Juros em queda

Em meio a marcha lenta da economia global juros caem e poden impulsionar investimentos

Uma semana depois do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertar para uma desaceleração do crescimento global, os mercados viram as taxas básicas de juros começarem a cair, numa tentativa dos bancos centrais de estimularem a economia. A expectativa é que o dinheiro “mais barato” impulsione o consumo e os investimentos.
Nas bolsas de valores, foi imediata a reação à decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de cortar a taxa de juros no país, poucos dias depois de expectativas sobre cortes de taxas na Europa também movimentarem negócios.

No entanto, apesar dos efeitos imediatos sobre o mercado financeiro, analistas apontam que as expectativas de juros mais baixos nas principais economias no mundo têm impactos também sobre a chamada “economia real” – incluindo no Brasil.

Taxas de juros mais baixas tendem a estimular o consumo e investimentos em produção – já que as aplicações financeiras passam a render menos e, portanto, se tornam menos vantajosas para investidores. Por isso, o corte costuma ser utilizado por bancos centrais em momentos em que a economia mostra necessidade de estímulos.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, aponta que o recente “ciclo de desaceleração da economia mundial”, somado aos temores sobre os efeitos da guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta – China e Estados Unidos – ajudam a explicar um cenário de juros mais baixos. “Essa preocupação é que está abrindo espaço para políticas de estímulo”, diz ela.

Já Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, aponta que o receio com a fraqueza da economia é um problema para o BCE, mas não necessariamente para o Fed. Ele diz que, para o banco central norte-americano, enquanto a economia do país vai bem, a decisão de cortar os juros vai na contramão do que rezam as regras da macroeconomia e segue apenas as pressões pelo comércio com a China.

“Na Europa, a atividade econômica ainda não ganhou tração, semelhante ao que acontece aqui no Brasil. Nesse sentido, há necessidade de estímulos adicionais. No caso americano, talvez seja um pouco mais de pressão até do presidente, porque a situação da economia, excluindo a questão da guerra comercial, é boa. Por isso, o Fed coloca boa parte da culpa, no seu discurso pós-decisão, exatamente na guerra comercial.”

O que isso tudo significa?

Para o mercado financeiro, juros mais baixos significam investidores buscando opções mais arriscadas em busca de rendimentos maiores, como o mercado de ações. No entanto, Latif aponta que esse não deve ser o único ponto de atenção.

“Agora, o mercado financeiro respira essa expectativa de juros mais baixos, mas tem que lembrar que o pano de fundo não é bom. É o corte de juros pela má razão: a economia está fraca, o mundo desacelera”, diz Latif. “O fato de o mundo estar desacelerando boa notícia não é.”

Vieira, por sua vez, comenta que, embora os juros estejam caindo por receios em relação à economia, os efeitos são positivos tanto para o mercado financeiro quando para a chamada “economia real”.

“Dada essa queda de juros em nível global, o apetite pelo risco acaba se tornando maior até para ativos da economia real. Ela acaba se tornando um alvo desses investimentos no momento”, diz Vieira.

Isso significaria que, enquanto as aplicações financeiras se toram menos vantajosas por causa dos juros mais baixos, investimentos em produção, por exemplo, podem se tornar mais atrativos.

Como fica o Brasil?

Nesta semana, também se vendo diante de um cenário de fraqueza da economia, o Banco Central do Brasil cortou a taxa básica de juros, a Selic, para 6% ao ano – e ainda sinalizou a possibilidade de mais cortes.

Da mesma maneira que ocorre com as economias avançadas com dificuldade de recuperação, no Brasil a expectativa é que esses juros menores estimulem o consumo e os investimentos, para ajudar na retomada.

Mas, além dos impactos da redução da Selic, analistas também discutem os efeitos que cortes de juros nos outros países devem ter por aqui. Eles tendem a ser positivos para os mercados financeiros, já que os países emergentes, que têm taxas de juros mais altas que os desenvolvidos, se tornam mais atraentes para investidores que buscam mais rentabilidade.

Vieira ressalta o potencial do Brasil para atrair investimentos, mesmo com a Selic caindo. “Nós temos a possibilidade de uma injeção de recursos em infraestrutura no Brasil enorme, o que seria um impulso na atividade econômica. Parte desse dinheiro global começa a girar extra juros”, diz.

Mas Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, comenta que apenas os juros mais baixos nas economias avançadas não podem ser vistos como a solução para o problema de atração de investimentos para o Brasil.

“A taxa de juro de retorno do Brasil ainda é alta em relação ao que o mundo oferece, e o mercado de consumo é um mercado pujante, com potencial grande. Só que isso ainda não deslanchou porque a gente tem internamente problemas fiscais que estão sendo superados. Para o investidor global, não é simplesmente os juros”, diz Agostini.

 

Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba