Do hospital, Bolsonaro praticamente reconheceu a derrota num vídeo veiculado neste domingo e clamou pelo golpe depois das eleições.
O candidato fascista obedece o roteiro estabelecido pelo comandante do Exército, o general Villas Bôas, em sua fatídica entrevista de uma semana atrás: o questionamento da legitimidade do pleito já antes dele acontecer, diferentemente de 2014, quando o questionamento sobreveio à derrota -desta vez, a direita (e a extrema-direita) não sonham com a vitória nas urnas.
Os termos do golpe foram apresentados dados por Bolsonaro:
1) o PT está no comando de uma fraude eleitoral com a falsificação dos votos nas urnas eletrônicas. Este foi o fio condutor do discurso de Bolsonaro no hospital nesta tarde de domingo; 2) Haddad irá soltar Lula no dia 1 de janeiro e irá nomeá-lo chefe da Casa Civil; 3) Haddad irá transformar o Brasil numa Venezuela; 4) Bolsonaro não falou nisso hoje, mas a versão da “trama política” ao redor da facada terá um papel chave, com indicou Villas Bôas.
É tudo simplório, estapafúrdio, sem base, mas eficaz, porque “justifica” o golpe, serve aos interesses das elites, porque dispensa comprovação. A campanha do golpe será baseada apenas numa campanha de fogo cerrado da mídia conservadora de massas, cujo ensaio temos lido diariamente em O Estado de S.Paulo. E eles já tem o know-how para isso, com as campanhas contra o governo Dilma e contra Lula e o PT.
Na última semana, e não por acaso, dois generais, Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, e Luiz Eduardo Rocha Paiva, ambos da reserva, mas com prestígio na cúpula militar, defenderam o golpe abertamente e indicaram o passo que pretendem se ele for vitorioso: a revogação da Constituição de 1988 e a promulgação de uma nova Carta elaborada sob supervisão direta dos militares, sem eleições.
O golpe está em preparação nas nossas fuças.
Ele -o golpe- não é para já. A articulação é para depois da eleição. A lenha está sendo posta no fogo e a panela está esquentando desde a entrevista do Villas Bôas. Nos últimos dias, muita lenha foi posta sob o fogo.
Já aprendemos que golpes de Estado são resultados de processos que demandam preparação. 1964 começou em 1962; 2016 começou em outubro de 2014. Os golpes são a soma de um conjunto de ações e mobilizações. 2019 está começando em 2018. E virá um componente presente nos dois golpes anteriores, a mobilização nas ruas. Assim como houve a Marcha da Família com Deus pela Liberdade em 1964 e as manifestações dos ricos e da classe média em 2015/16, haverá mobilização de rua contra o resultado das eleições. É como somar 2 + 2.
Uma advertência final: nos golpes de 1964 e 2016 as forças democráticas menosprezaram a as articulações golpistas e apostaram em esquemas (militar no tempo de Jango e político no de Dilma) que naufragaram por completo. A vitória nas urnas não será suficiente para conter o golpe em preparação. Será necessário mais que isso para conter o golpe: uma urgente unidade das forças democráticas que deve se manifestar no resoluto apoio ao candidato progressista que for ao segundo turno (quase certamente Haddad), articulação dos movimentos sociais e sindicais nas ruas, mobilização de solidariedade internacional. São todas tarefas para agora.
Fonte: Brasil 247
Créditos: Brasil 247