Com origens políticas no PT, Marina Silva deixou o partido em 2009 após três décadas de militância, dizendo que não tinha mais ilusões e que todas as siglas têm problemas a serem saneados. Mantém a mesma opinião, como afirmou na entrevista a Carolina Bahia, Daniel Scola e Rosane de Oliveira na série Sabatina GaúchaZH, que vem ouvindo os presidenciáveis.
Nesta terceira tentativa de chegar à Presidência da República, tem o desafio de viabilizar um partido novo, a Rede, com pouco tempo de propaganda no rádio e na TV e sem grandes coligações nacionais. Aposta que aí está seu diferencial:
— Quero fazer alianças que sejam coerentes, com identidade programática. A maioria dos partidos tem muitos problemas. Mas existem pessoas decentes, como venho dizendo desde 2010, em todas as siglas.
Na área da segurança, deixa clara a defesa da implementação de um plano nacional que integre a atuação das diferentes forças policiais. Na educação, ressalta a necessidade de qualidade em todos os níveis, do Fundamental ao Superior. Em seu eventual governo, a reforma trabalhista seria revista, assim como as propostas de mudanças na Previdência:
– Vamos dialogar com todos os setores, ouvir especialistas. E dar transparência aos números.
A senhora aparece com média de 10% a 15% nas pesquisas. Como fará para tentar deslanchar a candidatura?
Acho que os eleitores já estão dizendo que está “deslanchada”, mesmo sendo de um partido pequeno, e não tendo ido pelo caminho daqueles que estão juntando todo o condomínio que estava anteriormente com Dilma (Rousseff) para ter tempo de TV e grandes estruturas, mesmo sendo de um partido que não fez a escolha de ter um número grande de parlamentares só para ter fundo eleitoral e partidário. É claro que as pesquisas são apenas a fotografia de um momento, e ainda tem muita água embaixo desta ponte, mas é muito bom saber que existe um sentimento de pessoas que são independentes e que não estão aceitando a tese de que aqueles que criaram o problema é que vão resolvê-lo.
Por ter participado de três eleições, a senhora esperava ter agora maior intenção de votos?
Espero ter uma campanha que seja consistente, coerente, dialogando com as pessoas e não criando artificialismo puramente eleitoral. Porque foram eles que nos levaram para o buraco, e, infelizmente, a gente já vê eles se organizando de novo, onde a população é apenas um detalhe na cabeça desses grandes partidos.
Quem são eles?
PT, PMDB, PSDB, DEM… Os de sempre. Adoram uma polarização na qual ficam se digladiando um contra o outro e a população embaixo. Acham que é apenas para fazer um plebiscito. Pior de tudo é que vai sendo naturalizado. Quem não vai por esse caminho é como se não fosse viável, estivesse fazendo errado. Porque há naturalização de que eleição é dinheiro, tempo de televisão e alianças incoerentes.
O seu tempo de televisão é de quatro segundos. Como vai fazer para driblar essa situação?
Quero fazer alianças que sejam coerentes, com identidade programática. A maioria dos partidos tem muitos problemas. Mas existem pessoas decentes, como venho dizendo desde 2010, em todas as siglas. Acho que foi feito um acordo entre os grandes partidos para que a população não tenha chance de fazer mudança que seja contrária ao que eles desejam, que é ter alguém eleito que vai combater a Lava-Jato. Os grandes partidos divergem em quem vai abocanhar o poder. Mas uma vez abocanhando, têm acordo tácito: vão tentar minar a Lava-Jato. Fizeram minirreforma política que deixa o fundo partidário para PMDB, PSDB, DEM e PT e seus satélites, e ao mesmo tempo o período eleitoral, o tempo de televisão.
(Geraldo) Alckmin, por exemplo, já está com todos aqueles que estavam com Dilma em 2014. E vai ter 10 minutos dos 20 minutos de todo o horário eleitoral. Dilma, em 2014, tinha 12 minutos dos 30 minutos do horário eleitoral porque ela juntou esse mesmo condomínio que agora está com Alckmin. É a velha edição. E isso vem com essa história de que a população não tem nenhuma importância. Estou querendo provar o contrário, mesmo com quatro segundos de manhã e à noite. Quem faz a chance da mudança, em todo o período da história, não é o dinheiro, não são os poderosos, é a população.
O que mudou na candidata Marina Silva da última eleição presidencial para a deste ano?
