Partidos utilizaram milhares de “guerreiros de WhatsApp” para atuarem em grupos, entre outras táticas, divulgando pesquisas eleitorais falsas. Indivíduos ligados a legendas políticas bombardearam com informações dezenas de eleitores que foram designados a acompanhar durante o pleito. Esses, por sua vez, integravam diversos grupos onde espalhavam desinformação e ataques a opositores. Grupos independentes também atuaram por conta própria.
Memes, áudios e vídeos falsos foram distribuídos, incluindo um vídeo de um linchamento na Guatemala descrito como um ataque de muçulmanos a uma hindu. Como, em geral, não é possível identificar a origem das informações, é complexo punir atores maliciosos.
O Whatsapp não possui anúncios ou direcionamento de publicações como o Facebook, mas consegue atingir eleitores específicos. Políticos indianos criaram milhares de grupos para chegar a cada distrito ou vilarejo de certas regiões. Além disso, pode-se instruir administradores e membros a adicionarem apenas pessoas de certas faixas etárias.
Desinformação em forma de notícia
Um aspecto relevante do Whatsapp é que adicionar alguém a diversos grupos automaticamente o/a expõe a dezenas de mensagens diárias, que chegam diretamente ao seu celular. Ou seja, isso pode tornar candidatos quase onipresentes, em vez da exposição tradicional em horário eleitoral definido e limitado.
Outro problema é que muitos usuários do aplicativo não são familiarizados com tecnologia, logo possuem dificuldades em checar informações na internet.
O Digital News Report 2018, do Instituto Reuters para Estudo de Jornalismo, aponta que 61% dos brasileiros compartilham notícias em redes sociais ou por e-mail. Um cenário no qual atores maliciosos podem espalhar desinformação disfarçada de notícia no Whatsapp para fins eleitorais.
“Existe essa possibilidade. A disseminação de qualquer tipo de informação no Whatsapp pode ser mais rápida do que conversas cara a cara”, explica Antonis Kalogeropoulos, coautor do relatório.
Apesar de dificultar o combate às notícias falsas, a criptografia é crucial para manter a segurança de usuários em países repressivos. Então, como lidar com o problema? “Com educação ao usuário e ferramentas que facilitem a checagem de notícias compartilhadas”, sugere Samantha Bradshaw, pesquisadora do Projeto de Propaganda Computacional.
Um bot “do bem”
A verificação de fatos é a aposta de alguns programadores em Taiwan. Cansados de mensagens com golpes no LINE, o aplicativo de conversas mais popular do Estado asiático, um grupo de voluntários criou um bot para enfrentar a desinformação.
Chamado de Cofacts, o bot surgiu, em especial, para esclarecer os milhares de usuários que possuem pouca familiaridade com a internet, definidos como “imigrantes digitais” pelo web developer e cocriador do dispositivo Johnson Liang.
“Eles não sabem como procurar informações no Google, simplesmente absorvem o que veem nos grupos de conversa. Receber respostas diretamente no LINE reduz as barreiras para que ganhem perspectivas diferentes”, explica.
Mensagens suspeitas podem ser encaminhadas para o bot, que enviará ao usuário uma verificação de fatos sobre o tema, se uma existir em seu banco de dados. Caso ainda não haja uma checagem disponível, editores voluntários a produzirão.
O projeto já tem 38 mil usuários, quase 20 mil mensagens respondidas e mais de 600 editores registrados no site cofacts.g0v.tw. Os editores podem classificar as mensagens em categorias simultâneas como “contém desinformação” ou “contém opinião” e precisam citar ao menos três fontes.
O Cofacts não garante a qualidade das checagens, mas trabalha com a perspectiva de que quanto maior o número de editores, melhor será o conteúdo produzido – em um esquema similar ao da Wikipedia.
Apesar de o projeto ser conhecido pela Facebook, proprietária do WhatsApp, Liang não acredita que um bot similar possa ser implementado no aplicativo de mensagens.
“A função mais valiosa de um chatbot é a resposta automática quando uma existe em um banco de dados. Infelizmente, o Whatsapp não fornece essa funcionalidade, além de interromper bots.”
A Facebook não respondeu às perguntas da DW Brasil, mas a empresa já anunciou que financiará pesquisas sobre desinformação no Whatsapp.