Antes de Aretuza Lovi “nascer”, o cantor Bruno Nascimento enfrentou agressões no ambiente doméstico, fome, depressão, síndrome do pânico, mudou de Estado três vezes, levou calote, foi despejado e teve empregos diversos para conseguir se sustentar. Considerada um dos novos fenômenos da música pop, a drag queen vê as fases turbulentas de seu passado como necessárias para o seu amadurecimento. “Não me considero vítima e odeio o vitimismo. Guardar mágoa e rancor só faz mal”, diz ao Notícias da TV.
Aretuza está no time de artistas LGBTI+ que participam do minidocumentário Coming Out in 60′ – #PRONTOSAÍ, veiculado nos intervalos da programação da MTV. Em seu depoimento, ela fala brevemente sobre seus conflitos internos e ironiza os xingamentos que ouve a respeito de sua sexualidade. “Irrita muito quando me chamam de viadinho. Eu acho muito diminutivo, eu sou viadão, eu sou coisa grande.”
Mas até sentir-se livre para falar abertamente sobre sua orientação sexual, Aretuza precisou “fugir” de casa para se entender e se aceitar. “Eu tive uma infância muito difícil ao lado do meu pai. Ele, percebendo que eu já era uma criança afeminada, começou a me repreender e me tratar com agressões desde muito pequeno”, lembra.
“Sofri agressões físicas e verbais. Ele falava para eu parar de ter comportamento de menina. Só que isso não é uma opção, é uma condição de vida. Nasci dessa forma. Fui muito agredida por meu pai, passei por coisas difíceis porque eu tinha que fazer as coisas da maneira como ele queria. Por um bom tempo da minha vida eu tive muitos traumas por conta dele. Quando fiz 18 anos, eu me assumi e fiquei mais leve.”
Aos 17 anos, fez as malas e trocou Brasília por Belém. Na carteira, apenas R$ 400, adquiridos com a venda de seu telefone celular. “Precisava sair de casa, conquistar as minhas coisas e voltar”, explica. Foi aí que começou o período mais duro na vida de Bruno.
“Quem iria dar uma oportunidade para uma criança de 17 anos? Não tinha maturidade nenhuma. Eu tinha uma reserva de dinheiro, mas ela foi acabando e eu passei pelas piores coisas que poderia passar”, relata.
É difícil não se comover com os relatos de Aretuza. Em seu primeiro emprego, como divulgador de festas, ganhava R$ 100 por mês. “Isso quando me pagavam”, reforça. “Passei necessidade mesmo, de não ter coisas básicas, como um biscoito, em casa. Olhava no mercado e chorava porque não tinha dinheiro. Muitas vezes eu saía de casa para dar uma volta porque não tinha o que comer.”
Aos 19, ela se mudou para Recife com a garantia de um emprego e passou a trabalhar como camareira de bandas, cuidando dos figurinos dos integrantes. Foi aí que iniciou seu contato com a música. “Também passei necessidade lá, sofremos as piores humilhações. Fomos morar na casa de uma amiga porque não tínhamos onde morar e a mãe dela humilhava a gente.”
Uma outra oportunidade de emprego surgiu na Bahia, e Bruno fez suas malas novamente em busca de melhores condições. Acabou adoecendo.
“Desencadeei uma depressão muito forte e síndrome do pânico. Voltei para Brasília pesando quase 50 quilos. E o meu peso normal é 70. Fiquei muito mal mesmo, muito doente. A minha mãe, quando foi me buscar na rodoviária, ficou desesperada. Foi um período muito difícil, depressão é uma doença, maltrata e machuca muita gente. Eu sei a dor de tomar as medicações e de não se sentir ali, de pedir para morrer”, relata.
Início na música
Contratada pela gigante Sony Music e prestes a lançar seu primeiro álbum, Mercadinho, Aretuza demorou para se ver como cantora. Desinibida, iniciou sua carreira em boates gays em 2012 fazendo shows de humor e teve a ideia de lançar uma música, mesmo sem acreditar em seu potencial vocal.
“Nunca achei que tivesse voz para isso. Mesmo assim resolvi gravar uma música e lancei, há seis anos, Striptease, que repercutiu em Brasília, Tocantins e em outros lugares. Em 2016, lancei Catuaba [parceria com Gloria Groove] e foi aí que o grande público começou a me conhecer. De lá para cá, foi só crescimento”, comemora.
O maior sucesso de seu repertório, até o momento, é o funk Joga Bunda, que conta com as participações de Pabllo Vittar e Gloria Groove. O clipe, lançado em janeiro, tem mais de 21 milhões de visualizações no YouTube. Em seu álbum, ainda haverá músicas com as participações das cantoras Iza e Solange Almeida.
“Cada conquista, até mesmo as muito pequenas, me abalam muito. Vivo pelos cantos chorando quando eu conquisto algo. Às vezes não consigo digerir o que está acontecendo. Para mim é uma eterna batalha, os sonhos se transformam em superações diárias. Realizo um, aí vem outro que já quero realizar. O meu foco está em fazer sempre o melhor, e fazer com amor. Fama e dinheiro são consequências da intensidade do amor que você coloca naquilo que faz”, reflete.
Fonte: UOL
Créditos: UOL