Agora, olho para a população sabendo que ela sabe a verdade. Em 2014, não sabia o quanto este esquema de corrupção sistêmica e institucionalizada estava forte por trás da disputa eleitoral. Agora, a população sabe. Em 2014, não tinha o conhecimento de que muitos não estão disputando uma eleição, mas habeas corpus, salvo-conduto para ter foro privilegiado. Em 2014, a gente ainda não tinha revelado a fraude eleitoral que foram aquelas eleições, com base em caixa 2, mentira, violência, fake news e desconstrução.
Estou pronta para continuar seguindo meu caminho. Não vou mentir, agredir, fazer alianças incoerentes para ter tempo de TV. Quero ganhar para mudar, juntar as pessoas. Não tenho preconceito contra legados. Vamos recuperar o Plano Real, recuperar políticas sociais, mas vamos combater, prevenir e punir a corrupção e, sobretudo, promover uma cultura republicana de gestão pública. Tenho objetivo político de refundar a República, porque hoje o problema é que os políticos têm poder demais, porque eles se acham acima da lei, com foro privilegiado.
Ficou algum arrependimento ou ressentimento de ter apoiado Aécio Neves (PSDB) no segundo turno em 2014?
Se fosse hoje, não teria apoiado. Acho que a maioria dos que apoiaram Dilma e Aécio, ouvindo Dilma explicando à mulher do João Santana como se safar das investigações, e Aécio falando com Joesley Batista, com certeza não teria votado. Nenhum de nós, que tem compromisso ético, teria votado em quem quer que seja. O que o TSE fez quando absolveu Dilma e Temer foi anistia para caixa 2.
A atual campanha vai se dar muito nas redes. A senhora está preocupada em ser, como em 2014, alvo de campanha agressiva e de boataria?
Quem tem preocupação com a verdade deve sempre se preocupar. Inclusive homens e mulheres de bem, sejam pessoas comuns nas redes sociais, sejam jornalistas, todos temos a obrigação ética de não reproduzir fake news, porque isso é algo que atenta contra a democracia. Minha determinação é oferecer a outra face: para face da mentira, a verdade; para face do ódio, o respeito e a união. Não acredito que quem ganha eleição mentindo, roubando ou agredindo possa governar de forma diferente. Vamos trabalhar muito para que a mentira não vença a verdade. Espero que a população fique vacinada.
A senhora sente-se vacinada?
Só tem uma vacina para a mentira: a verdade. O problema é que a verdade nem sempre chega na mesma velocidade que a mentira. Mas acredito muito no provérbio bíblico que diz: “conhecereis a verdade e ela o libertará”.
A senhora faz críticas bastante contundentes a esse condomínio, que agora apoia Alckmin, a práticas adotadas pelo PT, mas não vi até agora ao candidato Jair Bolsonaro? É estratégico?
Não é verdade. Não posso criticar que ele esteja no condomínio porque está praticamente sozinho.
Não com relação ao condomínio, mas sobre propostas.
Tenho visão completamente contrária a que ele tem de democracia, direitos humanos, segurança pública, tudo. Critico ideias, política. Não faço ataques pessoais. Nem a Bolsonaro, Alckmin, Ciro, Dilma, nem a ninguém. Dizer que não critico as posições de Bolsonaro, aí discordo completamente.
Em que ponto a senhora discorda das propostas de Bolsonaro sobre armas?
A lei brasileira prevê o porte de arma. O que critico é substituir um sistema de segurança pública, que é obrigação do Estado prover para as famílias. O Estado tem o monopólio da violência para combater a violência ilícita não permitida pelo Estado. Dizer que vai substituir a proteção das famílias, das crianças, dos jovens, dos adolescentes, das empresas, cada um com uma arma na mão, agindo sempre em legítima defesa? Temos é de ter um sistema nacional de segurança pública, que já foi aprovado no Congresso, que precisa ser complementado.
Ter uma política nacional que faça a integração do trabalho das polícias, que use os recursos de forma honesta e eficiente para treinar e pagar dignamente os policiais, que trabalhe com investigação de ciclo completo para que não fiquem as coisas completamente fragmentadas entre Polícia Civil e Polícia Militar. Que se trabalhe com tecnologia para ter inteligência, dando suporte às abordagens que são feitas pelos policiais, focando nas manchas de criminalidade.
E tendo atitude de entender, para além de polícia, que é um caso de justiça econômica, de justiça social, de criar igualdade de oportunidades para que os nossos jovens não sejam disputados pelos traficantes. E agir, com a Polícia Federal e todos os meios de que dispomos, para que o tráfico de armas e de drogas seja efetivamente combatido. E mais: não permitir que os presídios sejam abrigo para os que comandam o crime organizado.
