que a beleza da mulher está muito além da estética.
Mulher bonita é a mulher que luta, meus queridos.
Na sequência temos a mulher ‘recatada’. Essa é a tal mulher que ‘se dá o respeito’ aos olhos machistas e conservadores. São esses mesmos olhos que acham que a mulher que saiu de saia curta contribuiu para o próprio estupro. Recatada a mulher que sabe ficar em silêncio em uma discussão ‘de homem’. A mulher que ‘se recolhe à própria insignificância’. A mulher que se recolhe.