Entenda a questão: em um episódio do Chapolin, o herói mexicano é desprezado por uma personagem, que diz que teria sido melhor “chamar o Batman” do que ele. Na dublagem anterior do trecho, exibida pelo SBT, o desbocado Chapolin não deixava a questão por menos e disparava: “Em primeiro lugar, o Batman não está, porque está em lua de mel com o Robin”. No Multishow, a frase considerada homofóbica e substituída por: “Em primeiro lugar, o Batman não pôde vir porque furou o pneu do batmóvel.”
O que historiadores que defendem a preservação das obras como foram criadas afirmam é que, ao servir de janela para um outro tempo, uma outra mentalidade, uma outra cultura, uma determinada obra nos ensina a ler contextos históricos e a aprender com eles. Essa espécie de censura póstuma, ao contrário, fecha a janela e limita o saber. Retoma-se aqui, entre outros, o argumento de que é preciso conhecer o passado para não repeti-lo no presente. Também pode ser animador, a depender da situação, ver como a sociedade evoluiu em termos de valores.
Mais quente, a discussão sobre os limites do humor traz ainda mais elementos éticos, e, a julgar pelo posicionamento de nomes como Renato Aragão e Marcius Melhem, está sendo vencida por quem sabe fazer humor sem recorrer a golpes baixos.
O Multishow explicou sua posição por meio de um texto assinado por sua diretora de programação e conteúdo artístico, Tatiana Costa. “Em algumas piadas, realmente existe um cunho homofóbico, mais machista. Nos anos 1970, isso era mais comum, mas hoje, felizmente, estamos em outro momento. Vamos entendendo o limite dentro do humor”, afirmou.