A senhora vê algum ponto que poderia ser mudado em relação à lei penal para melhorar a segurança pública?
As pessoas acham que, se reduzir a maioridade penal, vai resolver. Não acredito. Quem mais paga o preço são os jovens. Dos 60 mil que são assassinados, 30 mil são jovens, pessoas negras de comunidades pobres. Temos um sistema injusto que faz com que os nossos jovens sejam disputados pelo tráfico, pelas drogas, pelos roubo, pelo furto. Um jovem que vai para uma escola e a abandona antes de terminar o segundo grau por uma série de questões que poderiam não estar acontecendo.
Um jovem que sai do segundo grau sem saber ler ou interpretar um texto, sem saber fazer uma operação simples de matemática. Estamos dizendo que, em vez de dar educação de qualidade, esporte e entretenimento, vamos reduzir o tempo de pré-adolescência para colocá-lo numa cadeia sem disputar o futuro desse jovem como cidadão de bem.
O que propõe que se mude no sistema educacional para que jovens não saiam da escola sem saber ler e interpretar texto ou realizar as operações básicas de matemática?
Fui alfabetizada aos 16 anos pelo Mobral, em 15 dias. Sei o quanto isso fez a diferença na minha vida. Fico imaginando uma criança que começa desde a mais tenra idade sendo estimulada, educada corretamente. Para isso, a gente vai ter de ter educação de qualidade. Professores bem formados, com formação continuada, bem remunerados. Escolas bem equipadas, utilizando, inclusive, tecnologias para que as crianças possam aprender de acordo com as exigências do nosso tempo.
Pessoas que possam aprender em cima de uma base comum. Mas tangenciando sua realidade, suas estruturas prévias de conhecimento. Além de aprender matemática, química, física, uma língua estrangeira além da nossa língua mãe, vai aprender linguagem de programação, que é tão essencial quanto aprender português e a fazer uma operação simples de matemática.
Como se faz isso na prática?
Vamos dialogar com muitos assuntos. Em relação à incapacidade fiscal para provimento de serviços transferidos para as prefeituras a partir da Constituição de 1988, temos a reforma tributária. O princípio da descentralização tributária, para ter mais receita aos municípios.
Obviamente, combater a corrupção, aumentar eficiência na gestão pública e desinchar o Estado ajuda a alocar mais recursos para a educação e o uso eficiente desses recursos. Boa parte dos problemas não é por falta de recursos, mas de gestão. Muitas vezes, por não dar suporte para os professores desempenharem o seu papel.
E há outros problemas na equação educação. Boa parte dos problemas de desagregação social e familiar é transferida para dentro da escola e esse não é o papel do professor. Mais educação de tempo integral ajuda? Ajuda. Educação integral mais ampla no processo de formação de um jovem, da criança. É isso que faz a diferença.
A senhora concorda com o atual modelo de financiamento do Ensino Superior?
O importante na educação pública é que seja de qualidade em todos os níveis. Sempre é colocada essa escolha de Sofia: vai investir no Ensino Fundamental, no Médio ou no Superior? Tem de investir nos três. Significa remunerar com justiça os professores e treiná-los adequadamente, porque a base física já está montada. Sem boa formação superior, não tem como ter bons formadores. Sem base de conhecimento tecnológico, como é que o Brasil vai fazer face ao novo ciclo de prosperidade que o mundo vai viver, está vivendo? Boa parte das ocupações que temos hoje vai desaparecer.
A senhora considera justo esse sistema em que a elite econômica tem o ensino público e as pessoas de baixa renda acabam não conseguindo acesso porque as vagas nas universidades federais, de modo geral, são ocupadas por aqueles que poderiam, em tese, pagar?
As pessoas não chegam simplesmente porque são pobres. Se fossem pobres e tivessem boa formação, estariam concorrendo de igual para igual. Temos de ter Ensino Fundamental e Médio tão bom a ponto de ir para uma escola privada nessa faixa de vida ser uma escolha da família. Hoje, temos cotas, mas são insuficientes. Qualidade da educação. Aí, vou poder competir.
Quando fiz vestibular, competi com filhos de classe média para entrar em universidade federal. Sei o quanto foi difícil entrar em 18º lugar no curso de História da Universidade Federal do Acre tendo feito Mobral em 15 dias, supletivo de 1º e 2º graus para completar o ginásio da época. Se a gente der educação de boa qualidade, vamos ter competição equivalente.
A senhora revogaria ou manteria a atual reforma trabalhista?
