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Carmen Red Ligth: conheça a cantora, compositora e produtora cajazeirense radicada na Inglaterra

Ela inventou seu nome já compondo também uma personalidade para si: Carmen é de Carmen Miranda, o maior símbolo do Brasil no exterior entre os anos 1940 e 50. Red Light vem do filme ‘O bandido da luz vermelha’, personagem de um clássico do cinema marginal dos anos 1960. É assinando como Carmen Red Light que Izabella Ricarte vem trabalhando como cantora, compositora e produtora musical em Londres, na Inglaterra, de onde tem lançado músicas e videoclipes com o estilo gothic rock, transitando com performances sensuais pelo universo do underground que teve início para ela no Centro Histórico de João Pessoa.
“Eu já cantava aqui em uma banda chamada A Mãe de Quem. O grupo era relativamente conhecido entre os estudantes da cidade. Chegamos a tocar em muitos eventos da cena do final dos anos 90. Nessa época, me chamava Java. Era esse personagem, esse meu eu, antes da transição”, lembra Izabella, que se mudou para a Europa em 2004, e há 14 anos mora e trabalha em Londres.

Ela estará em João Pessoa para o lançamento do videoclipe ‘Corre veado’, gravado no bairro londrino de Camden Town. A produção audiovisual dirigida e produzida por ela mantém o estilo vocal agressivo e tenso, e será apresentado no dia 25 deste mês, em local ainda a ser confirmado.

“Um orgulho de poder lançar o videoclipe onde tudo começou na minha vida, onde foi a base da minha carreira. É um trabalho difícil, mas com garra, com luta a gente consegue. É difícil sem apoio, sem patrocínio, mas para isso somos fortes”. Ela conta que já se dedicou a todo tipo de trabalho nesses anos morando fora. “Eu já fui escort também”, diz ela usando a expressão em inglês comum para acompanhantes e profissionais do sexo. “Já fiz de tudo que você imaginar para sobreviver, menos coisas ilegais, menos crime. Mas um ponto sempre que me mantinha viva, era a música”.

Em transição – Nascida em Cajazeiras, no Alto Sertão do estado, Izabella Ricarte é filha de uma costureira com um comerciante local. Ela afirma que nunca sentiu preconceito ou rejeição dentro de casa, mas uma angústia e uma inquietação persistiam. “Existia algo dentro de mim que eu não sabia se era dentro de mim ou se era na Paraíba, no mundo em que vivia. Mas uma liberdade que me faltava. Socialmente, não me sentia com forças para ser eu mesma. Tinha muita força artística e movimento, mas faltava algo. Acho que faltava esse respeito que a Europa me deu, para me dar a liberdade da transição”.
Carmen Red Light também tem procurado fazer uma transição de ordem musical em sua carreira. As tradições roqueira e eletrônica, típicas dos anos 1980 e 90, que ela vem defendendo desde o início de sua trajetória artística, deve ser deixada em segundo plano para assumir uma estética mais pop e latina, ritmos que vêm emplacando sucessos no mundo todo.

“É o fim de uma era com esse videoclipe de ‘Corre veado’”, anuncia a artista paraibana. “Quero um trabalho mais atual e eu vim para o Brasil com essas aspirações. O espaço nesse mercado eu considero estar superaberto comparado ao passado. Existe o inconveniente da indústria da música mainstream estar mais voltada para o pop, mas o rock é pop, no final das contas. Eu me acho supercabível a essa cena atual, nesse espaço”, explica ela.

Independentemente do estilo de música que Carmen Red Light produz, as suas referências ainda são as que ela carrega desde o tempo em que vivia em João Pessoa: Amelinha, Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Raul Seixas, Secos e Molhados e Rita Lee. Foi com esse repertório em sua formação musical que ela se lembra das melhores apresentações que já realizou em João Pessoa. “Tive o prazer de fazer um show na Praça Antenor Navarro, no lendário Cabaré de Dona Hilda, no final dos anos 90, onde aconteciam muitas coisas inusitadas. A própria Dona Hilda e as meninas decidiram tirar a noite para se divertirem e o ambiente se tornou a própria cena underground viva e diversa da cidade”, recorda ela.

Depois de lançar cinco videoclipes e cinco singles, Carmen Red Light está à procura agora de formar uma banda, em Londres, para encarar essa nova guinada musical, a fim de realizar o sonho de ser reconhecida nacionalmente. O que permanecerá inalterado, porém, é a mensagem que ela pretende passar com sua música. “É essa transexual que se sente abafada, que se sente boicotada, que se sente como eu já me senti muito na minha vida. E ela dá o seu grito de liberdade. Vai gritar que ela não é o estereótipo que criaram para ela. Ela está livre, vai andar pela cidade e ser ela mesma. Ela dá o seu grito que, com a música, vai ser entendido. A trans saindo dessa prisão social e se mostrando ao mundo”.

Fonte: culturacz
Créditos: Polêmica paraíba