A passagem do tempo e seus efeitos têm sido a tônica de alguns dos projetos comandados e protagonizados por Clint Eastwood, como os oscarizados “Os Imperdoáveis” e “Menina de Ouro”, além dos elogiados pela crítica “Cowboys do Espaço”, “Gran Torino” e “A Mula”, onde anunciou que iria se aposentar da telona como ator, em 2018.
Mas, para surpresa geral, Eastwood desistiu de só ficar atrás das câmeras e voltou a estrelar e comandar um novo filme, na direção e na produção. E em plena pandemia, mostrando que continua com muita vontade de continuar a trabalhar com o que gosta, mesmo com a idade avançada. O resultado, o drama “Cry Macho: O caminho para a redenção”, pode ser conferido pelo público nos cinemas a partir desta quinta-feira, 16 de setembro.
No filme, ambientado no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Eastwood interpreta Mike Milo, um ex-cowboy de rodeios que tentou se reinventar como criador de cavalos, sem sucesso. Um dia, Mike recebe o pedido de seu ex-patrão, Howard Polk (Dwight Yoakam, de “O Quarto do Pânico”), para ir até o México e resgatar o filho Rafael “Rafo” (Eduardo Minett) e trazê-lo para o Texas. A princípio relutante, o veterano vaqueiro acaba aceitando a missão.
Depois de alguns percalços, Mike encontra Rafo num local onde acontecem brigas de galo. O rapaz, que tira uns trocados com seu galo, batizado de Macho, aceita em ir para os Estados Unidos para viver com o pai. Mas a mãe do garoto, Leta (Fernanda Urrejola), não gosta da ideia e coloca seus capangas para impedir que isso aconteça. Enquanto tentam fugir dos seus perseguidores, Mike e Rafo acabam criando uma forte amizade e passam por situações que vão mexer com a vida do velho cowboy.
Consagrado como um bom realizador, Eastwood não tem pudores de usar elementos de “Os Imperdoáveis”, “Gran Torino” e “Um Mundo Perfeito” para contar a sua história e torná-la a mais cativante possível, mesmo que não apresente grandes surpresas. Mesmo assim, funciona de forma satisfatória, leve e bem humorada, com seu intuito de desconstruir a imagem de homem durão, celebrada em toda a carreira do ator e diretor.
O roteiro escrito por N. Richard Nash, baseado no livro de sua autoria, e Nick Schenk, cria situações que são muito simples e resolvidas de forma corriqueira, nunca dando a impressão de que os protagonistas estão correndo um real perigo. Mas, pelo menos, o texto cria personagens agradáveis e boas situações de humor que conseguem cativar o público e tornar a falta de peso dramático um problema a ser relevado.
Um outro problema está no fato de que as cenas de ação não têm o impacto esperado. Algo que nem a edição foi capaz de salvar. Mas levando em conta de que Eastwood está com 91 anos, fica difícil cobrar vigor maior ao ator. Felizmente, sua figura ainda surge imponente na tela, apesar das limitações que surgiram com a idade avançada, tornando seu personagem (que quase foi vivido por Arnold Schwarzenegger em 2011) um tipo durão, como muitos que já viveu em sua carreira, mas que sente o passar do tempo.
Parceiro fraco
O grande problema em “Cry Macho”, no entanto, não está na baixa tensão que a trama oferece. Mas, sim, no novato Eduardo Minett, que vive o co-protagonista do filme. O jovem ator não consegue sair da canastrice nem quando tem que falar uma frase simples, como pedir um copo de água, e prejudica os esforços de Eastwood para tornar plausível a relação entre o garoto e o vaqueiro idoso.
Em alguns momentos, as cenas chegam a ser tão ruins quanto às que Sylvester Stallone fez em “Falcão – O Campeão dos Campeões”. Melhor sorte Eastwood teve quando teve Hillary Swank como parceira de cenas em “Menina de Ouro” ou mesmo seu filho, Kyle Eastwood, em “Honktonk Man – A Última Canção”, em 1982. O galo que “interpreta” Macho cumpre bem melhor o seu papel do que o jovem Minett.
Outro problema no elenco está em Horacio Garcia-Rojas (“Narcos: Mexico”) como o capanga Aurelio, que segue no encalço da dupla. Como vilão, ele jamais chega a ser perigoso ou ameaçador, chegando a passar por alguns momentos risíveis para alguém que deveria ser um verdadeiro obstáculo para os dois. Já Dwight Yoakam consegue se sair um pouco melhor como o controverso ex-patrão de Mike e pai de Rafo.
Salvando Marta
Um ponto curioso em “Cry Macho” é a guinada que o filme dá a partir do momento em que Mike e Rafo vão parar numa cidade mexicana para fugir de seus perseguidores e conhecem Marta (Natalia Traven), dona de um bar, que dá abrigo à dupla.
A partir daí, a trama fica focada mais na forma com que o fazendeiro descobre que pode se reencontrar com o que fazia bem no passado, como cuidar de animais, e o clima de romance que surge entre ele e sua nova amiga. Nesses momentos, não tem como não pensar em outra obra consagrada de Eastwood, “As Pontes de Madison”.
Graças aos atores, a relação entre os dois personagens nunca soa estranha ou artificial, tornando-a um dos pontos altos do filme. O relacionamento dos dois ajuda, inclusive, a mostrar a volta da alegria de viver do protagonista, que aparece até mais “jovial”, graças à boa atuação de Eastwood.
Com “Cry Macho: O caminho para redenção”, Clint Eastwood mostra que ainda tem muito a oferecer ao cinema, seja como ator, diretor ou produtor. Embora não figure entre um dos melhores e mais marcantes momentos de sua carreira, o filme serve para manter viva a chama do mito que Eastwood se tornou para fãs do mundo inteiro. E ao que parece, essa chama ainda estará acesa por muito tempo.
Fonte: G1
Créditos: G1