confira erros mais comuns

Psicóloga aponta erros mais comuns do investidor e afirma: homem erra mais

Segundo a especialista, o dinheiro provoca diversas reações psicológicas nas pessoas, fazendo com que elas tenham atitudes irracionais em determinadas situações, sem se dar conta disso.

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Investir não é uma tarefa fácil. Diversos fatores interferem no processo de guardar dinheiro e de escolher as melhores aplicações para fazer o patrimônio crescer. O investidor normalmente considera questões econômicas e planos pessoais ou familiares na hora de poupar. Mas raramente se dá conta dos aspectos psicológicos que podem prejudicar suas decisões e levar ao erro.

A psicóloga Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia econômica e finanças comportamentais, elaborou uma lista com os 15 “pecados” do investidor. “É preciso entender como a cabeça funciona e como ela não funciona. A mente humana prega muitas peças”, disse Vera. Entre os erros que ela aponta, está até o de ser homem, no sentido de que investidores são muito mais impulsivos que as investidoras -e eles deveriam moderar isso.

Segundo a especialista, o dinheiro provoca diversas reações psicológicas nas pessoas, fazendo com que elas tenham atitudes irracionais em determinadas situações, sem se dar conta disso.

“Dinheiro não é só simplesmente dinheiro. Ele carrega todo um peso emocional. As pessoas ficam felizes quando ganham dinheiro. Mas o efeito passa rápido. Em compensação, quando perdem, a tristeza é duas vezes e meia maior do que a alegria de ganhar. Ela demora muito mais tempo para passar.”

Veja quais são os 15 erros mais comuns cometidos pelos investidores.

1) Não investir em nada

Mais da metade da população (57%) não possui nenhum tipo de investimento nem pretende começar a poupar neste ano, revelou um estudo divulgado em julho pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

O resultado da pesquisa não surpreende Vera. Segundo ela, o ser humano tem uma tendência natural de adiar compromissos ao máximo. “A procrastinação faz parte do nosso arsenal de sobrevivência. Eu tenho que poupar, mas vou adiando, sem perceber. É que nem dieta. Semana que vem eu começo. A gente adia ao máximo.”

Quando o brasileiro investe, a poupança é a escolha da maioria para guardar dinheiro, apontou o estudo da Anbima. “Falta conhecimento. A poupança atrai porque a pessoa acha que entende. E ainda assim faz besteira, saca antes do dia de aniversário da caderneta”, disse a psicóloga.

2) Não investir com regularidade

Falta disciplina ao brasileiro para investir. Um dos motivos é algo simples de resolver: o esquecimento. “A vida é complicada, corrida. As pessoas acabam se esquecendo. Mas você pode resolver isso botando um bilhete na mesa ou programando um alarme no celular.”

O importante é criar o hábito de poupar. Muitas pessoas fazem o primeiro investimento, mas deixam de aplicar nos meses seguintes. “Se você investir um pouquinho todo mês, depois de 20 ou 30 anos poderá desfrutar da magia dos juros compostos [que fazem o investimento crescer].”

3) Não gostar de tomar decisões

Na hora de escolher entre um tipo de investimento ou outro, você não tem certeza qual é o melhor. “O investidor tem medo de errar. Tem baixa tolerância à angústia. Por essa razão, prefere deixar que outra pessoa decida por ele. Essa pessoa geralmente é o gerente do banco. A resposta traz um alívio imediato.”

Mas será que o gerente realmente vai indicar o melhor investimento? “Coloque o gerente na parede e pergunte: ‘E se o dinheiro fosse da sua mãe? Você recomendaria essa aplicação?'”, declarou Vera.

Segundo a psicóloga, não há nada de errado em buscar ajuda profissional ou delegar a responsabilidade de investir a um consultor ou gestor. “Mas isso precisa ser feito de modo consciente. A pessoa deve entender o que está sendo sugerido, quais os motivos. Não pode investir às cegas.”

4) Olhar só para o curto prazo

Separar um dinheiro que está sobrando agora e não poder utilizá-lo tão cedo é uma atitude difícil de tomar para a maioria das pessoas. “As pessoas são ansiosas. Têm dificuldade de esperar, de adiar o prazer. Querem aproveitar o presente, sem se preocupar com o futuro.”

Segundo a psicóloga econômica, a falta de um planejamento de longo prazo pode trazer consequências financeiras no futuro, que levarão a pessoa a uma velhice sofrida.

5) Acreditar em ilusões de ganho fácil

A tentação de ganhar dinheiro rápido e fácil faz as pessoas cometerem erros graves ao investir. Elas menosprezam riscos que podem levar à perda do patrimônio.

“As ilusões são respostas aos nossos desejos. Queremos alívio imediato. Queremos enriquecer num passe de mágica. O problema é que uma proposta tentadora de ganho fácil provoca cegueira. Não conseguimos enxergar os riscos que estamos correndo.”

6) Ter dificuldade de identificar riscos

“Corremos riscos porque não nos damos conta de que são riscos. Não sabemos qual é a probabilidade de algo dar errado.” A frase é do psicólogo israelense Daniel Kahneman, que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2002 ao demonstrar a influência psicológica sobre os processos de decisão financeira.

Segundo Vera, Kahneman demonstrou que a dificuldade de identificar riscos acontece porque as pessoas são excessivamente otimistas. Elas preferem não cogitar a possibilidade de algo dar errado. Além disso, as pessoas não possuem conhecimento técnico para calcular a probabilidade de um determinado evento dar errado.

7) Sofrer com as perdas

O ser humano tem baixa tolerância à frustração da perda. Enquanto a sensação agradável de ganhar dinheiro tem efeito curto, a sensação da perda incomoda até duas vezes e meia mais do que a alegria.

