A entrevista que Jair Bolsonaro concedeu ontem ao Jornal Nacional reforça a necessidade de mudar abordagem dos questionamentos ao candidato da ultra-direita.
Bolsonaro tem de falar, e não responder, apenas. Dizer isso, significa tirá-lo da tal zona de conforto de meses respondendo as mesmas perguntas sobre mesmo temas.
Isso porque a estratégia de Bolsonaro é não responder, mas justificar suas posições apontando o dedo para seu inquisidor. Bolsonaro apoiou a ditadura? E daí? A Globo também, responde ele. Bolsonaro defende a desigualdade salarial entre homens e mulheres? A Globo pratica essa política, e os apresentadores que estão na frente dele expressam bem essa realidade.
Notem que ele não reconhece o erro ou pede desculpas, apenas indica (o que é verdade) que seus críticos não tem moral para questioná-lo. E assim vai.
Bolsonaro precisa ser instado a esclarecer sobre temas tão relevantes quanto esses, que estão sendo obscurecidos pela predominância de uma pauta que está apenas fortalecendo sua condição de candidato que encarna o anti-politicamente correto. Com isso, eu não estou afirmando que é preciso abandonar essas críticas, mas ampliar o debate para outros temas. Temas que tornam mais fáceis o entendimento das diferenças.
O que Bolsonaro pensa sobre reforma trabalhista, reforma da previdência, tributação das grandes fortunas, etc.Se Bolsonaro transfere a responsabilidade sobre essas questões ao economista Paulo Guedes, que será o seu alterego na economia, então vamos conhecer, como seu tenho sugerido há tempos por aqui, quem é e o que pensa esse tal de Paulo Guedes.
Pra começar, Paulo Guedes é um dos fundadores do BTG Pactual, o maior banco de investimento brasileiro, hoje. E do IBMEC (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), segundo a Wikipedia, “criado no Rio de Janeiro, em maio de 1970, pela antiga Bolsa de Valores do Rio de Janeiro como entidade independente, com fins lucrativos”, uma escola que oferece cursos de MBA e que está fazendo a cabeça econômica de muitos pequenos e médios empresários Brasil afora. Além disso, Guedes hoje é sócio e presidente do conselho de administração da Bozano Investimentos,
Ou seja, quem vai mandar na economia brasileira é um banqueiro. Um banqueiro-economista ormado pela Universidade de Chicago, nos EUA, escola cujo ícone maior é o economista Milton Friedman que, por exemplo, fez no Chile durante a ditadura Pinochet o seu laborátório para as reformas neoliberias que se espalharão pela América Latina na década de 1990. O ultraliberalismo de Paulo Guedes não vê diferença, por exemplo, entre PT e PSDB, porque considera esses partidos “social-democratas”.
Vejam o que ele disse em uma entrevista à revista Exame, em 2015: “Quando os economistas tiveram a possibilidade de fazer a diferença, eles não resolveram. Não aproveitaram as oportunidades (…) para realizar uma grande transformação na economia brasileira. Não atacaram estruturalmente o excesso de gastos públicos, promovendo a reforma da Previdência, a flexibilização da legislação trabalhista, o corte de impostos e a descentralização de recursos para Estados e municípios. O PT só agudizou o problema.”
É essa a síntese do pensamento que vai governar o Brasil caso Bolsonaro se eleja. Ou seja, Bolsonaro não vai apenas dar continuidade às polítcas de Henrique Meireles e Michel Temer, mas aprofundá-las. Quem acha que PSDB, Temer, Henrique Meirelles, e mesmo Palocci ou Joaquim Levy, são neolioberais, não tem ideia do que Paulo Guedes representa.
Por isso, suas ideias é que devem ser o centro do debate eleitoral. E Bolsonaro tem de responder por elas.
Fonte: Flávio Lúcio Vieira
Créditos: Flávio Lúcio Vieira