Com 28 anos e mais de 150 kg, a dançarina Thais Carla espera o seu 2º filho e quer se tornar exemplo para todas as mulheres que acham que o peso pode impedi-las de realizar o sonho da maternidade. “Não é porque você é gorda que não pode engravidar, tampouco ter uma gestação saudável”, afirma ela, que já é mãe da Maria Clara, 3, fruto do relacionamento com o fotógrafo Israel Reis.
Ainda que o segundo filho estivesse nos planos, o casal foi surpreendido com a notícia. Um enjoo anormal e uma dor para urinar a levaram ao hospital e à descoberta. “Fiquei em choque, porque infelizmente, mesmo com todo esse empoderamento, tive dúvidas de mim mesma e do meu corpo sobre gerar mais um bebê”, conta Thais. Na primeira gestação, como conta a dançarina, ela estava pelo menos uns 10 quilos mais magra. “Mas agora estou aqui para provar mais uma vez que podemos.”
“Se aconteceu é porque tinha que ser e porque estava com muita saúde”, acrescenta a bailarina, que diz ter sido vítima de muito preconceito na gravidez da primogênita. Thais lembra ter ouvido de várias pessoas –inclusive dos médicos– que ela poderia ter diversas complicações durante a gestação e que poderia até morrer na mesa de cirurgia. “Foi muito difícil. Tudo isso me deixou bastante insegura e também desconfortável.”
Mas o mais difícil, segundo ela, foi o parto. “Fiquei cinco dias internada em um hospital, tomando um monte de remédios para induzir o parto. Remédios que não tiveram nenhum efeito, mas o batimento da Maria começou a cair e ainda assim os médicos não queriam fazer a cesariana. Tive que fazer um escândalo para conseguir ser operada e tirar a minha filha com vida”, conta ela, que lamenta a falta de descaso e preparo do serviço público com as gestantes obesas.
“Fora todo esse estresse, a gravidez da Maria foi um sucesso e não tive nenhuma intercorrência. Apenas quadros isolados de pressão alta, mas muito mais ligado ao estresse.”
Nesta gestação, portanto, Thais conta que fez questão de procurar um profissional que não a julgasse por conta do excesso de peso, mas que a auxiliasse durante todo o processo. “E não é que o encontrei”, afirma a dançarina, que diz que tem seguido à risca todos as recomendações médicas. “Tenho me cuidado bastante. Além de uma alimentação mais balanceada, tenho investido bastante tempo na prática de exercícios. Tenho uma vida totalmente saudável. Nada sedentária. Caminho todas as manhãs pela praia, faço pilates, crossfit para grávidas e também danço bastante.”
“É possível mulher gorda ter uma gravidez saudável e eu sou prova disso”, afirma Thaís Carla, que se diz realizada com a oportunidade de gerar mais um filho e também bastante ansiosa para descobrir o sexo do bebê.
Cuidados necessários durante a gestação
Os especialistas entrevistados pelo Yahoo! reiteram a afirmação de Thais Carla, e garantem que é possível que uma mulher obesa tenha SIM uma gestação saudável. Mas alertam para a importância do acompanhamento médico periódico durante os nove meses da gravidez –como a bailarina tem feito.
“Uma paciente obesa que se torna gestante é uma paciente com mais fatores de riscos. Não quer dizer que terão uma gestação complicada, mas que têm mais chances de desenvolver diabetes e hipertensão arterial gestacional (pré-eclâmpsia). Por isso, a necessidade de uma atenção maior a essas pacientes”, explica Henri Korkes, presidente da Regional de Sorocaba da Sogesp (Associação De Obstetrícia E Ginecologia De São Paulo).
A pré-eclâmpsia, como explica Korkes, é uma doença placentária que ocorre após a vigésima semana de gestação, caracterizada pelo aumento da pressão, bem como por complicações em órgãos alvos como os rins, sistema de coagulação, fígado e sistema cerebral. “O grande problema é que a doença, muitas vezes, é silenciosa. Não manifesta nenhum sintoma. Mas, além da hipertensão, dores de cabeça, mal estar, dores abdominais, vômitos, visão embaçada e inchaços são importantes sinais de alerta”.
E por ser uma das principais causas de mortalidade materna, para as pacientes de alto risco (obesas, com mais de 40 anos, com hipertensão crônica, com gestação de gêmeos, com doenças de rins ou autoimunes), segundo Korkes, a recomendação é tomar uma medicação preventiva prescrita pelo obstetra.
Já a diabetes gestacional é caracterizado pelo aumento dos níveis de glicose no sangue durante a gravidez, que –se não controlada– pode trazer complicações à saúde da mulher e do bebê. “O ganho de peso excessivo é um dos responsáveis pelo distúrbio”, aponta Eduardo Zlotnik, ginecologista obstetra e vice-presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, que destaca a importância do ganho de peso para o bom resultado da gestação –que significa que o bebê nasceu saudável e a mãe se manteve saudável após o parto.
“Há várias maneiras de medir e de orientar a paciente na gestação. Mas o indicador mais usado é o do Instituto Americano de Medicina, que é baseado no índice de massa corpórea da paciente. Por isso que o peso ao engravidar tem um impacto importante no final”, explica Zlotnik. Segundo ele, uma pessoas obesa –com massa corpórea acima de 30– deve ganhar na prática apenas o peso da gravidez, que seria em médio 6 quilos. “Já as gestantes com massa corpórea normal têm que engordar entre 11 e 15 quilos.”
Portanto, o grande segredo de uma gravidez saudável, como destacam os especialistas, está na alimentação e na prática de exercícios físicos com o acompanhamento de profissionais especializados. “Não pode fazer dieta para perder peso, mas ter o controle para não engordar muito. E, com a liberação do médico, praticar exercícios leves ou moderados”, sugere Korkes.
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Fonte: UOL
Créditos: UOL