“A perda leva o investidor a correr mais riscos do que deveria correr habitualmente. É como em um cassino. Ele acha que dobrando a próxima aposta vai recuperar o dinheiro da aposta perdida. Na verdade, está aumentando o risco de perder novamente”, declarou Vera.

8) Entrar na alta e sair na baixa

A prática é muito comum entre investidores que atuam na Bolsa de Valores. Ao ver uma determinada ação subir muito, o investidor decide comprá-la na esperança de que ela continuará subindo. Mas, pouco tempo depois, a ação começa a cair, e o investidor fica no prejuízo.

“É o efeito manada. O ser humano prefere andar junto com os outros e errar junto a ficar de fora, sofrendo com a dúvida. Quanto maior a incerteza, maior a chance de você aderir à manada.”

9) Não assumir erros passados

O investidor compra uma ação acreditando que será um ótimo investimento. Logo depois, o papel começa a cair. Mas o investidor não desiste. Permanece com a ação por dias, semanas, meses, na esperança de que ela volte a subir.

“Temos dificuldade em assumir os próprios erros e de aprender com eles. Preferimos insistir, acreditar que aquela estratégia de investimento em algum momento vai dar certo.”

De acordo com Vera, o investidor tende a repetir os mesmos erros. “Temos a falsa sensação de que aprendemos com os erros do passado e não vamos repeti-los. Mas não é isso o que acontece. Infelizmente, a cabeça da gente não é fácil de entender.”

10) Olhar apenas para rentabilidade passada

Outro erro comum do investidor na hora de escolher fundos, ações e outros tipos de investimento é avaliar apenas a rentabilidade acumulada e acreditar que ela se repetirá no futuro.

“Temos dificuldade em aceitar que não há garantia de nada. Na verdade, ao escolher um investimento, precisamos olhar o cenário de uma forma mais ampla. Não podemos ser ingênuos de achar que temos o controle sobre o mundo, que tudo acontecerá da forma como esperamos.”

11) Selecionar fontes ruins de informação

A psicóloga econômica demonstrou preocupação com o fato de que, atualmente, a maioria (62%) das pessoas utiliza as redes sociais como principal fonte de informação. “É de chorar. Ainda mais em tempos de fake news.”

A especialista disse que a escolha reflete uma tendência do ser humano de querer confirmar suas próprias crenças, mesmo que estejam equivocadas. “Antes de tomar qualquer decisão, nós fazemos uma escolha inconsciente. Procuramos varrer para debaixo do tapete aquilo que tem chance de dar errado. Preferimos ficar com a informação que está de acordo com o que acreditamos.”

12) Não diversificar

Um pecado comum dos investidores é concentrar os recursos em apenas um tipo de aplicação, o que pode levar a correr mais riscos ou obter ganhos menores, dependendo do investimento. “Dá trabalho diversificar. Ir atrás da informação, comparar, ponderar”, afirmou Vera.

O excesso de opções disponíveis no mercado também é outro empecilho. Segundo dados da Anbima, há mais de 16 mil fundos de investimento no Brasil. “Tanta opção só atrapalha. Não temos tempo de pesquisar. Nossa rotina é corrida. Por isso, é legítimo pedir ajuda a um profissional para conseguir investir de forma séria, correta.”

13) Ser vítima de golpes

As pessoas são facilmente sugestionáveis. Especialmente quando o assunto é dinheiro. Os golpistas sabem explorar esse ponto fraco do ser humano com uma boa história, com lábia.

“Temos uma atração fatal pelo dinheiro fácil. Basta uma boa conversa para nos convencer. É como o efeito placebo. Você toma uma pílula de farinha acreditando que é uma aspirina e que a dor de cabeça vai passar. Mas não passa. Fica pior.”

A saída para evitar a tentação e não cair num golpe, segundo Vera, é “sempre desconfiar do conto do vigário”.

14) Não buscar ajuda

As pessoas são autoconfiantes, não admitem os próprios erros nem assumem a falta de conhecimento sobre determinado tema. Por isso, resistem a buscar a ajuda de consultores ou de delegar a responsabilidade de investir para gestores profissionais.

“É aquela sensação de que ‘comigo não vai acontecer de novo’. As pessoas erram e acham que aprenderam com os erros passados. Acham que agora têm as informações que elas não tinham lá atrás e, por isso, não cometerão os erros novamente. Mas não é assim que acontece. O ser humano é falho.”

15) Ser homem

A psicóloga econômica afirmou que as mulheres sabem administrar melhor o dinheiro do que os homens. Segundo Vera, os homens são impulsivos e excessivamente autoconfiantes nas suas decisões. Já as mulheres pesquisam, perguntam, procuram se informar melhor antes de definir o investimento.

“Quanto mais ‘ideias’ os homens têm, mais eles perdem. As mulheres não têm vergonha de perguntar, de aprender. Os homens não admitem ter dúvidas”, declarou Vera.

“Pecou”? Vá ao “confessionário”

Vera recomenda aos investidores que estão errando com frequência em suas estratégias de investimento fazer uma pausa e refletir sobre os erros. “Identifique os pecados que você comete com mais frequência ao investir.”

Outra sugestão da psicóloga é reduzir o ritmo dos investimentos, especialmente para quem atua em mercados de alto risco, como a Bolsa de Valores.

“O mercado financeiro pressiona as pessoas a agir por impulso. Pratique o ‘delay’. Quando o mercado estiver muito agitado, faça uma pausa. Adie decisões. E compare os resultados: em uma semana, faça tudo no seu ritmo usual. Na outra, faça tudo com mais calma.”

Fonte: UOL
Créditos: UOL