O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o Brasil terá vantagens na atração de investimentos na “nova ordem geopolítica” do pós-pandemia. Na avaliação do ministro, o Brasil está “dessincronizado” do resto do mundo por já ter realizado reformas estruturais que outros países ainda não promoveram.
De acordo com o chefe da equipe econômica, o Brasil deverá ficar em uma posição favorável nesse novo momento pós-pandemia, uma vez que investimentos e cadeias produtivas estão em processo de reorganização. Para ele, que vem minimizado o aumento das preocupações do mercado com a deterioração fiscal por conta da aprovação de medidas eleitoreiras previstas na Proposta de Emenda à Constituição nº 1/2022, a PEC Kamikaze (assim denominada por ele) — com impacto de R$ 41,2 bilhões nas contas públicas fora do teto de gastos —, a economia brasileira estaria em ascensão, enquanto a mundial em trajetória descendente.
“O Brasil está dessincronizado do resto do mundo ” disse o ministro, nesta segunda-feira (18/7), na cerimônia de posse do novo presidente da Comissão de Valores Imobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, na sede da autarquia, no centro do Rio de Janeiro. “Nós fizemos reformas. O Brasil volta em V [curva de crescimento econômico rápido] como dissemos que iriamos voltar”, disse ele, voltando a criticar os que dizem o contrário.
O ministro ainda disse que o governo e o Congresso devem aprovar, em breve, medidas para apoiar um aprofundamento do mercado de capitais, mas não deu muitos detalhes. Antes da confusão em torno da PEC Kamikaze, o ministro costumava defender o projeto que trata da isenção do Imposto de Renda de investidores estrangeiros, mas que ainda precisa ser votado pelo Senado. “Estaremos brevemente, assim que o Congresso voltar do recesso, aprovando também medidas infraconstitucionais importantes para apoiar esse aprofundamento do mercado de capitais brasileiro”, afirmou.
Durante o discurso, Guedes voltou a atacar os críticos da política econômica do atual governo, que caminha para um populismo em busca da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro. Para ele, os erros de previsão decorrem de “um pouco de militância e um pouco de despreparo”.
“Toda vez que ouço que o Brasil não vai crescer, eu dou um sorriso. Eu digo que pode ter inflação, mas o crescimento vem aí. Enquanto isso, lá fora, não percorreram nem a metade do caminho (das reformas)”, afirmou o ministro durante o evento. Para ele, o Brasil tem vantagens competitivas nessa nova reorganização das cadeias produtivas, uma vez que o Brasil está mais próximo dos Estados Unidos e da Europa do que outras economias emergentes.
O chefe da equipe econômica voltou a afirmar que há R$ 800 bilhões em investimentos comprometidos no Brasil, entre fontes domésticas e internacionais para os próximos 10 anos. E ainda disse que a previsão dessa conta era conservadora. “Há trilhões de dólares que estão circulando pelo mundo e terão de se reposicionar. Alguns (bilhões) vão para o refinanciamento dos déficits dos governos de fora, mas muitos vão procurar um porto seguro e virão para o Brasil”, apostou o chefe da equipe econômica de Bolsonaro, ignorando as críticas de investidores que estão cobrando mais prêmio de risco para os títulos públicos justamente devido às aventuras eleitoreiras do governo na área fiscal.
Ele reforçou que outro requisito para atrair investimentos é ser confiável. “Não adianta só estar perto. A Rússia está bem perto da Europa, mas estamos vendo o choque. Tem que estar perto e ser confiável. E quem é o país amigo de todo mundo, que dança com todo mundo? Somos nós, amistosos, amigáveis e muito perto do Ocidente”, disse ele, reafirmando que o Brasil deverá garantir segurança energética e alimentar aos países desenvolvidos. “O Brasil está super bem posicionado. Não acreditem em histórias que coloquem o Brasil para baixo. Não acreditem na rolagem da desgraça. As contas externas estão em ordem e as contas públicas estão equilibradas”, disse.
No entanto, na avaliação da economista e especialista em macroeconomia Juliana Inhasz, professora do Insper, o cenário da economia brasileira em 2023 é desolador, principalmente porque a entrada dos riscos fiscais no radar, devido aos gastos desenfreado do governo para garantir a reeleição, como a PEC Eleitoral, tem ajudado a piorar os prognósticos para o ano que vem. “Na melhor das hipóteses, o país não vai registrar crescimento algum”, resumiu. Ela lembrou que o ministro costuma afirmar que reformas estruturais avançaram, mas até agora, os brasileiros ainda não viram resultado dos novos marcos regulatórios do gás natural e do saneamento, por exemplo. “Havia promessa de custos menores ao consumidor, que ainda não ocorreram”, frisou.
A acadêmica lembrou que o Brasil cresce bem menos do que o mundo e do que seus parceiros e, com a perspectiva de recessão global, com desaceleração nos maiores parceiros comerciais do Brasil, Estados Unidos, China e União Europeia, será difícil acreditar no otimismo de Paulo Guedes. “Em alguns momentos, quando a situação era ruim no mercado externo, a economia brasileira conseguiu cair menos porque continuava vendendo para a China, para os EUA e para a Europa. Se esses parceiros entrarem em recessão, apenas o mercado doméstico não será suficiente para evitar uma crise”, frisou.
Piora nas projeções
Na semana passada, o Ministério da Economia atualizou suas previsões econômicas, elevando de 1,5% para 2% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e manteve em 2,5% a estimativa de expansão em 2023.
Contudo, as projeções do mercado para as contas públicas, inflação e taxa de juros estão piorando diante da péssima sinalização dada pelo governo e o Congresso com a aprovação da PEC Kamikaze e da expectativa de novos aumentos da taxa básica de juros (Selic), que devem ajudar a travar o crescimento do país no ano que vem. As novas projeções do boletim Focus, do Banco Central, para a inflação e para a taxa básica pioraram, apesar da leve melhora nas estimativas para o PIB e para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022.
Enquanto a mediana das projeções para o PIB deste ano passaram de alta de 1,59% para 1,75%, para 2023, a estimativa de crescimento de 0,50% não foi alterada. Já a mediana para o IPCA deste ano recuou de 7,67% para 7,54% e, para o do ano que vem, subiu de 5,09% para 5,20%. Em ambos os casos, a inflação oficial supera os tetos das metas anuais, de 5% e 4,75%, respectivamente.
Apesar de manterem em 13,75% as projeções para a taxa Selic deste ano, os analistas ouvidos pelo Focus aumentaram de 10,50% para 10,75% a previsão da taxa básica no fim do ano que vem, um péssimo sinal para a economia que terá o freio de mão puxado pelo BC que não consegue ancorar as expectativas de inflação para 2023, que mostram confirmam o descumprimento da meta pelo terceiro ano consecutivo – um enorme fracasso para a política monetária capitaneada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Correio Braziliense