Há cerca de 14 anos, o jornalista Airton Gontow, 57, se separou da primeira mulher. Nesse processo, mesmo sem ser tímido, conta que vivenciou as dificuldades que uma pessoa mais velha tem para conhecer alguém e se relacionar amorosamente. “Você não está mais na faculdade, nem tem aqueles grupos enormes de amigos. Além disso, está sem paciência para sair, vai do trabalho para casa, e vice e versa, não quer se envolver nesse ambiente para não atrapalhar a parte profissional. Então, é difícil conseguir alguém”, relata.
Ao conhecer a atual mulher, aos 45 anos, deixou essa experiência no passado. Tudo veio à tona quando há quase sete anos foi a uma festa que promovia o encontro de colegas de escola. Ali, encontrou muitos solteiros, viúvos e, principalmente, divorciados. “Escutei muito, tanto de homens quanto de mulheres, que alguém para sair eventualmente seria relativamente simples de encontrar. A dificuldade deles era conhecer pessoas com afinidades culturais e objetivos de vida semelhantes, um companheiro em vez de apenas uma companhia”.
Foi a partir dessa ideia que surgiu, em 2012, o app Coroa Metade, criado por Airton. “Não acho errado quem é mais velho entrar em um site de relacionamento que possibilite encontrar pessoas mais jovens. Se você tem 60 anos e procura alguém de 20 anos tem todo o direito de fazer isso, mas não no Coroa Metade. Aqui é só a partir de 40 anos”, explica ele.
Outro aplicativo com perfil parecido é o Our Time. No app norte-americano, que chegou ao Brasil somente em 2016, o foco são pessoas com 50 anos ou mais. A principal vantagem aqui –as opções de filtro, que permitem chegar a um pretendente mais de acordo com o perfil procurado– pode cair por terra se o usuário não for muito familiarizado com a tecnologia. Do contrário, é um atrativo bacana.
Por conta das dificuldades apresentadas por pessoas mais velhas no mundo dos aplicativos, alguns sites de relacionamento, optam por manter apenas a versão da web, sem o app. É o caso do Namoro Maduro, por exemplo. Nesse site, o cadastro e boa parte das funcionalidades são oferecidas de maneira gratuita, o que pode ser considerado um diferencial para os interessados.
Para Airton, relacionamento virtual não existe. “A relação é real, o meio é virtual. Por mais que você converse pela internet, por mais que fale bastante, o que continua a valer é a hora do encontro frente a frente: o olhar, o toque, a energia, o beijo. Nós não somos máquinas, somos seres humanos em busca de amor, carinho e companheirismo”.
Final feliz
Shirlei Aparecida Pires, 55, conheceu o Coroa Metade por intermédio de uma amiga do trabalho. “Em 2013, estava um pouco triste e meio decepcionada com minha vida amorosa. Como estava descrente, entrei no app mais para me distrair. Encarei como uma brincadeira, já que não botava fé em relacionamentos estabelecidos dessa forma, até que vi o perfil de um homem que morava no bairro onde nasci, no qual minha mãe reside até hoje. Pensei que seria bacana se rolasse. Foi assim que conheci o Paulo”.
A funcionária pública conta ter falado com outros dois pretendentes, mas, como estava muito atenta e seletiva, resolveu que daria chance apenas a Paulo. “No início, cheguei a pensar que ele não havia gostado de mim porque era muito tímido e foi bem devagar. Aos poucos nos entendemos, até que pedi que ele viesse ficar comigo, na minha casa”.
Bons papos no app
A pedagoga Bete Aquino, 57, vê apenas lados positivos no Coroa Metade. “Estou muito voltada para o lado humano das pessoas por causa da minha profissão. Vejo que muitos estão em um estado de solidão, no qual há uma necessidade de estar em contato com alguém, ouvir histórias de vida e se posicionar. Já conversei com pessoas da minha cidade e com gente de outros estados. O app ultrapassa o olhar do relacionamento amoroso. Comigo tem acontecido assim.”
Separada há cerca de 15 anos, a gaúcha conta ter se sentido mais livre para cuidar de si mesma quando os filhos cresceram. “Não sei se é por conta de uma seletividade, mas relacionamento amoroso, embora tenha havido interesse, não foi adiante ainda. Há pessoas com quem converso há mais de um ano, mas ainda não conheço pessoalmente, talvez porque eu trabalhe muito e tenha pouco tempo livre”.
Segundo Bete, o diferencial do Coroa Metade é a preocupação com a segurança dos participantes. “Talvez por ser administrado pelos próprios donos, parece que tem uma conotação familiar, o que faz com que me sinta mais segura. Tem algumas pessoas que buscam uma relação mais pessoal, individual, querem ter contato contigo fora do site, mas eu sigo rigorosamente as orientações de segurança deles.”
Curtindo a vida
Separada desde 2005, Iara Paes de Almeida, 62, diz que o nome Coroa Metade chamou a atenção dela logo de cara, por ser feito para o público mais maduro. “Acho que estou em sites de relacionamento há tanto tempo que em algumas conversas já identifico qual é a do cara: se é gente boa, tem boas intenções ou está apenas querendo encontrar alguém para se encostar”, conta a engenheira civil.
“Conheci vários homens, com alguns namorei, de outros fiquei amiga e a maioria nunca passou de um ‘olá, como vai?’. O último com quem me relacionei durou sete meses, mas ele achou que eu sou ‘muita azeitona para a empada dele’, está em busca de uma mulher normal e tranquila, e eu estou bem longe desse perfil”, conta, aos risos.
Iara diz que há poucos aplicativos para pessoas mais velhas. “A diferença básica é que o Coroa Metade tem pessoas mais sérias do que a média dos outros sites e apps. Só acho que essas ferramentas deveriam ter patrocinadores para que a assinatura fosse gratuita”, conclui Iara.
Fonte: UOL
Créditos: UOL