O Brasil dificilmente conseguirá recuperar, antes da década de 2030, o seu nível de renda mais alto, atingido em 2013. A estimativa é da economista Silvia Matos, pesquisadora sênior da área de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Em 2020, afetado pela pandemia de coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 4,1%, conforme divulgou nesta quarta-feira (3) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como a população seguiu crescendo, o PIB per capita caiu ainda mais: a queda foi de 4,8%, para R$ 35.172. É o menor valor desde 2009.
O PIB per capita é a conta que divide o total da riqueza do país pelo total da população, e serve como uma referência do nível de renda da população. O maior valor já atingido no Brasil foi em 2013, de R$ 39.580 por pessoa.
Dali para frente, uma sucessão de recessões (em 2015, 2016 e 2020), entremeadas por três anos de crescimento muito baixo (entre 2017 e 2019), faria o Brasil ficar cada vez mais distante do nível máximo de renda perdido. O PIB per capita terminou 2020 em um nível 11% menor do que o de 2013, já com os valores corrigidos pela inflação.
“Se o PIB per capita crescer 1% ao ano , só em 10 anos, em 2031 ou 2032, vamos recuperar as perdas desde 2013”, diz Matos.
O problema é que o Brasil não cresce a esse ritmo faz tempo. A média de crescimento do PIB per capita desde 1980 é de apenas 0,6% ao ano. Neste ritmo, de acordo com a economista da FGV, o Brasil só retomará o pico de PIB per capita perdido em 2013 daqui a 18 anos, em 2039.
“Conseguiríamos recuperar as perdas em cinco anos se o crescimento [do PIB per capita] fosse de 2% ao ano”, disse Matos. A única vez em que isso aconteceu depois do “milagre econômico” dos anos de 1970 foi no começo dos anos 2000: entre 2001 e 2010, o PIB per capita do país cresceu a uma média de 2,4% ao ano.
Pior década da história
Já na década seguinte, encerrada em 2020, o tombo de renda foi enorme. Nos cálculos da FGV, o Brasil perdeu em média 0,6% ao ano do seu PIB per capita entre 2011 e o ano passado. O crescimento médio do PIB como um todo foi de apenas 0,3% ao ano.
Nos dois casos, são os piores resultados desde 1900, data a que remontam as estimativas mais antigas disponíveis para o país. Isso faz com que os anos de 2010 tenham sido ainda piores do que a “década perdida” de 1980, a única, até agora, em que o país tinha andado para trás em termos de renda. Em todas as demais, o país saiu mais rico do que entrou.
Entre 1981 e 1990, marcados por hiperinflação doméstica e recessões globais, o PIB cresceu a uma média de 1,6% ao ano. O PIB per capita caiu, em média, 0,4% ao ano, também de acordo com dados da FGV.
Fonte: CNN Brasil
Créditos: CNN Brasil