Com qual idade nós descobrimos nossa orientação sexual? Será que uma criança de 9 anos tem idade suficiente para saber qual sua preferência?
Nesta semana, a BBC publicou a história de Jamel Myles, um menino de 9 anos que cometeu suicídio nos Estados Unidos por sofrer bullying depois de revelar a colegas de escola que era gay. O caso ocorreu em Denver, no Colorado.
A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, entrevistou dois psicólogos especializados em sexualidade para saber se é possível determinar com qual idade as crianças descobrem sua orientação sexual.
Os entrevistados são a psicóloga Asia Eaton, doutora em psicologia social e estudos de gênero e professora da Universidade Internacional da Flórida; e Clinton W. Anderson, diretor da Oficina de Assuntos LGBT da Associação de Psicólogos dos Estados Unidos.
BBC News – Com qual idade uma pessoa conhece sua orientação sexual? Há diferentes versões sobre isso ou é um tema de consenso entre especialistas?
Asia Eaton – Há estudos que revelam que os adultos de minorias sexuais experimentaram sua primeira atração sexual por pessoas do mesmo sexo por volta dos 8 ou 9 anos, mas outros pesquisadores dizem que esse desejo só desperta perto dos 11 anos. Há uma variedade de pesquisas sobre qual seria a média de idade.
É uma pergunta difícil, por que há uma diferença entre orientação e identidade sexual. A orientação sexual geralmente se refere ao sexo ou sexos pelo qual ou pelos quais a pessoa sente atração. Já a identidade sexual se refere à percepção de gênero sexual que a pessoa tem de si própria.
Ambas são dinâmicas e podem mudar ao longo do tempo de acordo com o contexto.
A verdade é que a gente tem essas experiências dentro de uma ampla faixa de idade. Alguém poderia ter sua primeira experiência de atração sexual desde os seis até os 16. Ou nunca.
Em média, os jovens de hoje passam a se dizer LGBTQ durante o ensino médio, o que é muito mais cedo que as gerações passadas. Isso ocorre principalmente porque hoje existem maior consciência e aceitação social das pessoas LGBTQ.
Clinton W. Anderson– Esse é um assunto ainda em pesquisa, entre outras razões, porque o gênero e a sexualidade são aspectos da psicologia que refletem as interações entre biologia e contexto sociocultural. Então, à medida que mudam a cultura e a sociedade, o gênero e a sexualidade também estão sujeitos a mudanças.
Certamente há indivíduos que podem experimentar atração sexual aos 9 anos ou antes, mas é pouco provável que com essa idade eles tenham capacidade cognitiva e emocional para compreender completamente o que significa orientação sexual.
Não há uma idade específica em que se espera que todas as pessoas se deem conta de sua orientação ou identidade sexuais. Há algumas pessoas com sexualidade fluida e que podem descobrir no futuro uma orientação diferente.
Para a maioria das pessoas, a orientação sexual – dado que se trata fundamentalmente de relações românticas e sexuais – tende a se desenvolver na adolescência. O gênero, por outro lado, se desenvolve na infância.
BBC News – Até que ponto os pais – e a sociedade em geral – podem influenciar o que as crianças pensam sobre sua própria sexualidade?
Asia Eaton– As pesquisas revelam que a maioria dos jovens LGBTQ dizem que, quando eram pequenos, eram chamados de “mulherzinha” ou “sapatão”, de forma depreciativa.
Todos os jovens que saem do armário correm o risco de sofrer preconceito, discriminação ou violência em suas escolas, locais de trabalho, comunidades religiosas e sociais.
Felizmente, pesquisas revelam que a família, amigos e a escola que apoiam os jovens são pontos importantes para diminuir os impactos negativos dessas experiências.
Os pais têm uma oportunidade poderosa e única para apoiar o desenvolvimento saudável da identidade de seus filhos e também as experiências deles com seus companheiros.
Clinton W. Anderson – A aceitação da diversidade e da identidade sexual é muito importante para a comunidade LGBTQ e para o bem-estar de seus membros.
Uma pesquisa concluiu que a rejeição dos pais está altamente associada a problemas de saúde mental e comportamental. Por outro lado, a aceitação está ligada a resultados melhores nesse sentido.
Essa aceitação dos pais pode proporcionar certa proteção, mas outras instituições com presença de crianças, como escolas e esportes, também podem ter efeitos muito positivos ou negativos, em caso de rechaço ao comportamento de uma criança.
Garantir que essas instituições sejam ambientes seguros e propícios para todas as crianças é muito importante para o sucesso da criança na escola e o bem-estar emocional das crianças.
Fonte: BBC
Créditos: BBC