Apesar de ter sido um dos desfiles de moda de maior sucesso durante 20 anos, a marca de lingerie americana Victoria’s Secret cancelou o badalado lançamento de sua nova coleção, em meio a problemas econômicos e polêmicas ligadas ao escândalo #MeToo.
A decisão era debatida desde o meio do ano, após a queda progressiva da audiência do desfile com modelos belíssimas em peças minúsculas, que começou em 1995 e era assistido em todo o mundo.
Em 2014, as ‘Angels’ da marca atraíram uma audiência de nove milhões de telespectadores americanos. Em dezembro de 2018, foram apenas 3,3 milhões.
O anúncio foi feito na quinta-feira (21) em uma teleconferência entre dirigentes da casa matriz, a L Brands, com analistas financeiros sobre os maus resultados trimestrais da marca.
“Vamos nos comunicar com nossos clientes, mas nada similar ao desfile em magnitude”, disse o diretor financeiro, Stuart Burgdoerfer.
Ele confirmou que a Victoria’s Secret, que antes encarnava o glamour e contratava supermodelos como Gisele Bündchen e Naomi Campbell, não consegue se recuperar apesar de várias mudanças em sua direção.
As vendas apenas superaram o US$ 1,1 bilhão no terceiro trimestre de 2019, uma baixa de 7% em relação ao mesmo período de 2018. Trinta lojas que pertenciam diretamente à marca fecharam as portas desde fevereiro passado.
Seu mau desempenho contribuiu para fazer despencar os resultados trimestrais da L Brands, já que a Victoria’s Secret era sua joia. A L Brands anunciou uma nova perda líquida de US$ 252 milhões.
Estratégia de marketing questionada
A Victoria’s Secret parece pagar o preço de uma série de polêmicas que contribuíram para associá-la à imagem da “mulher objeto”, desgastada após uma crescente demanda por diversidade nas passarelas e uma tomada de consciência dos múltiplos casos de assédio e agressões sexuais sofridos por modelos.
A marca tentou acertar o passo em seu desfile de 2018, com um casting de modelos mais cosmopolita.
Mas dias depois, o diretor de marketing, Ed Razek, desencadeou forte controvérsia, ao descartar a possibilidade de integrar aos desfiles modelos transgênero ou mulheres mais curvilíneas, rejeitando uma forte tendência nos Estados Unidos nos últimos anos. Apresentou, em seguida, suas desculpas em público.
Savage, nova estrela da lingerie
Talvez ainda mais grave é que a marca foi mencionada várias vezes nos últimos meses em associação com o escândalo do investidor nova-iorquino Jeffrey Epstein, que morreu na prisão após ser acusado de agredir sexualmente jovens menores de idade durante anos.
Epstein foi durante muito tempo amigo e funcionário de Leslie Wexner, chefe da L Brands que o introduziu no jetset e nos desfiles da Victoria’s Secret.
Embora Wexner assegure ter rompido relações com Epstein há mais de dez anos, a L Brands informou em julho, após a acusação contra o investidor, que pediu aos advogados externos à empresa que revisassem todos os possíveis vínculos com ele.
A associação de defesa de modelos Model Alliance saudou no Twitter o cancelamento do desfile e destacou que mais de uma centena de modelos assinaram uma carta pedindo à Victoria’s Secret que adote seu programa “Respect”, que busca prevenir agressões sexuais e garantir condições de trabalho igualitárias.
Enquanto isso, a nova estrela do mundo da lingerie é a cantora Rihanna, com sua marca Savage.
E sua proposta é exatamente a contrária da Victoria’s Secret: a diversidade é sua prioridade e nelas, as mulheres parecem dominar seu corpo e seus desejos, assumindo suas formas sem se preocupar com os olhares masculinos.
Hoje, as estrelas preferem ir aos desfiles de Rihanna e é usando Savage que desfilam as modelos mais famosas, como Gigi e Bella Hadid ou Cara Delevingne, que participaram em seu desfile em Nova York em setembro.
“Foi a primeira vez que me senti realmente sexy numa passarela”, disse recentemente Bella Hadid à revista Elle. “Nunca tinha me sentido tão poderosa em um palco, de roupa íntima”, disse a modelo, ela própria uma ex-Angel da Victoria’s Secret.
Fonte: G1
Créditos: G1