Existem alguns assuntos espinhosos e controversos na ciência que sempre assustam os mais desavisados. Entre os temas, cura do câncer, novas vacinas (procure por anti vax movement), células-tronco e… manipulação genética.
Por vários motivos, que vão de alinhamento político, religioso, ao medo e à mais pura ignorância, certas pessoas se colocam contra avanços científicos. Há algumas semanas eu noticiei aqui que cientistas descobriram uma forma de desativar uma doença com manipulação genética. O estudo recebeu duras críticas de uma pequena parcela da sociedade americana e de alguns líderes religiosos.
Não vou entrar nos méritos desta discussão especificamente, não é o objetivo deste post e seria apenas contraproducente, mas não deixo de me sentir feliz ao ver casos como da menina Layla que foi salva de leucemia ou dos estudos que podem levar a métodos capazes de eliminar por completo uma doença como a distrofia muscular facial (leia mais aqui.)
Caminhando nesta direção, o Human Fertilisation and Embryology Authority (HFEA), órgão britânico de regulamentação da fertilidade, deu o sinal verde para que cientistas do Francis Crick Institute, em Londres, usassem novas técnicas de alteração de DNA em embriões humanos.
“Meu Deus, Toad, eles estão brincando com fogo e dando início aos Mutantes, como previsto pela Marvel!!”
Acalme-se, jovem. Eu entendo (e compartilho) seus temores. Por isso, fui atrás das minutas desta licença, que podem ser encontradas em PDF neste link. Para alegria geral da nação, o documento possui cláusulas que visam garantir que dado estudo foque apenas na correção de pequenos defeitos que podem culminar em doenças, não na criação de um super soldado aos serviços da rainha, nem um 007 imortal.
Obviamente não é um documento que vai segurar os impulsos de um cientista maluco, mas temos o caráter legal para cortar sua verba e mandá-lo para os esgotos, digo, para a cadeia, se necessário.
Voltando ao mundo real agora, é a primeira vez na história que um país permite o uso desse tipo de técnica. O objetivo principal aqui é buscar uma compreensão mais aprofundada dos estágios iniciais da vida humana. Não será permitido, por exemplo, implantar um embrião modificado em uma mulher. Em vez disso, os experimentos serão aplicados nos sete primeiros dias após a fertilização, quando o embrião é chamado de blastocisto, contendo de 200 a 300 células.
Quem vai liderar esse projeto é a Dra. Kathy Niakan, que passou ao menos a última década inteira pesquisando o desenvolvimento humano.
No início do ano, ela explicou o motivo pelo qual começou a estudar a alteração do DNA de embriões humanos: “Nós realmente gostaríamos de entender o que é necessário, geneticamente falando, para a formação com sucesso de um embrião humano saudável. A razão pela qual isso é tão importante é que abortos espontâneos e infertilidade são muito comuns, mas esses fatores não foram apropriadamente estudados.”
Segundo a cientista, de cada 100 fertilizações, menos de 50 embriões chegam a atingir os primeiros estágios de blastocisto. Destes, 25 inseminam o útero e só 13 se desenvolvem a ponto de ultrapassar os 3 meses. É justamente no período de blastocisto que algumas células se organizam para executar tarefas cruciais para a vida humana, como a formação da placenta, do saco vitelino e por último, mas não menos importante, nós.
Como e por que isso acontece, a gente ainda não sabe, mas algumas partes do nosso DNA são particularmente ativas nesse período.
É importante citar que os pesquisadores vão alterar genes de embriões recebidos de doações, que serão destruídos depois de sete dias. A Samara aprova.
O Dr. David King, diretor de Genética Humana da organização, alerta: “Sim, essa pesquisa vai permitir aos cientistas que refinem suas técnicas para criarem eventuais bebês geneticamente modificados (BGM), e a maioria dos consultores governamentais de cunho científico já demonstrou aprovar isso. Então esse é o primeiro passo na direção de um processo bem detalhado que nos levará aos BGM e um futuro com eugenia liberal.”
Fonte: Tecnoblog