Após chegar várias vezes em segundo lugar (2020-2010-2007-2006), a Acadêmicos do Grande Rio tem chances reais de finalmente conquistar o inédito título do Carnaval carioca. Com o enredo “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu”, a escola de Caxias, na Baixada Fluminense, fez um desfile de canto forte e samba vibrante, além de alegorias bem cuidadas. Viradouro e Vila também devem voltar entre as seis, no sábado (30).
A decepção ficou com a São Clemente, em homenagem ao ator Paulo Gustavo, com uma sucessão de erros cruciais — tanto em acabamento de carros, quanto na execução do enredo. A seguir, mostramos o destaque de cada agremiação e os pontos fracos que devem ser avaliados pelos jurados. A apuração será amanhã, às 16h, e os resultados podem ser acompanhados em tempo real pelo UOL.
Imperatriz Leopoldinense Enredo: “Meninos, eu vi… onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine” PONTO ALTO: O samba muito bom, funcional para o desfile apresentado. PONTOS CRÍTICOS: Na comissão de frente, a dança africanizada não combinava com a roupa modernosa toda espelhada. Aliás, é preciso que as escolas repensem suas comissões de frente visando aos dois lados da Sapucaí, se apresentando para frente. Quando se traz um tripé imenso que impede a visão do outro lado da pista, vira uma “comissão de lado”, o que não é justo com o público. O último carro veio com nível de grupo de Acesso, deixando confuso o desfecho da homenagem a Arlindo Rodrigues. Joãosinho Trinta e o patrono Luizinho Drummond, morto em 2020, não deveriam estar ali. COLOCAÇÃO: Meio do ranking pra baixo, permanecendo no grupo Especial.
Mangueira Enredo: “Angenor, José & Laurindo” PONTO ALTO: A comissão de frente trocando de roupa rapidamente, uma das melhores desse ano. Foi emocionante a ideia de meninos se transformando na fase adulta. PONTOS CRÍTICOS: Eram três homenageados para um só desfile: Cartola, Jamelão e Delegado. Muita coisa para apenas quatro alegorias, o menor conjunto do grupo Especial. Dos três, Jamelão pareceu mero coadjuvante. As fantasias das alas priorizaram a cintura pra cima. Samba crítico para o padrão da escola. COLOCAÇÃO: Deve oscilar no meio da tabela, mas pode surpreender com uma sexta colocação e voltar no próximo sábado.
Salgueiro Enredo: “Resistência” PONTOS ALTOS: Melhor comunicação com público no primeiro dia. Bateria excelente. Uma das fantasias mais bonitas entre todas as baterias que passaram. Não tinha um dos melhores sambas, mas o refrão que funcionou. A comissão de frente na areia lembrou a da Grande Rio na água em 2020, inclusive com as trocas de luzes ao ritmo da coreografia. PONTOS CRÍTICOS: A estética retrô no começo da escola, trazendo a personagem Xica da Silva, não dialoga com a segunda parte, mais atual, como a do carro com o baile charme debaixo do viaduto. Parecia dois desfiles em um, pela ruptura na leitura estética. Outro ponto a se destacar: colocar guardiões protegendo o casal de mestre-sala e porta-bandeira deve ser revisto, porque impede a visão de quem assiste das frisas e camarotes. COLOCAÇÃO: Pode beliscar uma posição entre as seis.
São Clemente
Enredo: “Minha Vida é Uma Peça”
PONTO ALTO: A presença de dona Déa Lúcia, em sua firmeza e delicadeza, contagiou as arquibancadas.
PONTOS CRÍTICOS: O tripé da comissão da frente, além da coreografia de passinho “pra cá e pra lá” e fantasias se desfazendo, foi um grande erro. O carro passou apagado e dona Déa aparecia primeiro pra quem estava de costas. Ou seja, um erro primário. No abre-alas, as asas em espuma da escultura de Paulo Gustavo estavam mal feitas, chegaram caídas ao término do desfile. Constrangedor o tripé com bolo de casamento. No geral, o enredo não se sustentou. Faltou emoção, porque a proposta era fazer homenagem a um humorista com um samba lamentoso. Não deu liga.
COLOCAÇÃO: É a mais cotada para cair, nenhuma outra errou tanto.
Viradouro
Enredo: “Não Há Tristeza Que Possa Suportar Tanta Alegria”
PONTOS ALTOS: Foi a melhor bateria do ano, com a inclusão de pratos nas paradinhas. Na primeira noite de desfiles, foi a escola que melhor passou com pinta de campeã. O samba foi bem defendido. A comissão também dançou na pista, divertido o momento em que as caveiras bateram perninhas. Proposta bem executada. Aliás, o chão da Sapucaí tem que ser pisado, é o lugar sagrado do samba! Nenhuma abertura de escola deve ser unicamente suspensa em tripés e alegorias. Os componentes devem dançar no chão até mais do que sobre carros.
PONTOS CRÍTICOS: Começou soturna demais. A defesa até é justificável, porque se inicia durante a pandemia da gripe espanhola. Mas passou pesada, toda preta e branca. Faltou certa maturidade estética de execução ao se usar a cor preta, impedindo definição de formas. O mestre-sala perdeu o sapato na frente de um dos módulos de jurados.
COLOCAÇÃO: Boa chance de voltar entre as seis.
Beija-Flor de Nilópolis
Enredo: “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”
PONTOS ALTOS: Lindas as esculturas da Pinah e de Laíla no final do desfile. É um samba que embalou as alas. A escola voltou a cantar forte como nos bons tempos.
