COMPORTAMENTO: COMO UM ENSAIO SENSUAL APIMENTOU MEU CASAMENTO

“Tem certeza que você vai pagar peitinho hoje?”, meu marido disse enquanto eu ainda hibernava. Os termômetros de São Paulo marcavam dez graus na manhã daquela quinta-feira. A meteorologia prometia a tarde mais fria do ano, com sensação térmica agravada pela chuva fina. Enrolada no edredom e de conjuntinho invernal, não achei a menor graça. Olhei para a mala lotada com as lingeries que havia separado na noite anterior. Rezei para que “Nossa Senhora das Modelos por Um Dia” me aquecesse com seu manto – de lã, por favor.

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“Tem certeza que você vai pagar peitinho hoje?”, meu marido disse enquanto eu ainda hibernava. Os termômetros de São Paulo marcavam dez graus na manhã daquela quinta-feira. A meteorologia prometia a tarde mais fria do ano, com sensação térmica agravada pela chuva fina. Enrolada no edredom e de conjuntinho invernal, não achei a menor graça. Olhei para a mala lotada com as lingeries que havia separado na noite anterior. Rezei para que “Nossa Senhora das Modelos por Um Dia” me aquecesse com seu manto – de lã, por favor.

O convite para o ensaio apimentado “LIKE A DIVA” acontecera semanas antes. A fotógrafa Bruna Gobbi esteve em um chá de lingerie do Pimentaria. Ela faria as fotos, eu palestraria sobre sexualidade para suas clientes. Seria bom para a minha autoestima e para o meu relacionamento. Como trabalho em casa, morro de preguiça de me arrumar no dia a dia: Felipe se acostumou a me encontrar de roupas largas e descombinadas. Essa seria uma oportunidade de fazer com que ele (e eu também) lembrasse do meu lado mulherão.

Cheguei apreensiva ao estúdio, uma simpática casa no Campo Belo. “Vai ser moleza”, disse a maquiadora, cuidando da minha funilaria. “Você escreve sobre sexo, então sabe ser sexy”. Sabe de nada, inocente. Eu tinha até me programado para treinar uns biquinhos em frente ao espelho, mas acabou não dando tempo. A make up e hair stylist Gisele Barbosa fez malabarismos com pinceis e laquê pra disfarçar a minha cara de “levei o marido no trabalho, a cachorra no veterinário, fiz compras no mercado e uma reunião comercial”.

A produtora de moda Bruna Policastro Drysdale selecionava peças e acessórios numa arara. Estava lá a camisa branca que meu marido usou no dia do nosso casamento. Foi o jeito que encontrei de dizer: “isso é pra você e pra nós dois”. Elas me perguntaram se eu tinha restrições, o que gostaria de esconder ou valorizar. “Gosto do meu peito, odeio minha barriga e a bunda você aumenta no Photoshop”. A fotógrafa avisou que não curtia mexer nas imagens. Merda, devia ter botado isso no contrato (hahaha). Me puni por todo o carboidrato consumido nos últimos meses e pelo sedentarismo de uma vida.

Vesti o primeiro look, arrepiada como se trinta pinguins soprassem o vento polar nas minhas costelas. Pedi qualquer coisa alcoólica e me trouxeram um shot de cachaça. Ligaram o som. Quatro pessoas da equipe me observavam e faziam retoques. O cenário incluía apenas uma cortina, uma banqueta e um espelho. “Vamos lá, Nath”, disseram. Vamos aonde caralho, eu não sei o que fazer, tô travada, quero desistir. Então começaram a me dirigir: “abre mais a camisa”, “agora joga o cabelo”, “olha pra câmera como se fosse seu marido”, “postura!”, “encolhe a barriga e empina a bunda”.

Fui me soltando aos poucos. Ao todo, somaram-se cinco horas entre trocas de figurino, make e poses. Me puseram pendurada numa janela externa, de quatro num sofá retrô, nua e envolta num pano vermelho… Quando me dei conta, eu já estava me achando realmente uma diva. Piscava de canto de olho e forçava o beicinho sem que me pedissem (hahaha). “Sua gostosa”, elas incentivavam – e eu super acreditando. Vi alguns cliques na tela da câmera e fiquei surpresa com o resultado. Voltei pra casa de boca vermelho, sombra preta e juba ondulada. Só pra atiçar a imaginação do Felipe sobre aquela tarde inusitada.

Conter a ansiedade foi a parte mais difícil. Uma semana depois, a Bruna começou a me mostrar algumas imagens. “Essa sou eu?”, ria sozinha. Enviava tudo por Whatsapp para meu marido, doida para ver sua reação. Meu celular não parava de vibrar com as mensagens dele, que não conseguia se concentrar no expediente: “caraca, molequeeeee”, “você é uma puta gata”, “espetáculo”, “você tá ainda mais linda!”. Felipe é o homem mais elogioso que já conheci, capaz de achar minha remela bonita, mas essa empolgação tava bem acima do normal. Eu podia perceber a excitação e o orgulho dele. Foi inexplicavelmente prazeroso. O que mais as fotos e essa experiência renderam? Bem, vocês podem imaginar.