PERDÃO

Chico Buarque aceita pedido de perdão de Claudio Botelho após confusão em BH

Assessoria do compositor carioca dá a entender que ele poderá retirar o veto ao uso de sua obra para novos projetos do ator, produtor e diretor

A assessoria de imprensa do cantor e compositor Chico Buarque informou que ele “aceitou a retratação” do ator, produtor e diretor Claudio Botelho e deu a entender que ele poderá voltar a trabalhar com sua obra.

Em longo texto publicado hoje em seu perfil no Facebook, Botelho pediu perdão a Chico pelo episódio ocorrido na estreia do espetáculo “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 minutos”, no último sábado (19/3), em Belo Horizonte. De improviso, Botelho se referiu a Lula e a Dilma Rousseff como “ladrões”. Protestos de parte da plateia levaram à suspensão do espetáculo e ao cancelamento da segunda sessão, que ocorreria no domingo (20/3).

desculpas Claudio botelho

Ao ser informado do episódio, Chico anunciou que retiraria de Botelho a autorização para usar sua obra nesse e em demais projetos. “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 minutos” é a sexta montagem de Botelho a partir da obra do compositor. Nesta terça (22/3), antes das desculpas de Botelho, a assessoria do compositor carioca havia informado que o veto não incluía as versões musical e cinematográfica de  ‘Os Saltimbancos Trapalhões’, “em consideração a Renato Aragão”.

Pelo que a assessoria de Chico deu a entender, Botelho poderá voltar a usar sua obra. “Isso (o pedido de perdão) certamente será levado em consideração. Na prática, Chico apenas não autorizaria pedidos futuros, já que as apresentações em BH encerravam a turnê daquele espetáculo e Chico já havia dito que não retiraria a autorização de ‘Os Saltimbancos Trapalhões’ em consideração a Renato Aragão”, disse a assessoria.

Leia o pedido de desculpas na íntegra aqui:

UM PEDIDO DE DESCULPAS

Os incidentes do último sábado em Belo Horizonte durante a sessão do musical TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS são do conhecimento de todos, eu suponho. Emiti uma opinião pessoal que causou reação negativa de uma parte da plateia. Mais do que isso, o espetáculo foi interrompido e a sessão não chegou ao final.

Deste acontecimento infeliz que me tem causado enorme desgosto desde então (ameaças à minha integridade física pelo Facebook, telefone, trotes, acusações diversas sobre meu caráter e minha honra, insinuações sobre meu pensamento a respeito de temas delicados como racismo, autoritarismo, censura, entre outros) – desde aquele momento, apenas sofro, penso e repenso, estou muito triste. Porém minha tristeza é o que menos interessa neste momento.

Mas há algo fundamental e definitivo: peço desculpas a Chico Buarque. Nada do que vier de mim, nenhuma palavra, gesto ou pensamento, poderá jamais servir para desagradá-lo. Ele é o autor, o compositor, e estou trabalhando com sua obra. Desta forma, reconheço sua soberania a respeito de tudo que envolva seu nome e sua criação. O simples fato de mencionar qualquer assunto ligado a Chico (citei em entrevistas, equivocadamente, o histórico atentado à peça RODA VIVA nos anos 1960, que não têm qualquer semelhança com o fato do último sábado; citei episódios de repressão pelos quais ele passou, assuntos que não são de minha alçada e que não têm qualquer ligação com o incidente de sábado passado) é inaceitável, não tenho nenhum direito de inferir, pressupor, fazer ilações com nada que se refira ao autor, seja Chico ou qualquer outro artista que me autorize a trabalhar com sua obra. Minha obrigação – por ética e respeito – é ser cuidadoso, reverente, e em nenhuma hipótese atingir a história, o pensamento, a identidade de quem me permite generosamente colocar em cena suas obras. Este é meu dever como diretor, ator, e produtor. .

Errei. Erro muito. Sou humano, mas isso não me desculpa. Aos 51 anos, sendo também autor e sendo um homem de história longa no teatro, eu tinha por obrigação preservar o autor e sua obra, não permitir que nada partindo de mim resvalasse nele, seja da forma que fosse. Por ser um admirador apaixonado e mais que isso, um pretenso “buarquiano” de carteirinha, minha responsabilidade é ainda maior. Dirigi e produzi ÓPERA DO MALANDRO, SUBURBANO CORAÇÃO, OS SALTIMBANCOS TRAPALHÕES (peça e filme que acaba de ser realizado com minha direção musical), NA BAGUNÇA DO TEU CORAÇÃO, ÓPERA DO MALANDRO EM CONCERTO, e idealizei TODOS OS MUSICAIS DE CHICO EM 90 MINUTOS como uma maneira de reverenciar o artista, o compositor, o autor. Mas falhei com minha responsabilidade, com Chico, falhei com o teatro e com a música.

Um áudio clandestino, gravado em meu camarim, me flagra num momento de enorme nervosismo, de destempero, de raiva. Nada justifica que invadam minha privacidade, considero a gravação um ato criminoso e a divulgação dela pelas mídias sociais é uma agressão à minha intimidade. Portanto, isto está sendo tratado em esfera policial e jurídica. Mas mesmo assim, por ter sido duro, descortês, arrogante e destemperado (o momento era muito inflamado), peço desculpas a todos que ouviram aquele Claudio Botelho sem compostura. E, se atingi alguém, mesmo tendo sido violada minha privacidade, peço novamente desculpas.

Minha exaltação e qualquer menção à obra do autor naquele dia são motivo de vergonha para mim neste momento. De qualquer forma, ouso crer que, por mais desatroso que tenha sido o acontecimento, o teatro ainda é um espaço que pode levantar debates nacionais de extrema relevância e repercussão. O teatro é sagrado e será sempre um espaço livre, de troca de ideias e de respeito às diferenças. Assim espero e por isso torço.

Envergonhado por ferir um estatuto sagrado do Teatro – respeitar o autor e público –, tenho obrigação de invocar novamente a única palavra que me parece oportuna neste momento: perdão.

Sinceramente,
Claudio Botelho

Fonte: UAI
Créditos: UAI