PONTOS CRÍTICOS: Comissão de frente ruim, com dificuldades no momento de armar o barco de ferro. No chão de areia, painéis de LED num caixote não conversavam com a estética proposta. E no fim, explodia a cabeça branca de uma estátua. Mau gosto… Um abre-alas monumental, que trazia um beija-flor egípcio cujo rabo saía da sua barriga! O ferro aparente na parte de trás da alegoria comprometia o conjunto alegórico. O carro da favela de Carolina Maria de Jesus não teve impacto. O salto da porta-bandeira Selminha Sorriso quebrou no segundo módulo, o que a deixou insegura nas apresentações.
COLOCAÇÃO: Com chance de voltar entre as seis, mas sem força para ser campeã.
Paraíso do Tuiuti
Enredo: “Ka Ríba Tí Ye – Que nossos caminhos se abram”
PONTOS ALTOS: A harmonia muito boa. Como cantou! Tudo ajudado pelo excelente samba e pela bateria cadenciada. A princesa Mayara Lima reinou absoluta como a “rainha do povo”.
PONTOS CRÍTICOS: A mistura de personagens pop e religiosos com personagens reais não deu liga. Orixás, Barack Obama, Pantera Negra… Tudo no mesmo saco. Evolução lenta demais, correu no final, abriu buracos. O tripé da comissão de frente era do tamanho de uma alegoria, totalmente desnecessário. Assim como Viradouro e Imperatriz, o trambolho impediu visão geral da coreografia. Abre-alas vazio, sem impacto o efeito de alas subindo escadarias. Paulo Barros não se reencontrou com sua estética. Mais uma vez trouxe alegorias como parquinho infantil de subúrbio carioca.
COLOCAÇÃO: Deve ficar na base do ranking, numa das últimas posições.
Portela
Enredo: “Igi Osè Baobá”
PONTO ALTO: É uma bonita Portela diante de seus próprios desfiles, mas no comparativo com as demais não aconteceu. Apesar do samba fraco, a escola cantou muito no começo da apresentação.
PONTOS CRÍTICOS: Abre-alas imenso e repetitivo em sua grandeza, um caixote enfeitado. A águia veio tímida, mais magra do que deveria. Um dos componentes da comissão de frente caiu em frente ao primeiro módulo de jurados. Faltou valorizar mais o baobá, enredo da escola. Fantasias pesadas, que se desfaziam ao longo da Sapucaí. Várias alas com problemas de acabamento. Erros de acabamento no globo terrestre, que passou quebrado. Três bustos africanos, numa das alegorias, foram cobertos com véu branco no corpo, nitidamente porque não deu tempo de finalizá-los. A escola passa por problemas financeiros e funcionários estão sem receber.
COLOCAÇÃO: Meio da tabela, podendo surpreender se conquistar vaga entre as seis.
Mocidade Independente de Padre Miguel
Enredo: “Batuque ao Caçador”
PONTOS ALTOS: Fantasias maravilhosas, com destaque para o último setor em homenagem a baterias de carnavais inesquecíveis. O trono vazio da Elza Soares na última alegoria provocou emoção em quem entendeu a ideia. Mas faltou um microfone ou elemento que remetesse a ela. O melhor samba do ano, sem dúvidas.
PONTOS CRÍTICOS: Evolução e acabamento foram os dois pecados da escola. Entrou com pinta de campeã, imponente. Mas o ferro da comissão de frente, um imenso guindaste descoberto, comprometeu o apuro estético. Num dos módulos, dois tambores não acenderam. O abre-alas teve dificuldades de passar e abriu vários buracos na avenida. No final, desacoplou e a escola deve ser punida. A alegoria com um imenso elefante, uma das mais originais do ano, tinha erros de acabamento. Faltou cuidado de barracão, problema que se repete há anos na escola. Muda carnavalesco e o problema continua.
COLOCAÇÃO: Vem para o meio de tabela, podendo até beliscar um lugar entre as campeãs pela força de alguns quesitos, como samba, fantasias e bateria.
Unidos da Tijuca
Enredo: “Waranã, a Reexistência Vermelha”
PONTOS ALTOS: Grande surpresa da noite, a paleta de cores quentes funcionou nas alegorias. Embora simples, eram de fácil leitura. Enredo bem contado. A comissão de frente sintetizou todo o enredo, quando a morte do índio faz surgir a lenda do guaraná. O samba funcionou, com destaque para a voz feminina no carro de som. Foi uma apresentação simples e correta. Despretensiosa, desfilou sem o peso de ser campeã.
PONTOS CRÍTICOS: Fantasias sem solução criativa, temática indígena repetitiva e sem apelo estético.
COLOCAÇÃO: Tem chance de voltar entre as seis.
Grande Rio
Enredo: “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu”
PONTOS ALTOS: É um desfile histórico, um dos melhores da era sambódromo. A imagem desse Carnaval é a escultura do bate-bola na penúltima alegoria. Seu sacolejo era lindo. Foi desfile de uma força poucas vezes vista. A escola carnavalizou o espírito debochado e enigmático de Exu.
PONTOS CRÍTICOS: O segundo carro passou apagado no segundo módulo. E mesmo sem luz, era bonito. O elemento cenográfico da comissão de frente era muito alto. Exu é entidade das encruzilhadas, não de altar elevado. Devia ter vindo no chão, valorizando os saberes de avenida como terreiro. Faltou mais dança no chão.
COLOCAÇÃO: São grandes e reais as chances da escola ser, pela primeira vez, campeã do Carnaval carioca.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: uol