Como escrevi ainda no início de agosto, a disputa final se dará entre a extrema-direita, Jair Bolsonaro, e a esquerda, Fernando Haddad. Dizia eu que não haveria tempo para o PSDB desconstruir o nome de Bolsonaro. Com a agressão perpetrada por um maluco contra o candidato do fascismo, isso ficou impossível. E mais: aconteceu claramente uma inflexão na disputa, pró candidato do PSL, pelos seguintes motivos: 1. Houve uma certa comoção com a agressão sofrida; 2. A mídia colocou Bolsonaro nas manchetes praticamente todos os dias apenas com matérias favoráveis; 3. Blindado, ele se viu desobrigado de dizer realmente o que pensa sobre o futuro do país.
Na esquerda, a candidatura de Haddad rapidamente cresceu, como era esperado, pela força de Lula e pela estrutura do PT. Ciro Gomes, por seu turno, manteve uma resiliência notável, principalmente entre setores da classe média que não aderiram ao fascismo. Mas não havia como conter a lembrança dos tempos de bonança que o eleitorado mais pobre tem do partido de Lula.
Porém, algo improvável aconteceu: as candidaturas que tentavam caminhar como de centro, ainda que não o fossem, foram se desmilinguindo. Marina foi quem mais sofreu esse processo de liquefação e sua candidatura rapidamente submergiu. E isso explica o crescimento de Bolsonaro nesta reta final do primeiro turno. Se na eleição anterior, Marina foi beijar a mão de Aécio; nesta, o seu eleitorado, majoritariamente evangélico, preferiu, com a ajuda dos seus pastores, ele mesmo beijar a mão do “capitão”.
A situação de Alckmin é um pouco diferente. Foram os dirigentes do seu partido nos estados que, primeiramente, o abandonaram. Sem apoio das estruturas locais, a candidatura do PSDB estagnou e, depois, retrocedeu. Na reta final, deve desidratar mais um pouco. A Social Democracia no Brasil caminha celeremente para sua cova.
Esse esvaziamento de Marina e Alckmin é o que explica a ascensão de Bolsonaro na reta final. O que está acontecendo é uma antecipação do segundo turno para o candidato da extrema-direita. É uma tentativa clara de fechar a disputa ainda neste domingo.
Mas as candidaturas de Haddad e Ciro devem barrar este movimento. Juntas, arrisco a dizer que que elas devem alcançar 40% do eleitorado. Somando aos votos de Boulos, Amoedo, Meireles e outros candidatos menores, a disputa irá seguramente para o segundo turno.
O segundo turno marcará a dimensão exata da divisão do país. E qualquer que fosse a candidatura da centro-esquerda isso fatalmente aconteceria. Basta ver o crescimento de Bolsonaro na reta final do primeiro turno. Porém, a taxa de rejeição do candidato da direita é bem superior aos demais candidatos. Isso fará toda a diferença no segundo turno.
Uma frente de centro-esquerda poderá evitar o desastre econômico, político e humanitário de uma eventual vitória do fascismo. O primeiro turno é sempre um voto de consciência, de convicção. Já o segundo turno, nestas eleições de 2018, será, de um lado, a democracia e o bem-estar social e, do outro, o autoritarismo e a barbárie.
Você tem medo de quê?
Fonte: Luiz Souza Júnior
Créditos: Polêmica Paraíba