Há necessidade de reforma? Sim, mas não da forma que o governo fez, ouvindo só o lado dos empresários e cometendo atrocidades.
Pode dar um exemplo?
Uma pessoa ser privada de pelo menos uma hora para se alimentar. Uma mulher poder trabalhar em situação de risco para ela e a criança. O trabalho intermitente, em que você pode ficar com contrato formal e meses sem ser convidado para prestar serviço. Na busca correta de diminuir a indústria de processos, muito ruim para empregado e empregador, privou-se o acesso dos pobres à Justiça.
Porque as custas do processo e os honorários advocatícios da pessoa que por acaso vir a perder a causa, quem paga é a pessoa que está entrando com o contencioso. E uma pessoa pobre tem medo de entrar porque já sabe que não tem como pagar. Deveria ter sido criado mecanismos para que pessoas com até um ou dois salários mínimos não tenham de arcar com as custas do processo. Não estou defendendo que haja revogação, mas rever todas essas atrocidades.
A contribuição sindical?
Sempre defendemos a autonomia sindical. Precisamos criar o novo sistema para que sindicatos possam existir. Hoje, ficaram completamente sem nenhuma possibilidade de sobreviver e cumprir com papel que eles têm, de defender os trabalhadores.
Mas os trabalhadores podem contribuir com os sindicatos.
Podem, mas a forma da contribuição não está ainda corretamente delineada. Pode ser espontânea, mas tem de ser criado um mecanismo. Posso me associar apenas a uma base? É possível haver composição? Há uma série de discussões que precisam ser feitas e não foram.
Qual sua opinião sobre a reforma na Previdência?
O déficit da Previdência é grave e fico muito tranquila para falar dele, pois em 2010 já levantei a necessidade de que se pudesse migrar para um regime de capitalização. Hoje está muito mais complexo, o déficit só aumentou. O governo errou ao fazer uma reforma dialogando só com um lado, os empresários, sem dialogar com o conjunto da sociedade, sem combater privilégios.
Quais seriam os pilares da reforma da Previdência defendidos pela senhora?
Teremos que reabrir o debate. Vamos dialogar com todos os setores, ouvir especialistas. E dar transparência aos números. O projeto enviado ao Congresso não tinha os números da necessidade adequada para que se possa ter clara visão da natureza do problema.
A senhora é a favor das privatizações? Em quais setores?
Não tenho visão dogmática, não sou favorável nem contrária.
A Petrobras?
Sou contra privatizar Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, isso digo em todo canto: não é necessário. O que a Petrobras precisa é de gestão eficiente, composição técnica como comitê de busca dos seus diretores, não é dar para PT, PMDB, PSDB, ter uma diretoria para chamar de sua e ficar fazendo corrupção. É ter gestão eficiente e competente e, obviamente, uma empresa que seja capaz de entender o papel estratégico que tem com a segurança energética do país.
Há alguma estatal que a senhora pensaria em privatizar?
Não se pode simplesmente dizer: “vou privatizar”. Precisamos saber qual é o plano. Não dá para simplesmente pegar os ativos, que são patrimônio da sociedade, para tapar o rombo da ineficiência, do gasto perdulário, da corrupção.
As estatais que claramente não estão funcionando bem, como os Correios?
Temos de verificar. Tem de ter o plano. Não para você dizer: “privatiza como se fosse a tábua de salvação”. Não sou contra a privatização como dogma, e acho que algumas que foram feitas nos ajudaram a resolver problemas, como no caso das telecomunicações. Não podemos simplesmente dizer que vamos privatizar. No Brasil, há muito tempo que se ganha eleição em cima de rótulos.
Há um grupo que diz ser estatista e outro que vai privatizar. E ninguém precisa dizer mais nada embaixo disso. Foi assim que Dilma foi para o segundo turno sem plano de governo. Agora, é preciso que as pessoas exijam do governo quais são as propostas. Você tem de ter regras claras, taxa de retorno que seja razoável para que quem vai prestar o serviço possa ter um negócio competitivo. Mas também cobre eficiência e que se entregue o produto ou o serviço que está sendo oferecido, fazendo a parceria ou sendo concedido.
Porque a Rede não conseguiu se firmar como um partido com força no Congresso? A bancada tem apenas dois deputados.
