São Paulo – Para marcar posição contra a chamada ‘reestruturação’ das escolas proposta pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que prevê a separação das unidades por ciclos, os alunos da rede estadual de ensino estão se mobilizando. Além do protesto de sexta-feira (8), que reuniu milhares de estudantes na Avenida Paulista e terminou com dura repressão policial, a todo momento, em diversas regiões da capital e do estado, surgem novas manifestações espontâneas contra o fechamento das escolas. Nas redes sociais, cresce a mobilização: #naofecheminhaescola.
Temendo que sua escola fosse incluída na lista das unidades que devem ser reorganizadas, alunos do ensino médio da Escola Estadual Antônio Viana de Souza, em Guarulhos, na Grande São Paulo, optaram por protestar de forma ainda mais criativa e impactante. Eles fizeram uma versão da música ‘Cálice’, de Chico Buarque, e gravaram o vídeo que vem repercutindo nas redes sociais.
“Onde é que está nosso futuro e nossa paz, que só promete, mas só faz tirar do povo, onde é que estão nossos direitos de viver, nosso direito pra fazer um mundo novo”, entoam os estudantes. Segundo eles, a intenção é conscientizar e alertar. “Mesmo que nossa escola não esteja na lista, pensamos em todas as outras”, diz a aluna Kathleen Silva, de 16 anos. Os alunos contam que a ideia partiu de uma atividade, realizada no ano passado, sobre a ditadura civil-militar. Agora, de olhos vendados, os alunos lançam o grito e querem passar essa história a limpo. “O que mais tememos é que, no último segundo, eles coloquem nossa escola na lista.”
“Não é exatamente medo de ser transferido e, sim, as consequências”, diz Maisa Fernandes, da mesma turma. Ela conta que os estudantes temem ser mandados para mais longe, além da fragilização dos laços com os amigos e com a comunidade escolar, como professores e diretores. A venda preta nos olhos, segundo ela, é um alerta contra a passividade. “É como se todos não vissem a verdade, até que alguém abre nossos olhos e, assim, vamos para a luta.”
David Menezes, que também participou da gravação do vídeo, diz que a reorganização “veio para desorganizar”, e vai além: “O objetivo é a privatização das escolas. Eles já entregaram o ciclo 1 para os municípios. Eles querem fazer isso (a dita reestruturação) para depois entregar o ciclo 2, ficar só com o ensino médio, e privatizar.”
Os alunos contam que até mesmo os professores não sabiam da gravação do vídeo, receberam com emoção, e apoiaram a manifestação dos alunos. Já a Secretaria Estadual parece não ter gostado. Após a divulgação do vídeo, os alunos contam que receberam a visita de um supervisor de ensino que os desestimulou a seguir protestando, alegando que de nada adiantaria.
Segundo David, que também integra o grêmio da E.E. Antônio Viana de Souza, a repressão por parte de representantes da Secretaria Estadual vem aumentando, em decorrência da repercussão do vídeo, e que chegaram, até mesmo, a ameaçar com destituição do grêmio, caso os alunos continuem se mobilizando. O mesmo vem acontecendo em outras unidades da região. “É o modo deles, não deixar os alunos se organizarem dentro das escolas.”
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