Caso paraibano de garota ameaçada pelo Whatsapp por rapaz insatisfeito com rejeição ganha repercussão nacional

Nas mensagens enviada a jovem o agressor diz que ela se arrependeria por não querer ficar com ele

 

julia correa

No início da semana, a jovem Julia Corrêa, de João Pessoa, na Paraíba, resolveu fazer um desabafo público no Facebook. Um garoto que ela conheceu pelo aplicativo Tinder passou a ameaçá-la depois de uma negativa à proposta de um encontro. Julia postou os prints da conversa que teve pelo WhatsApp com um tal de Renan, juntamente com o telefone do rapaz. As mensagens eram assustadoras. Agressivas o suficiente para que Julia fizesse uma denúncia às autoridades.

Julia optou por recorrer ao tribunal do Facebook. O veredicto ela já imaginava: culpado. Ainda mais diante de todos os seus amigos e dos absurdos que Renan havia dito. Só que ela não imaginava a repercussão que o caso teria. Em pouco tempo, a publicação se espalhou pelo Facebook e seus cerca de 100 milhões de usuários no Brasil. Aqui na redação, muitos colegas receberam as mensagens com o telefone de Renan. A reação das pessoas e a sede por justiça foi tão incisiva – na falta de um termo melhor – que Julia tirou a publicação do ar. Na quarta-feira (13/01), justificou-se:

“Não corroboro com a ideia de “fazer justiça com as próprias mãos” e como percebi muitas agressões para com ele, decidi fazer o certo. As coisas não podem ser resolvidas dessa forma. Não se combate violência com violência. O post foi apenas informativo para que outras pessoas tivessem ciência do acontecido. Além disso, serviu como um aviso para todas as mulheres (e homens!). É importante denunciar”.

Cara Julia. Se todos fossem iguais a você, que maravilha seria viver nas redes sociais. A brincadeira de péssimo gosto do seu agressor – como você a classificou – não merece ficar impune. Mas há instituições e mecanismos legais para se buscar justiça. Às vezes temos a sensação de que tudo o que publicamos em nosso perfil está sob controle. Não está. E justamente por não conseguir prever que tipo de reação as pessoas terão, atirar outras pessoas aos leões – ainda que sejam nossos próprios agressores – é correr o risco de cometer o mesmo erro (ou crime). De ser o agente que iniciou uma sessão de linchamento virtual. Julia sofreu pessoalmente com a agressão. O mais comum, porém, é que nos juntemos em tribunais para julgar problemas alheios de pessoas que às vezes nem conhecemos.

Você já malhou o seu Judas hoje na internet hoje? Já xingou o suposto agressor de animais que teve a foto estampada numa comunidade de defesa dos bichos? Mandou para toda a sua lista as postagens daquele professor que – dizem – usava sua influência para abusar de alunas? E da placa do carro que parou irregularmente, segundo o autor da postagem, numa vaga reservada a deficientes? Você consegue checar se todos eles fizeram isso mesmo? Se de fato fizeram, você garante que ao submetê-los ao tribunal do Facebook está garantido que eles não passem de agressores a agredidos? Será que as autoridades estão sabendo sobre o caso que você está compartilhando?

Entendo que é um assunto polêmico. As redes sociais são um excelente instrumento de defesa do coletivo. Os vídeos mostrando as agressões da Polícia Militar aos manifestantes nas ruas de São Paulo nesta semana são um exemplo disso. Mas o papo é diferente quando estamos falando de instituições e pessoas públicas, que têm uma estrutura para se defender. O equivalente seria destacar a imagem de um único PM agressor, publicá-la como denúncia dando nome e endereço daquele policial que bateu cumprindo ordens. E se alguma organização criminosa usar aquela informação que você compartilhou para executá-lo? Entende quando eu digo que impossível prever a reação daquilo que publicamos?

Vale a pena pensar na Julia na sua próxima participação no tribunal do juri no Facebook.

 

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