A Rede é um partido que tem agora três anos. Se você olha a história dos partidos que estão aí, esses que são enormes, e que agora já querem ser maiores que o povo brasileiro, tem décadas. A Rede quer iniciar da forma correta. Quando conseguimos o registro da Rede, depois daquela manobra para não sairmos com nosso projeto em 2014, chegamos a conversar com mais de 26, 27 deputados, e fizemos a escolha por aqueles que achávamos que tinham identidade programática. Se tivéssemos ido pelo caminho de ter fundo partidário, tempo de televisão…
Aquilo que nos colocam como defeito é nossa maior virtude. E não acredito que a mudança é feita só pelos partidos, é um movimento. Pode ter certeza: se eu ganhar a Presidência da República graças ao povo brasileiro, e não ao centrão, pode ter certeza de que vamos ter, sim, governabilidade. Às vezes, as pessoas perguntam, como vai governar só com dois deputados e um senador?
A pergunta é: como é que não se governa? Tendo a Dilma mais de 300 e o Temer mais de 300. É porque hoje é na base do toma lá da cá. Se ganhar, se Deus quiser, a Rede vai fazer sua parte, mas vamos ter pessoas boas de todos os partidos. Tem muita gente que vem para ajudar, para se limpar das proximidades que já tiveram. E muita gente que tem de ficar mesmo é para lá. Tem gente que não deve entrar mesmo, que deve se aposentar.
A deputada estadual Regina Becker entrou na Rede e se desiludiu porque era muito difícil o diálogo no partido. A senhora faz algum mea-culpa nisso?
Não sei qual é a cultura política do partido anterior que a Regina veio, nem do que está hoje. Mas tenho absoluta certeza de que, dentro da Rede, as relações são muito mais democráticas, muito mais transparentes, do que qualquer outro partido que conheço por aí.
A senhora considera natural a aliança que Rede fez aqui no Rio Grande do Sul, que foi com o PSDB, que é um partido que, em geral, a senhora critica pelas práticas adotadas no país?
Desde 2010 estou dizendo que temos de olhar para as pessoas. Não é para os partidos. Se formos pelo recorte partidário, fica muito difícil. Posso dar outro exemplo: em 2014, caminhei com Pedro Simon e com (José Ivo) Sartori. Posso até ter divergido de Sartori em alguma coisa, mas ele não é um corrupto. Nem o Simon. E tenho certeza que o Eduardo Leite é um jovem que foi prefeito de Pelotas e que também não é corrupto. Pessoas boas temos em todos os partidos. Nem todos do PT, do PSDB, do PMDB são corruptos. Há compromisso programático? Há trajetória de vida que não vai na contramão do programa? É nessas bases que estamos dialogando.
Não tenho dúvida de que a Rede é um experimento político que é muito mais democrático. Tanto é que os nossos diretórios, em menos de três anos, a maioria já é permanente e registrada. A maioria dos partidos são comissões provisórias que um cacique nacional pode intervir a qualquer momento se não estiver de acordo com sua cartilha ou seus interesses. Tenho muito respeito pela deputada Regina, somos amigas, e quero em Deus que ela se eleja também onde estiver, porque é uma boa deputada. Mas a Rede é um partido que está começando agora.
Não defendemos reeleição, defendemos só dois mandatos para o Legislativo. Temos no nosso estatuto a possibilidade das candidaturas cívicas. Somos um partido que está tentando ajudar a inovar no processo e nas estruturas. Temos um excelente deputado, que é João Derly, um excelente vereador e, se Deus quiser, eles haverão de se eleger.
Como a senhora analisa a trajetória do ex-presidente Lula, de quem foi ministra do Meio Ambiente no primeiro governo?
Acho que estamos vivendo um momento terrível no nosso país. Infelizmente, a maioria dos partidos e suas lideranças se envolveram com projetos pelo poder, se esqueceram de projeto de país, e hoje temos vários envolvidos em graves casos de corrupção. O presidente Lula é uma figura popular, mas, na minha visão, ninguém está acima da lei. Não devemos ficar preocupados com quem já está pagando por seus erros. Devemos nos preocupar com os que ainda não estão.
Aécio Neves continua sem pagar pelos seus, o presidente Michel Temer continua sem pagar pelos erros que cometeu, (Eliseu) Padilha, Moreira Franco e tantos outros no Congresso, que são quase 200. Minha visão é de que o melhor é que lideranças políticas estivessem aptas a continuar contribuindo para o país. Uma vez cometendo erro não se pode ter dois pesos e duas medidas. A lei é para todos.
Tanto é que eu e meu partido levamos o pedido, com outras lideranças, das cassações de (Eduardo) Cunha e do senador Delcídio (Amaral). Levamos ao conselho de ética do Senado Aécio Neves e, por incrível que pareça, foi o PT que fez uma carta para que ele não fosse afastado de suas funções por determinação do Supremo.