Médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Fundação Altino Ventura de Pernambuco descobriram que a microcefalia associada ao zika vírus pode ser a causa de uma lesão na mácula ocular diferente daquelas causadas por outros tipos de microcefalia.
“É uma lesão irreversível na visão. Dependendo do lugar da retina e da intensidade, pode ser causa de cegueira permanente em ambos os olhos”, afirma Rubens Belfort Junior, professor-titular de oftalmologia da Unifesp. “Em todas as crianças que examinamos as alterações visuais eram praticamente iguais”, completa.
Presidente da Fundação Altino Ventura de Pernambuco, a médica Liana Ventura conta que já aconteceram três mutirões para avaliar a saúde das crianças nascidas com microcefalia associada ao zika vírus. “Essa lesão é bem específica, por isso foi muito importante que achássemos nos olhos dessas crianças”, ressalta a médica.
Liana prossegue dizendo que esse tipo de lesão na mácula não é encontrada em outros casos de microcefalia, como toxoplasmose, rubéola e sífilis
“Mesmo os casos que não tenham microcefalia podem ter alteração de retina e nervo óptico. O problema pode ser muito maior do que se pensa”, aponta Liana.
Para a médica, é importante procurar o médico depois do nascimento da criança, mesmo que a enfermidade não tenha sido constatada, a fim de que o problema na visão seja descartado. “As lesões vão desde deficiências visuais leves até casos de cegueira”, acrescenta a especialista. Ela cita como exemplo o comprometimento anatômico das áreas mais nobres do olho, como retina e nervo ótico.
No entanto, os dados desses mutirões de exames ainda não foram computados. Então não é possível saber ainda a porcentagem de bebês com comprometimento severo de visão.
Estimulação visual precoce
Liana explica que a visão do bebê se desenvolve rapidamente entre o terceiro e sexto mês de vida. “Estamos ensinando aos pais como eles podem fazer uma estimulação visual em casa, e semanalmente, uma equipe nossa reavaliará os casos.”
Essa estimulação visual evita que o olho já com algum problema se torne ainda mais ‘preguiçoso’. “O que nós queremos é que as crianças tenham o menor comprometimento visual possível”, pontua a oftalmologista.