A Sprout Pharmameuticals, empresa por trás da comercialização da substância flibanserina, também conhecida como “viagra feminino”, anunciou que levantou fundos no total de US$ 20 milhões (cerca de R$ 82,2 milhões) em capital empreendedor — quando os investidores aplicam recursos em empresas com expectativas de rápido crescimento.
De acordo com reportagem da revista Fortune, o dinheiro vem junto com algumas decisões favoráveis ao Addyi, como a medicação é comercialmente conhecida, por parte do FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador com atuação semelhante à Anvisa.
Inicialmente, acreditava que a ingestão de Addyi com álcool poderia criar uma associação que causaria desmaios nas mulheres.
Ainda de acordo com a revista, o FDA também removeu a exigência de que os profissionais da saúde deveriam ser credenciados para poder recomendar o Addyi. Agora, qualquer profissional da saúde licenciado nos EUA poderá prescrever o medicamento.
Uma nova abordagem terapêutica
Aprovado em 2015 pelo FDA, o Addyi é um medicamento destinado às mulheres que estão na pré-menopausa e que sofrem de falta de desejo sexual.
Curiosamente, o remédio foi inicialmente desenvolvido para ser um antidepressivo. A substância age nos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e serotonina. Durante os primeiros ensaios clínicos, no entanto, foi detectado um efeito colateral interessante: a melhora na libido —o que fez a indústria farmacêutica redirecionar o desenvolvimento do produto.
Foi mais ou menos o que aconteceu com o Viagra, que inicialmente era um medicamento desenvolvido para problemas cardíacos.
Mas a semelhança com a pílula azul dos homens termina aí, já que, enquanto o Viagra só funciona para os homens com desejo sexual em dia, agindo na excitação, a flibanserina provoca e melhora o desejo da mulher, uma etapa que antecede a excitação.
Para a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade), ligado ao HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), o medicamento abriu uma nova era no tratamento da falta de libido. “A chegada de um remédio específico para a disfunção sexual feminina é mais um recurso para os médicos tratarem o problema”, explica*.
A médica ressalta que, para as pacientes que têm um bom relacionamento com o parceiro, não estão deprimidas ou estressadas e não sofrem de alguma doença que possa interferir na libido, o medicamento pode ser uma boa alternativa.
Mercado em expansão
Em 2019, o FDA aprovou um segundo medicamento para tratar o baixo desejo sexual em mulheres. A bremelanotide, comercializada como Vyleesi, é vendido pela AMAG Pharmaceuticals e deve ser ministrado 45 minutos antes da relação sexual na coxa ou no abdômen por meio de uma caneta autoinjetora*.
Diferente do Addyi, o remédio pode ser usado mesmo quando a mulher consome álcool; no entanto, ela envolve injeções com agulha e, em testes clínicos, 40% das pacientes sentiram náuseas após injetá-la.
A bremelanotide mostrou melhorar os sentimentos de desejo das mulheres e diminuiu sua angústia em relação ao sexo, mas não aumentou o número de “eventos sexualmente satisfatórios” que elas tiveram de maneira significativa.
Sexualidade feminina é mais complexa
Durante anos, o FDA esteve sob pressão para encorajar mais tratamentos para mulheres com baixo desejo sexual —uma condição conhecida como transtorno de desejo sexual hipoativo. Medicamentos para homens com disfunção erétil chegaram ao mercado há duas décadas.
Alguns críticos da indústria farmacêutica, no entanto, questionam se tanto Addyi quanto Vyleesi não seriam o exemplo mais recente de uma empresa que promove uma solução farmacêutica para algo que, na verdade, é muito mais complexo.
Isso porque muitas mulheres com pouco apetite sexual continuam mantendo relações com seus parceiros para manter o relacionamento. Ou seja, o problema não seria a quantidade de vezes que fazem sexo, mas sim a qualidade dessas relações.
A prescrição desse tipo de medicamento, portanto, exigiria uma maior capacidade dos médicos em distinguir as causas do problema, já que fatores como depressão e problemas conjugais contribuem para a falta de desejo feminino.
* Informações retiradas de matéria publicada em 19/08/2015 e matéria publicada em 22/06/2019.
Fonte: VivaBem
Créditos: Danielle Sanches