Em novo livro, Papa Francisco conta a 'história de sua vida'

ROMA, 12 JAN (ANSA) – Foi lançado nesta terça-feira (12) o livro do papa Francisco, chamado de “O nome de Deus é misericórdia”, escrito pelo jornalista Andrea Tornielli. A obra está disponível em 86 países e terá edições em italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português.

Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, a publicação “trata-se de uma conversa com Andrea Tornielli, uma conversa para entrar mais profundamente no tema da misericórdia, que talvez é o tema deste Pontificado”.

Lombardi explicou que o livro revela a experiência do Pontífice em todas as fases de sua vida, desde sua infância até os dias atuais. O porta-voz revelou ainda que, “em caráter experimental, o título do livro foi escrito pelo próprio punho de Francisco.

“Isso não é literatura, não é um estudo. É minha vida, é a história da minha vida”, disse o padre relatando uma conversa com o Papa.

Ao explicar o conteúdo do livro, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, informou que ele “conta histórias não conhecidas da história de Francisco”.

De acordo com Parolin, Jorge Mario Bergoglio diz que “a misericórdia é verdadeira porque ela é a identidade de nosso Deus”. O líder católico quer “acender nos corações de todos o desejo de encontrar o Senhor e de ter o dom divino de viver e ser capazes de recomeçar sempre de novo”.

Para o secretário de Estado, os leitores irão “se comover” em diversos momentos “porque o Papa apresenta a cara de misericórdia de Deus”.

“Nesse texto há todo o coração do pastor, que não deixa nunca de tentar de resgatar o pecador. O poder de perdão e de que Deus espera de braços abertos. Basta um passo para ele como o filho pródigo. Se não tivermos como dar o passo, basta o desejo de mover-se a ele para a graça entrar em nossa vida”, ressalta uma parte do texto. Segundo Francisco, “a Igreja deve buscar todas as maneiras de perdoar”.

Parolin afirma que é possível perceber toda o testemunho do sucessor de Bento XVI ao longo das 150 páginas. Em um determinado trecho, Bergoglio diz que “a humanidade precisa de misericórdia porque está ferida e não sabe como curar ou não sabe se pode curar”. Para ele, as pessoas até assumem que são pecadoras, mas não acreditam que podem ser curadas pelo poder de Deus.

“Essa humanidade precisa de misericórdia. O drama da nossa época é a consciência do pecado e o drama de considerar o nosso mal e o nosso pecado como algo que não pode ser perdoado ou curado.

Acreditar que não há a possibilidade de sair disso, de um abraço, de um carinho. A sociedade líquida perdeu a confiança por causa do mal e também não acredita mais que existem pessoas que possam ajudar a combater esse mal”, diz Parolin.

Usando muito a parábola do filho pródigo, Parolin explicou que o argentino quer aproximar aqueles que não acreditam que o pecado pode ser perdoado. E que Jesus propõs o perdão sempre que for preciso.

“Não há justiça sem perdão e a capacidade de perdão deve ser a base de uma sociedade justa do futuro. Misericórdia e perdão são a verdadeira justiça. Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você. Ame seus inimigos e faça o bem sem esperar nada em troca que o prêmio será grande e vocês serão filhos do Altíssimo. Sejam misericordiosos”, diz o Papa em sua publicação.

Ao longo do livro, Francisco ressalta que mesmo na “justiça terrena”, “está crescendo a consciência nova, como o número de pessoas que lutam conta a pena de morte e os movimentos para a inclusão na sociedade daqueles que cometeram erros e foram presos.

Neste ponto, o chinês Jiang, hoje Agostino, contou sua história de conversão à Igreja. Ele prestou um depoimento sobre sua família e contou sua história, dizendo que chegou à Itália em 1997. Ele explicou sobre os motivos que o levaram ao cárcere e o porque decidiu virar cristão durante seu período no presídio.

Ele também mostra a proximidade do Bispo de Roma dos presidiários e dos constantes contatos, “por telefone e carta”, pelos detidos que conheceu ao longo da vida. Isso pode ser comprovado ainda pela abertura de Portas Santas em diversos cárceres ao redor do mundo.

“O nome de Deus é Misericórdia” tem 150 páginas e mostra Francisco se dirigindo ao público de maneira simples e direta.

Nele, Jorge Mario Bergoglio afirma ser “tão pecador” como qualquer outra pessoa e também aborda temas polêmicos para a religião, como a questão do homossexualismo.

“Eu gosto quando fala-se de ‘pessoa homossexual’ porque antes está a pessoa, em sua integralidade e dignidade. E a pessoa não é definida, no entanto, por sua tendência sexual. Não nos esqueçamos que somos todos criatura amadas por Deus, destinatárias de seu infinito amor”, diz Francisco em uma das partes da obra.

Ao ser questionado sobre o fato de ter feito confissões de pessoas gays, Bergoglio disse que quer que eles fiquem “próximos a Deus”. “Eu prefiro que as pessoas homossexuais venham se confessar, que fiquem próximas ao Senhor, que se possa rezar juntos. Pode-se aconselhar a eles a oração, a boa vontade, indicar a estrada e acompanhá-lo”, ressaltou. Quem também participou da entrevista foi o ator e diretor italiano Roberto Benigni, que falou de sua emoção em estar no Vaticano e brincou que “só o Papa poderia reunir um cardeal vaticano, um de Vêneto e de um chinês”.

O ator brincou que desde criança “queria ser Papa” e que estava se sentido “meio deslocado por não ter colarinho”.

“O Vaticano é o Estado mais pequeno do mundo, com o maior homem do mundo no momento. O Papa é incrível e revolucionário”, diz o italiano. “É um livro belíssimo”, finalizou.

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